A felicidade é um prato descomplicado de fazer. É verdade que leva muitos ingredientes, pode custar caro, admite variações, às vezes demora para ficar pronto, muita gente jura que o inventou, mas cada um de nós possui talento inato para alcançar as três estrelas do Michelin. É fácil.
Adicione sempre um pouco de desejo à receita. Sem desejo, o prato perde a atração. Preocupações exageradas põem tudo a perder. Cultura e conhecimento podem ser usados à vontade, senão não se aproveita todo o paladar. A Lua deve entrar no tempero, para o cheiro subir ao espaço. A natureza também, para se apurar o gosto da vida. Nada como polvilhar sobre o molho o canto do sabiá ou do pintassilgo, como preferir. Providência simples, que acrescenta doçura. Poesia também entra no preparo. Substitui o sal, quando vem das entranhas.
A base, no entanto, continua você mesmo, suas escolhas, suas preferências, seus próprios ingredientes. Você decide o que usar e, ao servir-se, será o supremo juiz. Chame os amigos e os parentes para ajudá-lo na cozinha. Eles realçam as delícias da sua receita.
Importante: não se esqueça do ponto. Retire do fogo na hora certa. Tem gente que esperou tanto o prato ficar pronto que morreu antes. Com fome.
Por Luís Ângelo da Silva Giffoni, ocupante da cadeira nº 33 da Academia Mineira de Letras.