No dia 13 de março de 1964, o desmiolado presidente João Goulart, o Jango, latifundiário que se rendia aos comunistas para realizar “reformas de base”, discursou em um comício na Avenida Presidente Vargas, no Rio. O País vivia grave crise gerada pelo confronto entre esquerda e direita. Faixas com palavras de ordem contra as instituições nacionais estimularam o desqualificado Jango a carregar no verbo raivoso. O palanque de onde verberou fora montado entre a estação da Central do Brasil e o Ministério da Guerra (como era chamado o Ministério do Exército). Jango incitou o populacho de esquerda a desafiar a legalidade democrática. Dezessete dias depois, um golpe militar o tirou da Presidência.
Neste domingo, em meio à crise que vivemos, o populacho de direita se reuniu diante do Quartel-General do Exército em Brasília. O presidente Bolsonaro liderou a manifestação. Faixas com bordões com o sinal ideológico contrário aos de 1964 incitaram o presidente a perorar. Ele, mesmo tossindo várias vezes, atendeu ao reclamo do grupo inconformado com as restrições impostas pela pandemia e apoiou o confronto com os poderes constituídos.
É penoso para os democratas que têm memória fazer a comparação entre os dois eventos políticos, até porque em 1964 era uma multidão que, na Avenida Presidente Vargas, aplaudia o demagogo do palanque, enquanto no domingo não eram mais de duzentas pessoas aqueles que confrontaram o ordenamento sanitário e constitucional e se aglomeraram para ouvir a peroração de Bolsonaro.
Os democratas rejeitam essa grave e intranquilizadora referência histórica. Porém, não há como deixá-la ao esquecimento, pois, lá dizem os sábios, a História se repete com frequência na vida das nações.
Bolsonaro e os seus seguidores fazem ouvidos moucos à nova realidade planetária: a ideologia que está prevalecendo no mundo da pandemia não é mais de ordem política, mas sanitária. O nome dessa nova ideologia é Ciência. Os atores principais não são mais os políticos, mas os médicos, enfermeiros, os homens de avental branco dos laboratórios e da indústria farmacêutica.
Ninguém em sã consciência democrática deseja que Bolsonaro se converta num Jango da direita.
Os democratas rejeitam o golpismo de que foi vítima o incompetente João Goulart. Há métodos constitucionais operativos que devem ser obedecidos, assim como os doentes obedecem ao receituário ministrado pelos heróis da nova ideologia, os homens e mulheres da Medicina e da Enfermagem.