No centenário de Oscar Dias Corrêa
Rogério Faria Tavares – Jornalista. Doutor em Literatura. Presidente da Academia Mineira de Letras.
“Nunca tive qualquer pensamento escondido ou dissimulado”, gostava de dizer Oscar Dias Corrêa, expressando fielmente seu comportamento político. Loquaz, incisivo, veemente, esse mineiro nascido em Itaúna, em 1921, não tergiversava, não falava em linguagem cifrada, não insinuava. Era claro, preciso, direto. Corajoso, abandonou a vida pública em protesto à edição do Ato Institucional número 2, que extinguiu o pluripartidarismo, permitindo a existência de apenas duas agremiações. No discurso em que renunciou ao seu mandato de deputado federal, de 23 de março de 1966, mais uma vez foi ao ponto: “O que nos repugna é que o Governo queira impor duas organizações irreais, inviáveis, provisórias, e que, para isso, obrigue todos os homens públicos desse país a uma opção impossível”.
Os traços de seu caráter também foram destacados por Célio Borja, na sessão em que o Supremo Tribunal Federal homenageou Oscar, quando ele deixou a Corte para assumir o Ministério da Justiça: “Altivo e a tudo atento, brioso e suscetível de iras sagradas pelo interesse público, ou quando em causa seu próprio conceito ou o da instituição a que pertence, o Ministro Oscar Corrêa, como juiz da Corte Suprema, deu exemplos notáveis de isenção e serenidade”. Na mesma solenidade, de 1º de março de 1989, o então Procurador Geral da República, Sepúlveda Pertence, notou outras características marcantes de Oscar: “Culto, inteligência permanentemente irrequieta, em suas intervenções frequentes era difícil saber o que mais realçava: se a agressividade do estilo, submisso, no entanto, ao melhor vernáculo; se o trânsito fácil pelo Direito, a Economia, as Finanças; se a mordacidade dos epigramas inclementes; se a prontidão da resposta do polemista temido.”
Confirmando o que sempre dizia (‘não sei ficar à toa por mais de cinco minutos. Em casa ou estou lendo, escrevendo ou cuidando de alguma coisa’), ainda teve energia para erguer importante carreira acadêmica e para escrever livros valiosos. Começou a dar aulas aos vinte e seis anos, lecionando Direito do Trabalho na Universidade Católica de Minas Gerais. Em 1951, alcançava a Cátedra de Economia Política na UFMG. Em 1957, conquistava a segunda Cátedra, a de Economia, na Universidade do Brasil, hoje UFRJ. No mesmo ano, ingressou na Universidade do Estado da Guanabara, hoje UERJ. Em 66, dava a ‘Introdução à Economia’ na Universidade de Brasília. Tradutor da ‘Divina Comédia’, de Dante Alighieri, também escreveu a biografia do pai, Manoel Dias Corrêa, lançada em 1987. Quarto ocupante da cadeira de número 3 da Academia Mineira de Letras, eleito na sucessão de Agripa Vasconcellos, igualmente integrou a Academia Brasileira de Letras, onde foi recebido por outro mineiro, Afonso Arinos de Melo Franco.
Tive a alegria de entrevistá-lo no final dos anos noventa, no programa ‘Jogo Duro’, que apresentei por quase três anos, no Canal 23, dirigido, com talento, pelos mestres Alberico Sousa Cruz e Lauro Diniz. Em cinquenta e quatro minutos, Oscar brilhou mais uma vez, respondendo às perguntas num padrão hoje praticamente extinto, e que era capaz de reunir, em uma só frase, alta cultura, indignação e humor, artigos raríssimos nos dias que correm.