“A leitura é uma tarefa confortável, solitária,
vagarosa e sensual. A escrita costumava compartilhar algumas dessas
qualidades.” ( Alberto Manguel, “Os livros e os dias”, Prefácio, p. 11.)
Colaborador do “Jornal da ANE” e membro, desde 2007, da Academia Mineira de Letras ( presidida hoje pelo dinâmico Rogério de Vasconcellos Faria Tavares) , e de outras congêneres, Manoel Hygino dos Santos nasceu em Montes Claros, MG, cidade natal também de Cyro dos Anjos (1º Presidente da ANE), Waldemar Versiani dos Anjos ( irmão de Cyro), Artur Lobo, Hermenegildo Chaves, Newton Prates e Darcy Ribeiro. Na Academia Mineira ele ocupa a cadeira nº 23. Há anos mantém coluna diária no jornal “Hoje em Dia”, de Belo Horizonte, onde sempre destaca o trabalho dos nossos confrades da Associação Nacional de Escritores-ANE, da Academia Brasiliense de Letras e do IHGDF. Foi colaborador de diversos jornais e revistas em Minas, Rio de Janeiro e outros estados. Prestou também serviços ao Governo de Minas Gerais, no tempo do Governador Israel Pinheiro. Jornalista, escritor, historiador e biógrafo, nosso autor, nascido em 1930, é incansável, um legítimo e intimorato guerreiro.
Antes assessor de imprensa, nosso autor passou a ouvidor da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, onde é o editor do “Santa Casa Notícias”. Nessa trincheira, pesquisou muito e nos deu recentemente três livros: “Nonô do Tijuco – Pioneiro em Urologia” (sobre Juscelino Kubitschek de Oliveira, futuro fundador de Brasília), “Nereu de Almeida Junior – O Homem e a Medicina” e “120 Anos da Santa Casa- BH – Uma história de amor à vida”. Todos muito bem ilustrados, com fotos raras.
Cultor da História e formado em Direito, Manoel Hygino mergulhou fundo nas noites brancas da Rússia, nos mistérios de Moscou e de São Petersburgo, e de lá saiu com a trágica figura dostoievskiana de Rasputin, o monge lúbrico e desvairado que ludibriou a família imperial , na porfia de curar o doentio herdeiro do trono,o Czaréviche, que sofria de hemofilia. Assim, mestre Hygino publicou, em 1970, o livro “Rasputin, último ato da tragédia Românov”, que estou relendo depois de muitos anos. Fascinante.
Rasputin é um apelido; significa lúbrico, dissoluto. Nasceu nas frias estepes da Sibéria. Seu verdadeiro nome é Grigóri Efímovitch Novi. Infrator de todas as leis, mulherengo, beberrão de todas as tabernas, sem códigos de ética, vaidoso e violento. Chegou a ter muita influência e poder na corte do Czar. O falso monge milagreiro acabou vítima de uma conspiração eclesiástico-palaciana e foi assassinado a tiros pelo príncipe Yussupoff. Pouco tempo depois, a monarquia caiu e a família imperial foi fuzilada nos porões da ditadura dos bolcheviques de Lênin. História é História, lenda é lenda. Publique-se o fato histórico. Quando no terreno da literatura, da poesia, da fantasia, da aventura e do surrealismo, publique-se a lenda.
Também turbulenta foi a vida do Presidente Getúlio Vargas, que redundou na tragédia de 24 de agosto de 1954, no Palácio do Catete, Rio de Janeiro. Aquele tiro no peito ressoa e reboa até hoje no Brasil. Nos tempos do Governo José Sarney, conheci no Rio sua filha e assessora Alzira Vargas do Amaral Peixoto e seu marido, o comandante Amaral Peixoto, político do PSD amicíssimo de JK. Manoel Hygino nos trouxe da campanha e das querências gaúchas a figura romanesca de Getúlio Dornelles Vargas, nas 134 páginas de “Vargas – De São Borja a São Borja”, de 2009. No início da obra lemos: “Homenagem à Academia Mineira de Letras, centenária, Associação Nacional de Escritores-ANE, cinquentenária em 2010 Academia Montesclarense de Letras e Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco. E a todos os que contribuem para dar ao cidadão a verdadeira imagem deste país.” Obrigado a você, mestre Manoel Hygino, nobre cidadão.
Nosso autor dirigiu, em Belo Horizonte, “O Diário” e a revista “Manchete”, dos Bloch. Editou também a Revista da Academia Mineira de Letras e hoje integra o seu Conselho Editorial. Seu livro “Considerações sobre Hamlet” é considerado pela crítica um dos mais importantes trabalhos sobre a totêmica obra de Shakespeare, no campo da ensaística e da pesquisa.
É extensa a bibliografia do nosso consagrado autor. Além dos livros já mencionados,são de sua lavra os seguintes: “Vozes da terra” ( contos e crônicas), “Governo e Comunicação”, “Hippies, protesto ou modismo”, “Sangue em Jonestown, uma tragédia na Guiana”, “No rastro da
subversão”, “Darcy Ribeiro, o ateu”, “Notícias via postal”, “Encontro de Brasília”, “Uma mensagem de esperança”, “Israel Pinheiro, cidadão e homem público”, “Uma história do pioneirismo em Minas Gerais”, “A voz do espírito e do coração da gente mineira”, “Reverência pela vida: a pediatria em Minas”. Às vésperas de completar nove décadas de fecunda, profícua e exemplar vida, Manoel Hygino dos Santos, também modelo de modéstia e de cavalheirismo, não para de trabalhar na seara do jornalismo, da literatura e da História.
Com este artigo, tenho a satisfação e a honra de homenagear um escritor ilustre e grande incentivador dos associados da ANE ao longo de décadas. Estou certo de que o Presidente Fabio de Sousa Coutinho e nossos confrades, também em pé, como o articulista, aderem à música coral destas justas palmas ao veterano mestre mineiro. Muito gratos lhe somos por tudo, Manoel Hygino dos Santos!