É com imenso pesar que comunicamos o falecimento de Benito Barreto, ocupante da Cadeira 2 da Academia Mineira de Letras (AML), nesta segunda-feira, dia 17 de março de 2025. Escritor, jornalista e editor, Benito construiu uma obra literária vigorosa, marcada pelo compromisso com a história, a política e a cultura de Minas Gerais. Benito Barreto nasceu em 17 de abril de 1929, na cidade de Dores de Guanhães, nordeste de Minas Gerais, e tomou posse como acadêmico da AML em 11 de dezembro de 2014, na sucessão de Soares da Cunha (1921-2013), na cadeira que leva Arthur França (1881–1901) como Patrono. O velório do intelectual acontece no dia 18 de março, de 11h às 15h, na Academia Mineira de Letras (rua da Bahia, 1466 – Centro, Belo Horizonte).

Em sua obra literária, destaca-se a tetralogia “Os Guaianãs”, formada pelos livros “Plataforma vazia” (1962), “Capela dos homens” (1968), “Mutirão para matar” (1974) e “Cafaia” (1975). A tetralogia, já em sua 3ª edição, recebeu diversos prêmios, foi objeto de teses e dissertações, teve dois de seus volumes traduzidos para o russo e publicados na antiga União Soviética em 1980, com tiragem de 100 mil exemplares. A obra foi reeditada em dois tomos pela editora Mercado Aberto, de Porto Alegre, em 1986.

“Benito Barreto foi das vozes mais potentes da literatura brasileira. Sua presença entre nós segue sendo motivo de honra para a Academia Mineira de Letras, na qual figura entre os romancistas. A partir de Plataforma vazia, romance com densidade dostoievskiana, seu percurso de hábil narrador teve sequência na tetralogia ‘Saga do caminho novo.  Homem de visão, que acompanhou de perto os acontecimentos do século anterior e das primeiras décadas do atual, ele soube impregnar esta casa com sua cordialidade no trato e sempre disponível amizade”, lamentou Jacyntho Lins Brandão, atual presidente da Academia Mineira de Letras. “A convivência com Benito nos fará muita falta. Agora, é hora de honrar a sua memória e o seu lindo legado”, completa Rogério Faria Tavares, acadêmico e Presidente Emérito da AML. 

Barreto publicou ainda “Vagagem” (1978), que se apresenta como um livro de “viagens e memórias sem importância”; “A última barricada” (1993), romance em folhetins improvisados, que reúne colunas publicadas no jornal Estado de Minas e anotações inéditas, em que ainda ressoam temas e personagens de “Os Guaianãs”; e “Um caso de fidelidade” (2000), que reflete as incertezas do mundo globalizado e pós-ideológico que se sucede à derrocada do socialismo. 

Seus livros mais recentes são “Os idos de maio” (2009), “Bardos e viúvas” (2010), “Toque de silêncio em Vila Rica” (2011) e “Despojos: a festa da morte na Corte” (2012), que compõem a tetralogia “Saga do Caminho Novo”. Em 2010, 2011 e 2012, a “Saga” recebeu prêmios concedidos pela diretoria da União Brasileira de Escritores, seção Rio de Janeiro (UBE-RJ), como melhor romance histórico do ano.

Sua dedicação às letras e à memória de Minas permanecerá como um legado fundamental. A Academia Mineira de Letras expressa suas condolências aos familiares e amigos. Benito Barreto será sempre lembrado por sua trajetória inspiradora e por sua inestimável contribuição à cultura mineira e brasileira.

Sobre Benito Barreto

Benito Barreto nasceu em 17 de abril de 1929, na cidade de Dores de Guanhães, nordeste de Minas Gerais. Em 1943, ingressa no Ginásio São Francisco, de Conceição do Mato Dentro, onde começa a escrever poesias. Em 1945, muda-se para Belo Horizonte, para estudar no Colégio Estadual. Na cidade, começa a trabalhar como revisor na Folha de Minas e tem o primeiro contato com as obras e referências fundamentais do socialismo. Decide abandonar os estudos e o emprego para se dedicar ao Jornal do Povo e ao Partido Comunista Brasileiro.

Após conflitos e embates com opositores políticos e a polícia, Benito é enviado pelo Partido Comunista para a Bahia. Trabalha no jornal O Momento, em Salvador, e, depois de algum tempo, passa a atuar no interior do Estado, clandestinamente. Após quatro anos, uma pleurite faz com que Benito se afaste da linha de frente da militância para se tratar.

No início da década de 1950, Benito retorna a Belo Horizonte e trabalha em diversos jornais da Capital, como Correio do Dia, Correio da Tarde e Tribuna de Minas. Passa também a contribuir com o jornal de cultura Horizonte, onde publica suas primeiras crônicas. Em 1954, Benito se casa com a estimada Iracema de Faria.

Dois anos depois, funda uma revista técnica voltada para a indústria da construção civil, Informador das Construções. Ao completar 30 anos, Benito decide retomar os esforços no campo da literatura e começa a trabalhar em seu primeiro romance. Plataforma vazia foi lançado em 1962 e recebeu o prêmio Cidade de Belo Horizonte. Após a publicação, Benito ingressa no curso de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, que abandona, depois de dois anos, para se dedicar a seu segundo livro.

Capela dos Homens recebeu o premio Walmap e foi lançado em 1968. O livro retoma o personagem principal de Plataforma vazia e tem continuidade com Mutirão para matar (1974) e Cajata (1975), formando a tetralogia Os Guaianãs. Em 1971, Benito monta uma gráfica e funda a Editora Casa de Minas, responsável pela produção de Informador das construções, do suplemento de arquitetura Vão livre, de livros – seus e de outros autores – e também de jornais e impressos diversos para terceiros.

Em 1978, lança Vagagem, em que mistura relatos de sua viagem pela Europa e pela União Soviética e casos de sua infância e adolescência. Em 1980, a editora Progresso traduz para o russo e publica, na União Soviética, os livros Capela dos Homens e Cafaia, com tiragem de 100 mil exemplares. Em 1986, a tetralogia Os Guaianãs é reeditada pela editora gaúcha Mercado Aberto. Em 1993, Benito lança A última barricada, coletânea de crônicas publicadas no jornal Estado de Minas e anotações inéditas, em que retoma personagens de Os Guaianãs. Em 2000, publica Um caso de fidelidade, romance que retrata um conturbado caso de amor em meio à desilusão que se segue à derrocada do comunismo.

Benito começa, então, a dedicar-se às pesquisas sobre a Inconfidência Mineira, para sua nova tetralogia, Saga do Caminho Novo, com leituras e viagens pelo interior do Estado. O primeiro volume, Os idos de maio, foi publicado em 2009 e seguido por Bardos e viúvas (2010), Toque de silêncio em Vila Rica (2011) e Despojos: a festa da morte na Corte (2012). A Saga recebeu, por três anos consecutivos (2010, 2011 e 2012), os prêmios de melhor romance histórico do ano, concedido pela União Brasileira de Escritores – seção Rio de Janeiro.

Em 2018, publicou, pela Academia Brasileira de Letras, em sua Revista Brasileira nº 96, “Rios e Riobaldos”, texto de sua conferência ali proferida, por ocasião do Ciclo Guimarães Rosa. Ao longo de sua carreira, Benito Barreto foi agraciado com medalhas – entre outras, a Grande Medalha da Inconfidência –, comendas e outros títulos e honrarias.