A poeta e ficcionista mineira será a décima mulher a integrar a  Academia Mineira de Letras. A cerimônia acontece no dia 8 de março, sexta, a partir das 20h, no auditório da AML para convidados, e será transmitida ao vivo, simultaneamente, nos canais da escritora e da Academia.  

Traduzida em sete línguas, a autora belo-horizontina é hoje um dos grandes nomes da literatura brasileira, em todo o mundo.

No dia 8 de março, sexta, a partir das 20h, será realizada a cerimônia de posse de Conceição Evaristo – nova integrante da Academia Mineira de Letras e uma das principais autoras da literatura brasileira, com produção constituída por poemas, contos, romances e ensaios, boa parte deles traduzida para o inglês, francês, árabe, espanhol, eslovaco e italiano. O evento, que acontece para convidados no auditório da AML, em Belo Horizonte, terá, pela primeira vez na história da Instituição, transmissão ao vivo nos canais do Youtube de Conceição Evaristo e da Academia.

Em 1963, Henriqueta Lisboa era a primeira mulher a ocupar uma cadeira na instituição. “Quem entra traz e incorpora algo novo à casa”, diz o presidente da AML, Jacyntho Lins Brandão. Conceição Evaristo sucede, na cadeira de nº 40, a também ensaísta, poeta, romancista e professora Maria José de Queiroz, falecida no ano passado. A vasta obra de Maria José, com cerca de trinta livros – inclui ensaios, poesias, contos e romances, entre os quais Joaquina, filha do Tiradentes” – que inspirou a novela “Liberdade, liberdade” (2016) da Rede Globo. “De Maria José para a Conceição. Por mais diferentes que sejam, são belo-horizontinas, professoras, doutoras, faz sentido que tenha essa continuidade”, comenta Brandão.

Desde a fundação da Academia Mineira de Letras, em 1909, já integraram a Instituição quase 200 membros, entre eles, nove mulheres. Ainda hoje permanecem em atividade as escritoras Elizabeth Rennó, Yeda Prates Bernis, Maria Esther Maciel e a vice-presidente Antonieta Cunha. Sobre a chegada de Conceição Evaristo, a vice-presidente comenta: “É um dos nomes mais expressivos da literatura contemporânea não apenas de Minas Gerais ou do Brasil, mas também da América Latina. E isso não se deve apenas ao fato de ela privilegiar temáticas das minorias: trata-se também da apurada criação de seu texto literário, seja romance, conto ou poesia, onde ela brilha igualmente. Não por acaso, está traduzida em tantas línguas e tem recebido tantos prêmios e homenagens, seja das ‘academias’, seja do público leitor, em geral. Ao elegê-la para uma de suas cadeiras, a AML nada mais faz do que, cada vez mais, trazer a qualidade e as diferenças para seus quadros”, destaca Antonieta.

De acordo com o presidente emérito da Academia Mineira de Letras, o jornalista e escritor Rogério Faria Tavares, a chegada de Conceição Evaristo e de Ailton Krenak, no último ano, também faz parte de um movimento mais amplo que as Academias de Letras têm realizado em todo o país, de diálogo entre a tradição e o contemporâneo. “O fenômeno literário, não está mais só nas universidades e nos extratos beneficiados pela renda. Ele acontece em todo lugar: nas periferias, nos quilombos, nos presídios, nas aldeias indígenas, por conta dessa potência e pluralidade de manifestações, resultando numa expansão do cânone. Para dar conta de incluir manifestações como Carolina de Jesus, Maria Firmina e tantas outras, tidas como ‘marginais’, e que agora são do ‘mainstreaming’, comenta.

Sobre Conceição Evaristo

Nascida na favela do Pindura Saia, na Região Centro-sul da capital mineira, a escritora belo-horizontina Ficcionista e ensaísta, a escritora teve sua primeira publicação em 1990 na série Cadernos Negros, antologia coordenada pelo grupo Quilombhoje, coletivo de escritores afro-brasileiros de São Paulo.

Suas primeiras obras individuais, Ponciá Vicêncio (2003) e Becos da Memória (2006) foram publicadas pela Mazza Edições; sendo seguidas por Poemas da Recordação e outros movimentos (2008) e Insubmissas lágrimas de mulheres (2011), ambos pela Editora Nandyala; as duas, editoras mineiras sediadas em BH.

As obras anteriores foram reeditadas, e até o momento, Conceição Evaristo, além da participação em várias antologias nacionais e estrangeiras tem as seguintes obras publicadas: Ponciá Vicêncio (Pallas); Becos da Memória (Pallas); Poemas da Recordação e Outros movimentos (Malê); Insubmissas Lágrimas de Mulheres: contos (Malê); Olhos d’água (Pallas); História de Leves Enganos e Parecenças (Malê).

As obras mais recentes são Canção para Ninar Menino Grande (Pallas) e Macabéa: flor de Mulungu (Oficina Raquel).

A escritora participa das antologias Cadernos Negros (Quilombhoje, 1990); Schwarze prosa e Schwarze poesie, (Alemanha, 1993); Moving beyond boundaries: international dimension of black women’s writing (1995); Women righting – Afro-brazilian Women’s Short Fiction, (Inglaterra, 2005); Finally Us: contemporary black brazilian women writers (1995); Fourteen female voices from Brazil, (Estados Unidos, 2002); Chimurenga People (África do Sul, 2007), Callaloo, vols 18 e 30 (1995, 2008), entre outras.

Sua produção é constituída de poemas, contos, romances e ensaios, em grande parte está traduzida para o inglês, francês, árabe, espanhol, eslovaco e italiano.

Em 2015, recebeu o Prêmio Jabuti na categoria contos e crônicas pelo livro Olhos D’água. Em 2017 recebeu o Prêmio Cláudia na categoria Cultura; já em 2018, o Prêmio Revista Bravo na categoria Destaque, o Prêmio do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra, o Prêmio Nicolás Guillén de Literatura pela Caribbean Philosophical Association e o Prêmio Mestre das Periferias pelo Instituto Maria e João Aleixo.

Em 2019, foi a grande homenageada do 61° Prêmio Jabuti como personalidade literária. Em 2023, foi agraciada com o Prêmio Juca Pato como Intelectual do Ano e laureada com o prêmio Elo no Festival Internacional das Artes de Língua Portuguesa.