DESDE 1922, A SERVIÇO DA
CULTURA DE MINAS GERAIS
Rogério Faria Tavares
editor da revista da academia mineira de letras
Fundada há mais de um século, quando o presidente da Casa de Alphonsus de Guimaraens e de Henriqueta Lisboa era o poeta Mário de Lima, a Revista da Academia Mineira de Letras acabou se tor- nando uma das publicações mais longevas do Estado, graças à tenacidade de seus editores e à nossa pujante cena literária. Especializada em revelar e em consagrar aqueles que se dedicam à arte da escrita, seja em prosa, seja em poesia, ela não se esqueceu de prestigiar os notáveis ensaístas e críticos que observam e estudam o que se faz no campo da literatura, dando a eles o devido espaço para a divulgação de suas ideias e pensamentos. Por tudo isso, consolidou-se como fonte indispensável de consulta e pesquisa, cada vez mais procurada pelos que se interessam pela história intelectual de Minas Gerais. Cumpre, dessa forma, múltiplas funções: deleita, entretém, informa e inspira.
Sintonizada com a evolução dos tempos, a Revista agora circula, igualmente, em versão digital. Sua coleção completa está à disposição do público, sem custos, no site da Academia Mineira de Letras (AML), na rede mundial de computadores, fazendo-se acessível, pois, a toda hora e nos mais distintos lugares, sem restrições de qualquer natureza. Ela não abandonou, no entanto, o formato impresso, tanto em respeito aos leitores que o preferem quanto por estar ciente da importância da “materialidade física” de seus volumes. Ela sabe ocupar seu lugar no tempo, mas também no espaço. É visível e presente na vida comunitária, disputando com perseverança, firmeza e altivez o tão espinhoso “mercado da atenção”, como se diz na atualidade. Expressão dos valores que justificaram a fundação da AML — a defesa da educação, da cultura e das artes, da história e da memória, da ciência e da democracia —, não recua um só milímetro de seus deveres sociais, de sua tarefa civilizatória, que executa com entusiasmo e renovada crença na contribuição que fornece à reflexão coletiva.
Com capa belamente concebida pela conceituada artista Niura Bellavinha e projeto gráfico, preparação de originais e revisão do ótimo Leonardo Mordente, o número 84 traz dois dossiês temáticos especiais. O primeiro, “Literatura e cidade natal”, idealizado a partir de sugestão do excelente jornalista Sílvio Ribas e organizado por mim, dedica-se a examinar as relações entre importantes escritores e os municípios em que nasceram, para entender como suas obras literárias guardam os rastros de tal origem. Em fascinante viagem, os leitores desbravarão diferentes paisagens — geográficas, históricas, sociais e culturais — em percurso que presta merecidas homenagens a Aiuruoca, Barbacena, Belo Horizonte, Cataguases, Curvelo, Diamantina, Divinópolis, Itabira, Juiz de Fora, Montes Claros e Sacramento.
O segundo homenageia o imenso Chico Buarque de Holanda no ano em que completa oito décadas de existência. Organizado pela professora Ana Maria Clark Peres e por mim, traz 13 ensaios de excep- cional qualidade, ampliando e diversificando a já extensa fortuna crítica que se ergueu em torno da obra do autor, cujo legado é de valor inestimável. Nome-síntese da vitalidade artística do País, do engenho e do rigor com que somos capazes de criar beleza, Chico alia tudo isso a uma dimensão ética e política que é impossível desconhecer. Divulgar seu trabalho entre o público de hoje, sobretudo entre as novas gerações, é providência de que nenhuma agência cultural pode descuidar.
O presente volume ainda publica os discursos de posse e de recepção e os textos de saudação do presidente Jacyntho Lins Brandão aos novos acadêmicos Ricardo Aleixo, Carlos Herculano Lopes e Paulo Sérgio Lacerda Beirão, reverenciando a vida institucional e a sua história. A memória do acadêmico e eterno presidente Olavo Romano também ganha o destaque que lhe cabe, por meio da publicação do texto da conferência que a professora Ivete Walty proferiu na sessão da saudade em que pranteamos a partida dele.
Afinal, a Academia Mineira de Letras é também a casa da recordação e da lembrança — elementos que alimentam a alma e nos dão forças para seguir em frente, sempre leais aos sonhos de nossos fundadores, enfrentando e superando todos os obstáculos que se apresentam à cultura no nosso país.