A reunião fundadora da Academia Mineira de Letras (AML) foi realizada exatamente numa noite de 25 de dezembro, na Câmara Municipal de Juiz de Fora, em 1909. Com a missão de promover a Língua Portuguesa e a Literatura, a instituição foi transferida para Belo Horizonte em 1915. A sede própria, no entanto, só seria conquistada no final da década de quarenta, quando o seu presidente era Heli Menegale. Em 1987, graças à tenacidade de Vivaldi Moreira, a entidade passou a ocupar o Palacete Borges da Costa, à Rua da Bahia, hoje a caminho da musealização. Projetado por Gustavo Penna, o prédio anexo, onde funciona o seu auditório, foi inaugurado em 1994.
Centro de pesquisa e documentação, a Academia zela por um acervo de mais de trinta e cinco mil itens, entre livros raros, manuscritos e correspondência. Abriga dez coleções, entre as quais as de Nelson de Senna, Eduardo Frieiro e Edison Moreira. Referência incontornável quando o assunto é a história intelectual ou a história literária de Minas Gerais, sua biblioteca hospeda, ainda, tudo o que foi publicado pelos quase duzentos membros que já passaram por suas cadeiras, ao longo das onze décadas de sua existência.
Casa de convivência fraterna, suave e elegante, a Academia continua a oferecer a sua hospitalidade a mulheres e homens apaixonados pelas artes, pela educação e pela memória, sem preconceito ou discriminação de qualquer natureza. Afinal, é no encontro de pessoas e de ideias diferentes que se refina o pensamento e se fortalece um meio social livre, plural e tolerante, como merece a nossa inteligência e como exige a cidadania.
A diversidade é valor do qual não se pode abrir mão. É ele que guia o planejamento do intenso calendário de atividades que a Academia oferece ao público, gratuitamente, de março a dezembro, todos os anos. Se à AML cabe a guarda e a preservação do cânone e da tradição literária de Minas, é sua função, igualmente, lançar um olhar atento e sensível ao contemporâneo, buscando dialogar integralmente com ele, em toda a sua riqueza. Tudo o que é literário nos interessa. Queremos conhecer e conviver com a literatura produzida nos centros e nas periferias, nas megalópoles e nas zonas rurais, nas comunidades, nos quilombos, nas aldeias indígenas. É preciso abrir espaço para o estudo e a divulgação da literatura afro-descendente, da literatura infanto-juvenil, da literatura de cordel, da literatura fantástica, da literatura mística, da chamada literatura marginal. Urge conversar com as novas e com as novíssimas gerações, com os participantes dos saraus de poesia, dos slams, dos clubes de leitura. Só assim será possível compreender, devidamente, a complexidade do fenômeno literário tal como ele emerge nos dias de hoje.
Mobilizada permanentemente em favor da reflexão, da crítica e do debate literário de alto padrão, a Academia ainda valoriza a sua ampla divulgação. Os conteúdos apresentados durante o ano acadêmico vão para o seu canal no you tube, onde podem ser assistidos de todos os cantos do planeta. Sintonizada com a sua época, a Academia também está no facebook e no instagram, além de manter site próprio na internet. Tudo isso, no entanto, não libera a instituição do compromisso de zelar pela circulação de sua revista, fundada em 1922, quando o seu presidente era Mário de Lima. Com lançamento previsto para o primeiro semestre do ano que vem, o número setenta e nove da prestigiada publicação reunirá artigos inéditos, dedicados à sua trajetória mais que centenária. Consciente de seu papel na história, no presente e no futuro de Minas Gerais, a Academia Mineira de Letras seguirá, firme e serena, no pleno vigor de suas forças, leal aos objetivos que animaram os seus fundadores. Que venham as próximas onze décadas!
por Rogério Faria Tavares – Jornalista e Presidente da Academia Mineira de Letras.
Publicado pelo jornal “Estado de Minas” na edição de 25 de dezembro de 2019