Conhecido como o mês da mulher, março oferece a todos a oportunidade privilegiada de destacar a trajetória de pelo menos algumas delas, como temos feito, no âmbito da Academia Mineira de Letras, com relação às escritoras, em uma série de eventos especiais. O primeiro deles foi dedicado à memoria de Maria Helena Cardoso, mineira de Diamantina e memorialista de dicção sofisticada, como provou no belo “Por onde andou meu coração”, publicado quando já era uma mulher madura. Em exposição de alto nível, Maria Inês Marreco falou sobre a escritora com o rigor de quem redigiu apurada tese de doutorado sobre ela. O segundo evento foi sobre Henriqueta Lisboa, eleita para a Casa de Alphonsus de Guimaraens em 1963, em movimento pioneiro, depois trilhado por outras intelectuais de conhecida qualidade, como Maria José de Queiroz, Lacyr Schettino, Carmen Schneider Guimarães, Yeda Prates Bernis, Elizabeth Rennó e a irmã de Henriqueta, Alaíde Lisboa. A sessão dedicada à poeta foi protagonizada pelos dois professores que organizaram suas obras completas, agora lançadas pela Editora Peirópolis: Reinaldo Marques e Wander Melo Miranda, atual ocupante da cadeira de número 7.
A terceira mulher homenageada pela AML nesse mês foi Cecília Meireles, justamente quando celebramos os cento e vinte anos de seu nascimento. A autora do “Romanceiro da Inconfidência” mereceu palestra proferida pelo escritor Artur Laizo, de Juiz de Fora, já disponível no canal exclusivo da instituição no youtube. No dia 30, será a vez de relembrar o precioso legado de Lúcia Machado de Almeida, autora de best-sellers como “O escaravelho do diabo” e “O caso da borboleta Atíria” e de livros importantes como “Passeio a Ouro Preto” e “Passeio a Sabará”. Escrita pelo jornalista Régis Gonçalves e editada pela Conceito, de José Eduardo Gonçalves, a biografia da escritora será o tema da conversa que conduzirei na rede social de postagem de vídeos. Mineira de Belo Horizonte, hoje radicada no Rio de Janeiro, Conceição Evaristo será a personalidade focalizada pelo professor Eduardo de Assis Duarte na conferência do dia primeiro de abril, também no youtube da Academia.
Nos próximos meses, prosseguiremos em nossa intenção de destacar a literatura produzida pelas mulheres, sobretudo as de Minas, uma contribuição para que saiam do esquecimento e para que ampliem sua presença na consciência coletiva. Já agendadas, as aulas sobre Maura Lopes Cançado e Maria Lúcia Alvim serão ministradas, respectivamente, pelas professoras Imaculada Nascimento e Kelen Benfenatti. Nascida em Araxá, em uma família de intelectuais (é irmã do poeta Chico Alvim), e falecida há pouco tempo, vítima da Covid-19, Maria Lúcia demorou a ter sua poesia publicada, mas viveu o suficiente para testemunhar o reconhecimento público da força de seus versos.
O apreço da AML pelas escritoras do Estado não se restringirá, no entanto, à sua programação cultural. No próximo número de nossa revista (fundada em 1922 pelo presidente Mário de Lima), os leitores encontrarão extenso dossiê – organizado pela professora Constância Lima Duarte e por mim – sobre a obra de mais de trinta delas, entre as quais algumas bem pouco estudadas, como Bárbara Heliodora, Beatriz Brandão, Maria Clara Machado e Janete Clair, a famosa dramaturga que nasceu na cidade de Conquista.