Número Especial: Dossiê Academia Mineira de Letras 110 anos - 1909 - 2019 Ano 98 Dezembro 2020

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Nos 60 textos que compõem este número especial pelos 110 anos da Academia Mineira de Letras – agora em papel –, o leitor vai encontrar um panorama exemplar dessa organização centenária. Número aberto com a qualificada apresentação do seu atual presidente, Rogério Faria Tavares, ele se divide em cinco seções:“Sobre a Academia”,“Sobre os acadêmicos”, “Homenagens”, “Sessões da Saudade” e “Discursos de recepção e posse”.

Cada texto, ao falar da Academia Mineira de Letras ou de seus respectivos acadêmicos – ressaltando-se que boa parte dos autores a ela pertence –, está na verdade falando muito mais que sobre um instituto cultural fundado em 1909 e de seus membros, através dos tempos. Os escritos desta revista se integram numa plataforma de cultura condizente com os princípios da história das academias. Vejamos.

Foi a partir de 1440, no Alto Renascimento italiano, quando se fundou a Academia Platônica Florentina, que o termo “academia” começou a abranger as instituições culturais extrauniversitárias. Sua finalidade passou a ser também o contato entre pessoas para a troca de ideias relativas às diversas disciplinas humanísticas, aí incluída a ciência. Assim, se, por um lado, o vocábulo “academia” remete genericamente a “mundo intelectual/científico”, por outro lado, a sua função institucionalizada é o fomento de uma atividade específica – as letras, no caso.

Daí o lema latino desta academia mineira, Scribendi nullus finis, “Escrever não tem fim”, ícone de sua revista, rodeado pelo louro heroico e bordado no belo manto que envolve o seu púlpito. Inscrição sábia, pelas interpretações que permite: sempre escrever, escrever e reescrever buscando a melhor escrita, escrever sem finalidade,

ou seja, sem compromissos outros que não consigo mesmo; escrever por amor ao ofício, por catarse, por interação, para realizar-se, pela necessidade de comunicar-se, expressar-se, sentir-se sujeito ou persona. E – por que não? – praticar prazerosamente escritas sob convite ou encomenda, ou mesmo desconhecendo seus porquês e para quês. Interpretações sem fim, na eterna escrita até enquanto ato de heroísmo.

Dessa maneira são formatados os textos da revista: homens e mulheres de profissões as mais diversas, acadêmicos e não acadêmicos, todos eles empenhados em colaborar com essa celebração através de suas melhores escritas. Certamente nelas buscaram imprimir o máximo de suas capacidades intelectuais, ratificando que, em 110 anos, a Academia Mineira de Letras tem cumprido a missão de fomentar e divulgar a cultura, apesar do período anticultural em que vive- mos. Escreveram não só para ser lidos, mas também na esperança de que, se scribendi nullus finis, a anticulturalidade possa estar com seus dias contados.

 

Letícia Malard

Professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais