VIDENTES

Jota Dangelo

 

Sempre tive uma certa curiosidade sobre a atividade das(os) videntes e cartomantes. Mais do que sua coragem de se atribuir dons de futurólogas e arriscar especulações hipotéticas sobre a vida privada de seus e suas clientes, que elas afirmam serem verdades irreversíveis, impressiona-me, sobretudo, a choldra que procura os donos e donas do futuro para resolver os seus problemas cotidianos.

E não são poucos os que acreditam, com fé absoluta, com convicção, que o lançar de búzios, o manejo habilidoso de cartas de Tarot, a simples leitura da palma das mãos predigam a grana que está por vir, o emprego generoso que está à espera deles dentro de alguns meses, a aparição para breve da esperada mulher, ou homem, de seus sonhos. Não acredito que as videntes urbanas, desde as ciganas nômades às madames enclausuradas em seus habitats cercados de cortinas e perfumados com incenso, tenham alguma vez vaticinado a miséria para seus clientes, ou o câncer galopante para o próximo ano, ou a separação conjugal iminente, ou a demissão do emprego nas semanas vindouras. Se uma cartomante anteveja nas cartas um destino desastrado para seu cliente, corrige de imediato a profecia: “Está prevista uma tragédia na sua família, mas dura muito pouco: a paz e a concórdia voltarão a reinar”.

A única coisa que videntes acertariam em relação ao futuro de seus clientes é afirmar que a morte os espreita, e mesmo assim sem determinar o tempo de sua chegada. Ora, disto todos sabemos, sem búzios, sem bolas de cristal, sem baralhos de qualquer espécie. E, aliás, a vida seria profundamente chata se pudéssemos saber o que nos vai acontecer. Se soubéssemos, ou faríamos tudo para apressar o futuro, se a predição fosse boa, ou nos esforçaríamos para que ele nunca chegasse, se o previsto fosse a desgraça. A emoção de viver está justamente em desconhecer o que virá amanhã, a expectativa de alterações, a mudança de rumos, a necessidade de enfrentar desafios que surgem, a possibilidade de sonhar permanentemente, enfrentar situações quando despontam, inesperadas, e saber conviver com elas ou contorná-las, ou sublimá-las, ou vencê-las com determinação, com trabalho, com confiança, com autoestima, com convicção e com a esperança em dias melhores.

Como a maioria das pessoas, tenho um certo preconceito em relação às cartomantes. Como não consigo acreditar em suas profecias, e muito menos em profetas – incluindo os bíblicos, os Nostradamus e outros do tipo – acabo acusando as cartomantes e as videntes de picaretagem, de “me-engana-que-eu-gosto”, de gente que faz profissão do fato de iludir a boa fé das pessoas. E isto, percebi, não é muito justo. Pelo menos não posso generalizar a minha má vontade com elas. Descobri que há cartomantes e videntes com alguma ética no exercício da profissão profética. No outro dia, no meu caminho de casa para um boteco dei com um cartaz afixado num poste, perto de um semáforo, com os seguintes dizeres:

MADAME ELZA

Rua Antenor Cartaxo 85  –  Cachoeirinha

Somente das 20 às 23 horas

Hora marcada pelo telefone 99150-7652

TRAGO DE VOLTA A PESSOA AMADA!

PAGAMENTO SÓ DEPOIS DO RESULTADO

 

Diante disto estou pedindo desculpas às cartomantes e videntes éticas.