Número 82 Ano 101 2022

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APRESENTAÇÃO

Rogério Faria Tavares

presidente da academia mineira de letras

Fundada em 1922, quando o presidente da Academia Mineira de Letras era Mário de Lima, a Revista da aml venceu o desafio do tempo e as dificuldades sempre impostas no Brasil às realizações culturais. Centenária, ela permanece divulgando o melhor da literatura de Minas, promovendo seus criadores e revelando talentos. Agora também em versão digital, sua coleção completa está integralmente disponível, sem qualquer custo, no sítio eletrônico da Casa de Alphonsus de Guimaraens e de Henriqueta Lisboa, na rede mundial de computadores, garantindo a todos, onde quer que estejam, livre acesso a seus conteúdos. Afinal, de que vale o conhecimento que não é amplamente partilhado?

O volume que os leitores ora têm diante dos olhos se alinha ao
mesmo espírito investigativo, rigoroso e abrangente que pautou os
dois anteriores, igualmente movidos pela intenção de gerar obra de
referência e consulta. O de número 80 trouxe extenso dossiê sobre
as mulheres mineiras que se dedicaram à literatura, resgatando-as
da invisibilidade a que foram submetidas por décadas. Organizado
por Constância Lima Duarte e por mim, lançou de novo as devidas
luzes sobre obras tão importantes quanto as de Alexina de Magalhães
Pinto, Beatriz Brandão, Carolina Maria de Jesus e Maria Lúcia Alvim.
O 81 incluiu valioso estudo sobre as literaturas africanas em língua
portuguesa, coordenado por Nazareth Soares Fonseca e por mim,
cumprindo a necessária tarefa de torná-las mais conhecidas entre
nós. Lá figuram ensaios de alto nível sobre escritores de Angola, Cabo
Verde, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, oferecendo
ao público reflexão sofisticada sobre o trabalho de, entre outros,
Agostinho Neto, Vera Duarte, Odete Semedo, Paulina Chiziane e
Alda Espírito Santo. Outra seção fundamental da mesma publicação é a dedicada à poesia indígena de Minas Gerais, concebida por Maria
Inês de Almeida e pelo acadêmico Ailton Krenak, atual ocupante da
cadeira de número 24 de nossa instituição.
O número 82 rende o esperado tributo ao teatro produzido em
Minas Gerais, desde o século xviii, contribuindo para fortalecer a
fortuna crítica a respeito do tema. Terra de autores, diretores, grupos,
movimentos, atores, atrizes e técnicos respeitados e admirados em
todo o país, nosso estado precisava de um empreendimento editorial
que desse conta do denso e significativo patrimônio artístico que
fomos capazes de erguer no campo das artes cênicas. Organizado
pelo professor Marcos Alexandre e por mim, aqui agora ele está,
para ser útil a estudantes, professores e pesquisadores. Ou a todo
aquele que ama a arte de representar.
Com a imagem de capa do excelente Conrado Almada e texto de
orelha do professor Fernando Mencarelli, o volume 82 ainda conta
com o belo poema de abertura de Flávia de Queiroz e com a preparação
de originais, a revisão e o design gráfico do irrepreensível
Leonardo Mordente. Em gesto de apreço pela história da Academia,
do presente número igualmente fazem parte artigos sobre três dos
membros mais notáveis que passaram pelas suas cadeiras — Abgar
Renault, João Valle Maurício e Vivaldi Moreira —, de cujos legados
jamais será possível esquecer. Como é de praxe, no final do tomo se
relacionam as 40 cadeiras de que é composta a aml, mencionando
seus patronos e fundadores, além dos antigos e atuais ocupantes —
como forma de honrar a sua memória. O que seria de nós se não
fosse o trabalho das gerações que nos precederam? É dessa herança
potente que vem o nosso vigor para continuar, na reafirmação das
crenças que nos animam.
Minas e o Brasil apreciam e querem instituições culturais sólidas,
longevas, que resistam aos ventos e às tempestades, sempre
na defesa dos valores definidores da Civilização Humana: a
Educação, a Cultura, a Ciência, a Democracia, as Letras e as Artes.
Seguiremos em frente.