Ocupante da cadeira de número 39 da Academia Mineira de Letras (AML), eleito na sucessão do saudoso professor Edgar da Mata-Machado, Patrus Ananias dedicou sua vida profissional ao direito, tanto como servidor da Assembleia quanto como professor da PUC Minas. No parlamento estadual, foi pesquisador na Escola Legislativa. Na universidade, foi presidente do Instituto Jacques Maritain e o diretor de sua editora. Estudioso, sua dissertação de mestrado intitulou-se “Processo Constitucional e devido processo legal na Constituição de 1824”. Muito conhecido por sua atuação política, foi vereador em Belo Horizonte (quando relatou a Lei Orgânica do município) e prefeito da Capital, quando investiu fortemente no campo da cultura (a secretária da pasta era a acadêmica Antonieta Cunha, em cuja gestão a cidade ganhou o Festival Internacional de Teatro e o Festival de Arte Negra, entre outros importantes eventos). No plano federal, ocupou o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e, posteriormente, o do Desenvolvimento Agrário. Em seu terceiro mandato como deputado federal, tem atuação respeitada por colegas de todos os partidos.

Caso raro de intelectual na política brasileira, é autor de textos fundamentais para a compreensão da realidade social do país. Como relembra Bernardo Novais da Mata-Machado, no volume de número 80 da Revista da AML, alguns dos artigos de Patrus foram reunidos em livros como “Em nome da vida”, de 1994, apresentado por Luiz Dulci, e “Brasil: uma nação em busca de si mesma”, de 2003. Agora, o acadêmico oferece aos leitores seu novo livro, “Reflexões sobre o Brasil”, volume em que aborda temas como as Políticas Sociais, a Soberania Nacional e o Estado Democrático de Direito, a Educação e a Literatura.

A seção dedicada à arte literária começa com “Sertão – a forte palavra”, em que Patrus Ananias reflete sobre “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, obra por ele qualificada como “oceânica, inesgotável. Além de ser um esplêndido, clássico romance inserido na mais histórica e elevada tradição do gênero (…)”. O segundo texto é “Machado de Assis e a escravidão”, em que o autor focaliza, sobretudo, os romances “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Memorial de Ayres”, e o conto “Pai contra mãe”, que merece o seguinte comentário: “’Pai contra mãe’ coloca-nos o dramático problema das escolhas em uma sociedade em que convivem e conflitam a escravidão e a pobreza dos que são considerados livres. Aqui, não é o escravo que introjeta o seu opressor e quer ser igual a ele. Aqui, é o pobre que é assimilado e para sobreviver serve à ordem social vigente. No contexto da escravidão e de uma ordem social iníqua, ele, o pobre, é levado por fatores econômicos a submeter-se e dar sua colaboração ao sistema dominante. Ou colabora ou morre de fome (…)”

Já na parte relativa à educação, Patrus tece reflexão essencial: “A educação configura-se, a rigor, como uma política pública especial. Ela se faz presente em duas dimensões: é um direito fundamental da pessoa humana e um bem essencial ao desenvolvimento comunitário. Nenhum Estado realiza o seu projeto nacional de promover o bem comum do seu povo sem uma ampla base no conhecimento e no saber, onde a educação se articula com a história, a cultura, as artes, a pesquisa científica e tecnológica”.