Boa noite a todos.
É com prazer e, sobretudo, com alegria, que ocupo essa tribuna virtual hoje, Dezessete de maio, para pronunciar o discurso de posse como presidente da Academia Mineira de Letras no biênio 2021- 2023.
Se não fosse a terrível pandemia que ora nos agride, estaríamos todos juntos na sede da Rua da Bahia, em agradável confraternização, leais ao chamado ‘espírito acadêmico’, que incentiva a convivência amena e fraterna entre os membros de nosso grêmio. Em respeito, no entanto, à Ciência, à razão e ao bom senso, seguimos rigorosamente, desde março de 2020, todos os protocolos sanitários definidos para o enfrentamento sereno e adulto do mal que hoje nos ataca.
Pois bem.
Agradeço, inicialmente, a confiança recebida, na eleição da semana passada, dos membros da Casa de Alphonsus de Guimaraens e de Henriqueta Lisboa. Sem o decidido apoio desse colegiado tão qualificado, não me animaria a prosseguir, por mais dois anos, na direção da AML, posição tão honrosa quanto desafiadora. Ninguém ignora como é difícil administrar um centro produtor e difusor de saberes, sobretudo na atualidade, quando os valores humanistas seguem sendo tão menosprezados.
Também manifesto gratidão aos acadêmicos que, generosamente, acolheram o meu convite para compor a chapa “Academia Mineira de Letras, presente: hoje e sempre”. São eles, na diretoria: Caio Boschi, vice-presidente; Jacyntho Lins Brandão, secretário geral; Luís Giffoni, tesoureiro. No Conselho Fiscal: Antenor Pimenta, Márcio Sampaio e Patrus Ananias. No Conselho Editorial da Revista: Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, Manoel Hygino dos Santos e Wander Melo Miranda. No Conselho do Acervo Bibliográfico e Documental: Amílcar Martins Filho, Caio Boschi e Jacyntho Lins Brandão.
Igualmente externo meu ‘muito obrigado’ ao presidente emérito Olavo Romano, que decidiu não integrar, no próximo biênio, a diretoria da Casa, onde atuou, até ontem, como Tesoureiro. Foi um privilégio tê-lo conosco entre 2019 e 2021. Dos seus sábios conselhos, entretanto, nunca abrirei mão. Não há como liderar uma entidade mais que centenária sem recorrer ao legado dos que me antecederam ou sem debruçar-se, detidamente, sobre a sua história rica e complexa.
Gestada na progressista cidade de Juiz de Fora, na Zona da Mata, a Academia Mineira de Letras finalmente veio ao mundo em 1909, transferindo-se para Belo Horizonte seis anos depois. Conquistando sua primeira sede própria no final da década de quarenta, sob a presidência de Heli Menegale, ela só obteria sua morada definitiva – o Palacete Borges da Costa – em 1987, graças à tenacidade de Vivaldi Moreira, que, sete anos depois, inaugurou o prédio anexo, projetado pelo arquiteto Gustavo Penna.
Guardiã das melhores tradições de Minas Gerais, a AML venceu o século vinte e chegou aos cento e onze anos fiel aos sonhos de seus idealizadores, em atitude sempre aberta ao diálogo com o seu tempo e atenta à complexidade do fenômeno literário, de que são provas a sua programação contemporânea, relevante e despida de qualquer preconceito e a sua intensa presença na internet e em redes sociais como o facebook, o instagram e o you tube, para onde migrou suas aulas semanais, de conteúdo inédito e exclusivo, desde que precisou fechar seu auditório, há mais de um ano, por conta do corona vírus. Seu vigor e sua vivacidade, porém, mesmo a partir do ano passado, já sob a pandemia, revelaram-se impressionantes. A Casa não se deixou abater um minuto sequer.
Ao longo do último biênio, foram muitas as suas atividades e realizações, entre as quais, ainda no final de 2019, a linda festa com que marcou seu aniversário de 110 anos, na presença, entre outros, do professor Marco Lucchesi, presidente da Academia Brasileira de Letras, a Casa de Machado de Assis.
A respeito de tudo o que foi feito, presto contas, agora.
Entre 2019 e 2021, celebramos parcerias culturais com vinte e três instituições. Isso mesmo, vinte e três. Leio a lista completa, reiterando a honra que a associação com cada uma delas proporcionou à Casa. Vamos lá: Assembleia Legislativa de Minas Gerais; Tribunal de Justiça de Minas Gerais; Embaixada da França; Consulado de Portugal; Universidade de Lisboa; Universidade Federal de Minas Gerais; Núcleo de Estudos Judaicos da UFMG; Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, por meio do Centro de Estudos Luso Afro Brasileiros, o CESPUC; Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, o CEFET; Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais; Arquivo Público Mineiro; Biblioteca Pública Estadual; Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, o BDMG; Aliança Francesa; Escola Brasileira de Psicanálise, Seção Minas Gerais; Câmara Mineira do Livro, por meio da Bienal Mineira do Livro e da Festa do Livro na Rua, a Flir; Editora Autêntica; Quixote mais Dô Editoras Associadas, igualmente por meio da Flir; Festival de Poesia de Lisboa; Associação Vertentes; Hildebrando Pontes advogados associados; José Anchieta da Silva Advogados Associados, e Rede Globo de Televisão.
Menciono, ainda, e muito especialmente, a relação com a AMIGOS, a Associação dos Amigos da Academia, presidida pelo operoso e dinâmico jurista José Anchieta da Silva, nosso benfeitor, atual presidente da Associação Comercial e Empresarial de Minas. Sua presença constante e sua enorme dedicação às causas da AML foram fundamentais para o sucesso do nosso primeiro mandato.
Agradeço, com ênfase, aos nossos patrocinadores: a Cemig (Centrais Elétricas de Minas Gerais), a Unimed-BH e o Instituto Unimed, e a Tambasa. Sem eles, não teria sido possível fazer o que fizemos.
Entre os diversos projetos empreendidos no curso dos últimos dois anos, sublinho a Exposição em homenagem ao dramaturgo João das Neves; a produção e a veiculação de vinhetas sobre onze acadêmicos, na Rede Globo, no ensejo dos cento e dez anos da Academia; a série de palestras no âmbito do Biênio da Língua Portuguesa, efetivada com o apoio do Consulado de Portugal e do CESPUC; o projeto ‘Lacan na Academia – conversando com a Literatura’, com a Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Minas Gerais, e a concepção do programa “Vozes Poéticas de Minas”, a pedido do Tribunal de Justiça, com estreia prevista para junho desse ano.
Com o apoio decisivo da Assembleia Legislativa, por meio de seu presidente Agostinho Patrus, e graças à intervenção do acadêmico Patrus Ananias, foi possível editar o número 79 da Revista da Academia, com mais de seiscentas páginas, sessenta ensaios, capa do acadêmico Carlos Bracher e texto introdutório de Letícia Malard, professora emérita da UFMG.
Junto com a excelente Autêntica Editora, dirigida, com brilho, por Rejane Dias dos Santos, a Academia lançou o livro “20 contos sobre a pandemia de 2020”, uma coletânea de duas dezenas de histórias sobre a peste escritas, ‘a quente’, pelos mais talentosos ficcionistas mineiros da atual geração. Sucesso de público e de crítica, a publicação foi uma contribuição da instituição para o entendimento do dramático momento vivido hoje pela espécie humana, além de um gesto de valorização da produção literária do estado, um de seus mais importantes deveres.
Ainda no campo das publicações, foi decisivo o apoio da AML, por meio do acadêmico Ronaldo Costa Couto, para o lançamento de “Uma vida quase perfeita”, biografia da escritora Lúcia Machado de Almeida, editada por José Eduardo Gonçalves e escrita por Régis Gonçalves.
Em 21 de abril desse ano, a Academia iniciou o projeto “22 entrevistas no Bicentenário da Independência”. Ele irá até o 7 de setembro do ano que vem. Na intenção de formar, sobre o assunto, repertório rico e acessível a todos, serão ouvidos – em seu canal no you tube – os mais importantes historiadores e jornalistas que pesquisaram a Independência, e, num segundo momento, os críticos literários que estudaram o modo como a nação brasileira foi retratada pela Poesia e pela Prosa de Ficção.
Igualmente no campo das ações educativas, a Academia lançou a plataforma virtual “AML Cursos”, por meio da qual ofereceu oficinas, aulas e ciclos de formação em assuntos do interesse da comunidade, de que foram exemplos o curso “Mitologia Comparada: as origens do mundo e da Humanidade nos mitos gregos e médio orientais, proferido pelo acadêmico Jacyntho Lins Brandão (sem nenhum custo para a Academia), e o curso “Retórica e Literatura”, proferido pelo professor Ivan Capdeville Jr.
Na mesma dimensão, a Academia ainda apoiou e sediou o Quarto Fórum sobre a Formação e a Atuação Profissional do Revisor de Textos.
No campo da promoção literária, organizou o Concurso de Crônicas da Unimed BH e editou o livro comemorativo de seu primeiro cinquentenário.
O acervo bibliográfico e documental da Academia também foi tratado com o máximo rigor e nos melhores padrões. Já são perto de trinta mil os itens inventariados até o momento. Todos estão, agora, em processo de organização e tratamento. O programa de digitalização continua acelerado. Já conseguimos gerar os arquivos eletrônicos de 45 volumes da Revista da Academia, da totalidade dos discursos de posse e de toda a correspondência passiva do acadêmico Eduardo Frieiro. Por meio de convênio com a Biblioteca Pública Estadual, as informações sobre nossos livros, cartas e documentos integram base de dados aberta à consulta pública, o que favorece o estudo e a pesquisa sobre os seus conteúdos. Somente no último biênio, com o auxílio de uma equipe de estagiários da UFMG, da PUC Minas e do CEFET, catalogamos nesse Sistema, o Pergamum, cerca de cinco mil títulos. O total catalogado até agora, desde o começo do acordo com a Biblioteca, é de sete mil e quinhentos títulos.
No campo das providências administrativas, e graças à iniciativa da nossa Associação de Amigos, foi possível instalar estantes deslizantes para a melhor acomodação dos livros no subsolo do Palacete Borges da Costa.
A reorganização dos fornecedores de telefonia e de internet resultou na melhoria dos serviços e na redução dos custos.
Devidamente credenciada, a Academia agora faz parte do programa “Google for Non Profits”, criado para atender às organizações sem fins lucrativos. Isso permitiu à AML receber, gratuitamente, ferramentas extremamente úteis para a gestão da entidade, a segurança e a proteção de seus dados e o incremento de suas plataformas educativas.
A modernização do sistema de alarme e monitoramento da segurança da Casa também deu mais tranquilidade a seus gestores, funcionários e visitantes.
A completa regularização e a eficiente organização de toda a documentação contábil da Academia, a revisão e a atualização dos contratos com seus fornecedores foram outros atos dignos de registro, bem como o agrupamento de todas as suas contas bancárias no Banco do Brasil.
Finalmente, a exitosa implantação de novos sistemas hidráulico e elétrico no Palacete Borges da Costa garantiu a modernização do prédio e sua adequação às exigências técnicas necessárias ao seu bom funcionamento. Estes novos sistemas, é bom frisar, só foram instalados, graças, mais uma vez, à Associação de Amigos da Academia.
No campo da Comunicação, os resultados são impressionantes. Em dois anos, a Academia alcançou a expressiva marca de duas mil quinhentas e quinze inserções espontâneas em jornais, revistas, rádio e tevê.
No Instagram e no facebook, no último biênio, atingimos 588.203 pessoas.
Os números do you tube são notáveis. Tínhamos 104 seguidores em 2019. Hoje, eles são 2.260. As visualizações de nossos vídeos já chegam quase a quarenta mil. Por conta disso, a Academia poderá ingressar, em breve, no programa de monetização organizado por essa rede social.
Contas prestadas, é hora de agradecer, com entusiasmo, à diretora-geral da Academia, Maria Inês Nora Rabelo, pelo seu trabalho competente, sério, compromissado e sempre incansável; e também de registrar o zelo e o capricho com que igualmente trabalham pela AML os estimados Flávia Queiroz, Guto Cortes, Marcela de Lazari, Soraia Lara, Júlia Saback, Carmen Elizabeth Moura dos Santos, Deivison Moreira e todo o aguerrido time de estagiários.
Quero celebrar, ainda, com satisfação, a chegada ao nosso convívio, nos últimos dois anos, dos acadêmicos Wander Melo Miranda, José Fernandes Filho, Jota Dangelo, Ibrahim Abi-Ackel e Maria Esther Maciel. Que sejam, todos eles, muito bem-vindos. Tenho a certeza de que darão contribuição inestimável aos destinos da Academia, cada um a seu modo, de acordo com seus talentos e habilidades.
Afinal, da soma e da multiplicação dos dons e da experiência de seus membros é que uma instituição como a nossa chega à plenitude de suas forças, todas devotadas às causas da Civilização, da Educação e da Cultura, especialmente das Letras e das Artes. São sempre elas que nos motivam a seguir em frente, altivos e ativos, firmes e destemidos na defesa dos valores que precisamos preservar, hoje mais que nunca, contra a boçalidade, a ignorância, a truculência e a barbárie.
Assim prosseguiremos, pelos dois próximos anos, com a ajuda da inteligência, da boa vontade, da reta intenção e do trabalho de todos.
Muito obrigado!