Centenário de Oscar Dias Correia
Angelo Oswaldo de Araújo Santos
Cabe à cadeira nº 3 da Academia Mineira de Letras o privilégio de ter como primeiro ocupante o poeta Alphonsus de Guimaraens, patrono da casa. O solitário de Mariana pediu a Belmiro Braga tomasse posse por ele em Juiz de Fora, berço da Academia. Sua sucessão, em 1921, gerou um imbróglio. Elegeu-se Moacyr Chagas, que logo apresentou o pedido de renúncia, fato em geral inédito nos anais acadêmicos. Consumado o polêmico desligamento, foi eleito o poeta Agripa Vasconcelos, bastante jovem, mas já festejado, sem imaginar, por certo, que se tornaria o narrador da saga do país das Minas e dos Gerais.
Foi exatamente naquele momento que, em Itaúna, nasceu Oscar Dias Correa. Sua chegada ao mundo coincide com a partida de Alphonsus. São, assim, dois os centenários ligados à cadeira nº 3, efemérides que sensibilizam a Academia Mineira e provocam homenagens ao grande simbolista e ao intelectual, jurisconsulto e homem público escolhido sucessor de Agripa Vasconcelos na cadeira para qual Alphonsus sagrara como patrono o poeta diamantinense Aureliano Lessa.
Tendo sucedido a Oscar Dias Correa, quero evocar os meus antecessores, neste marco secular, com um sentimento que envolve júbilo e respeito, afeto e admiração. Meu avô, José Oswaldo de Araújo, que presidiu a Academia, foi amigo de Alphonsus, e minha mãe, Maria Clélia, gostava de recitar Ismália, enredando a mim e a meus irmãos no encantamento da poesia. Oscar Correa, eu o conheci na casa da avenida do Contorno, ao pé do Colégio Padre Machado, quando da inauguração do comitê infantil da candidatura Jânio-Milton-Magalhães. Eu era menino, como Oscar Júnior, e descobríamos a política no calor daquela conturbada maratona eleitoral que conduziu o país ao governo setemesino do enigmático homem da vassoura.
A Oscar Dias Correa, dirijo esta primeira palavra. Poeta e empresário, meu avô dizia ter que empunhar a lira e o caduceu. Oscar Correa trazia a lira à mão, mas na outra empalmava a Constituição. Fascinava-o a tribuna política, o parlatório, a missão pública, ao tempo em que o chamava, em atração calorosa, o ordenamento jurídico. Dessa forma, alcançou a Academia Brasileira e a Academia Mineira, o Congresso Nacional, o Ministério da Justiça e o Supremo Tribunal Federal. Não lhe faltou tempo para exercer o magistério em diversas universidades com igual paixão e rigor.
Síntese do homem de espírito, foi um homem da lei, da lide política e das letras, das lutas e labores de quem sabe conjugar razão e emoção em plena harmonia. Nós o recordamos, na Academia Mineira, como um dos notáveis integrantes da Casa de Alphonsus. Ouvimos, com fraternais sentimentos, a entrevista que o presidente Rogério Faria Tavares realizou com Oscar Correa Júnior, significativo depoimento que enriquece o memorial acadêmico. Saudamos, na altura de sua centúria, o escritor, tradutor, professor, parlamentar, ministro de Estado, jurista e magistrado, cuja legenda permanece viva no imenso legado de sua inteligência.