O padre Antônio Vieira conquistou lugar definitivo na história do Brasil e Portuga. Nem precisaria repeti-lo, mas chama a atenção que sua biografia não estagnou, não ficou parada no tempo. Edmilson Caminha aborda o fato em artigo recente. E o fez de maneira atraente, com seu estilo muito peculiar, que o distingue no mundo literário da época, em que muito se produz e se publica, mas relativamente pouco se aproveita.

Edmilson começa por contar como nasceu “Vieira na ilha do Maranhão”, de Ronaldo Costa Fernandes, romance lançado este ano pela 7 Letras. E que já mereceu elogios compreensíveis também de Adelto Gonçalves, o que corresponde dizer que se trata de mercadoria de boa qualidade.

O articulista descreve como nasceu a ideia do escritor maranhense, Ronaldo, nascido em 1951, em São Luís. Ele é mestre em Literatura Hispano-americana pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutor em Literatura pela de Brasília, dentre outros títulos, sendo autor de várias obras de reconhecidos méritos.

Eis como se forjou o projeto: em visita a Lisboa para uma feira de livros, Ronaldo identifica o título do angolano Pepetela, historiando a presença de Vieira na África, continente em que o sacerdote jamais pusera os pés. De volta à feira de livros, não achou a obra e vendedores nada sabiam a respeito.

Pesquisou mais, perambulou, mais perguntou, porém, ninguém conhecia algo sobre o bendito livro. Decidiu: “se o autor angolano não escreveu sobre Vieira na África, ele – Ronaldo Costa Fernandes – o faria, escrevendo sobre o jesuíta no Maranhão”.

No Brasil, o que se sabe, relativamente pouco é sobre seus sermões, alguns famosos, vigorosos, de crítica aos poderosos da colônia, que se esmeravam em explorar os mais pobres e humildes, os escravos. Pelo romance , pode-se aprender, mesmo se tratando de ficção, muito sobre os costumes da época, desde a cama à mesa, sem maiores cuidados e zelo, pelo vocabulário utilizado por personagens pouco pudicos.

Nada melhor, contudo, de que ingressar no clima do século de Vieira tão bem acompanhado. O romance de Ronaldo Costa Fernandes contribui para sentir e compreender o tempo em que viveu, as posições e comportamentos dos personagens que transformaram o romance numa das mais significativas criações da ficção brasileira neste ano que caminha para o fim. Edmilson é um bom julgador e conselheiro.

Vou adaptar uma linha do crítico: Bendito comentário, que nos possibilita ler “Vieira na ilha do Maranhão, romance que engrandece a ficção brasileira e honra a literatura em língua portuguesa. Por sinal, o prestigioso jornalista e escritor virá a Belo Horizonte, em 28 deste mês, para palestra na Academia Mineira de Letras, sobre um dos nossos mais admiráveis escritores, ex-integrante do sodalício. Edmilson escolheu para sua palestra o título: “as histórias de Agripa (de Vasconcelos), garimpeiro da história”.

 

 

Por Manoel Hygino dos Santos, membro do Conselho Editorial da Revista da AML, ocupa a cadeira nº 23