Impossibilitada de realizar suas costumeiras e concorridas reuniões como de praxe, em virtude da Covid – que nos impede de viver o cotidiano como desejado –, a Academia Mineira de Letras não se deu por vencida, como sua resistência histórica, pois o sodalício já passou de 115 anos de fundação.
Para dizer presente e não faltar aos seus princípios, a Academia decidiu, neste período da terra em transe, convidar os escritores das Minas para elaborar contos que focalizassem a pandemia, formando uma antologia a ser lançada ainda neste 2020. Organizada pelo seu presidente, Rogério Faria Tavares, e com selo da editora Autêntica, o volume será lançado no dia 28 deste novembro, num sábado, entre 10h e 14h, na sede da entidade, na rua da Bahia, obedecidas as normas sanitárias para eventos do gênero.
Participam da iniciativa vinte autores mineiros, que registram suas percepções sobre a pandemia no gênero conto, descrevendo os sentimentos nestes meses já decorridos, as perspectivas à frente (porque a praga não se vai tão cedo), os sentimentos dos escritores, suas vivências e peculiaridades do momento, que já se tornou uma página dramática de nossa História e em proporções altíssimas. Basta conhecer os números divulgados diariamente.
Para Rogério Faria Tavares, transformar em palavras o que o mundo inteiro viveu nos últimos meses foi a tarefa aceita pelos vinte escritores, condenados ao isolamento como mandam os médicos, as autoridades e os técnicos. Quem não o fez pode ter-se dado ou está mais propensos a sê-lo, porque o mal não foi superado.
Entre os escritores que se dispuseram à tarefa estão Ana Elisa Ribeiro, Carla Madeira, Carlos de Brito e Mello, Carlos Herculano Lopes, Cristina Agostinho, Cidinha da Silva, Cris Guerra, Eliana Cardoso, Francisco de Morais Mendes, Frei Betto, Ivan Ângelo, Jacyntho Lins Brandão, Jacques Fux, Luis Giffoni, Olavo Romano, Laura Cohen, Paula Pimenta e Stela Maris Rezende, gente que sabe o que dizer e, certamente, muito disse em seus contos.
Para o organizador, “a seleção dos nomes consagrou o princípio da diversidade, em toda a sua extensão. O time reunido é absolutamente heterogêneo, abrigando representantes de gerações, origens, trajetórias e estilos bem distintos, providência capaz de dotar a coletânea de caráter abrangente, inclusivo e, por isso, democrático”. A orelha é assinada pelo jornalista e escritor José Eduardo Gonçalves e dedicada à memória de dois dos maiores contistas brasileiros, ambos falecidos em 2020: Rubem Fonseca e Sérgio Sant’Anna.
Os escritores da publicação da Academia Mineira de Letras terão pensado, talvez, como Juvenal Caldeira Durães, da entidade de Montes Claros: “Acredito que este momento de crise não surgiu por acaso. Surgiu da necessidade de darmos um tempo a nós mesmos, à correria sem sentido, às coisas sem valor e supérfluas que agora mais do que nunca não têm a mínima importância”.
Texto publicado no site do Jornal Hoje em Dia – 24/11/2020.