“A vida não é medida pelo número de vezes que respiramos, mas pelos lugares e momentos capazes de tirar nosso fôlego.”
( anônimo ) Essa é a epígrafe do livro “1.000 lugares para conhecer antes de morrer”, de Patricia Schultz.
Confesso de público minha grande admiração pelo Taj Mahal, que considero uma das mais belas construções do mundo. A Unesco fez-lhe justiça, declarando-o Monumento Cultural da Humanidade. É um esplendor de beleza, o principal cartão postal da Índia. O cartão-postal da Índia por excelência.
Mas vamos por partes, saboreando devagar essa perfeita maravilha, esse alumbramento que encanta os estetas do mundo inteiro. O palácio-mausoléu recebe – em tempos normais – cerca de sete milhões de visitantes por ano, dos quais três milhões são estrangeiros.
De Nova Délhi, capital da Índia, a Agra, a viagem de avião ( que nunca fiz nem mais farei) dura 40 minutos. Agra é a antiga capital do Império Moghul. Baber, o Grande, descendente do terrível Gêngis Khan, invadiu a Índia em 1526, ali estabelecendo a dinastia moghul, de sangue mongol, portanto. A Mongólia aumentava seus domínios além das estepes. Os invasores professavam a religião islâmica ( ou muçulmana) e sua língua e cultura eram persas. Consta que o Moghul foi um império de glória e de elegância, apesar das truculências guerreiras.
É em Agra que fica o sedutor monumento que pranteia a morte e ao mesmo tempo celebra a vida feliz que passou.
O xá ( imperador) Jahan foi o 4º monarca daquela dinastia de origem mongol e de cultura persa. Nasceu em 1592 e morreu em 1666. De suas quatro mulheres, a favorita era Arjumand Begum, que se tornaria imortal com o nome de Muntaz Mahal, que significa “orgulho do palácio”, pois era bela, inteligente, boa conselheira do marido e querida do povo por sua caridade. Morreu por complicações no parto do 14º filho, em 1631. Tinha apenas 39 anos de idade.
Desolado, inconsolável, o imperador apaixonado entregou-se às lágrimas e à solidão. Deixou de usar as vestes reais e nunca mais abandonou o luto. Ordenou que se construísse um túmulo para sua bem-amada, com a seguinte instrução: “Que não seja fúnebre, pois deverá celebrar a curta vida de um amor. A sua beleza e graça haverão de recordar eternamente a mulher, sem envelhecer. Será um sonho de mármore edificado na fronteira delicada entre o real e o irreal, como a própria paixão.”
Ele queria um monumento suntuário, de rara, original beleza.
E assim aconteceu. Os arquitetos foram os persas Ustad Isa e seu discípulo Ustad Ahmal. As formas do minarete são claramente muçulmanas, árabes; as cúpulas obedecem a um desenho asiático trazido pelos moghul; os motivos decorativos são flores geométricas e flores persas. Segundo os historiadores e exegetas, o que há de mais hindu no deslumbrante monumento são o mármore branco e a estranha forma de pequenas torres que foram colocadas em torno da cúpula principal.
Durante 17 anos milhares de operários trabalharam sob a orientação dos melhores artesãos da Índia, Pérsia e Afeganistão. Tamanha perfeição estética custaria, hoje – discorrem os entendidos – cerca de 100 milhões de dólares.
O mármore veio do Rajastão , hoje um estado indiano que faz fronteira com o Paquistão. Os 43 tipos diferentes de pedras foram levados do Tibete, China, Pérsia e Rússia.
Com detalhes de marfim e contendo pedras preciosas incrustadas nas paredes, esse palácio constitui um imenso túmulo de mármore branco de perfeitas proporções, para abrigar o corpo de uma mulher muito amada. Os poetas o denominam “um sonho em mármore”.
O monumento ficou pronto em 1648 e é composto por três cúpulas, quatro torres laterais e um belo espelho d’ água frontal. É o túmulo mais bonito e suntuoso do mundo. Uma abóbada cobre o centro da construção. Trechos do Alcorão – o livro sagrado dos muçulmanos – ornamentam a parte externa.
O palácio tumular está no meio de um jardim, onde a água dos lagos artificiais – o espelho d’ água – reflete o esplendor de uma obra-prima.
Jahan ainda planejou erguer uma construção semelhante para abrigar seu próprio corpo após a morte. Um dos filhos do imperador apossou-se do trono, pela força das armas, depondo-o. E quando o velho monarca morreu, sepultaram-no ao lado de sua amada Muntaz Mahal ou Arjumand Begum. A morte os separou, a morte os uniu novamente, num movimento pendular entre Eros e Tânatos.
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Uma construção , como essa, de tamanha e tão delicada magnificência, de tirar o fôlego da testemunha ocular; uma graciosa câmara mortuária em feição de palácio, como essa, não poderia deixar de constar, como verbete , do livro best-seller mundial “ 1.000 lugares para conhecer antes de morrer”, que tenho à cabeceira da cama, como um vade-mecum.
Sua autora é a americana Patricia Schultz e a tradução aqui no Brasil é de Cláudio Figueiredo e Pedro Jorgensen Filho, para a Editora Sextante, Rio, 2006. A edição brasileira ocupa 729 páginas em letras miúdas.
Sim, é claro, lá está o Taj Mahal, nas págs. 601 e 602, onde a autora declara que o monumento é “a encarnação da elegância e do romance, do equilíbrio e da simetria, um ícone arquitetônico há três séculos e meio venerado como o mais belo edifício do mundo.”
E aduz: “O xá Jahan, grande soberano muçulmano da dinastia mogul, mandou construir o Taj Mahal inteiramente com mármore branco, como monumento funerário em honra à sua adorada rainha Muntaz Mahal, que morreu ao dar à luz o décimo quarto filho do casal em 19 anos. Um desses herdeiros acabou depondo Jahan, que foi aprisionado no Forte Agra, situado nas proximidades. De seus aposentos ele podia admirar o Taj Mahal e chorar a perda de sua mulher e de seu império.”
Em seguida, a autora fornece informações turísticas sobre o local, onde se estabeleceu o sofisticado Hotel Amarvilãs, termo sânscrito que significa “céu eterno.” Patricia Schultz informa ainda que o local, em Agra, fica a 198 km de Nova Délhi, a 3 ou 4 horas de carro ou ônibus e a 2 horas no luxuoso trem Taj Express.
E aqui, benévolos leitores, termina a história dessa paixão imortal. Parece um conto das Mil e Uma Noites, narrado ao sultão pela linda Sherazade, sob o céu de Bagdá. Só não termina a glória de Jahan e Muntaz. Eles permanecerão juntos até o final dos tempos e o Taj Mahal continuará sendo o esplendor dos esplendores construído pela mão do homem. Louvado seja o Altíssimo, que preserve pelos séculos dos séculos esse poema de amor em mármore e ouro.