A cadeira de número sete da Academia Mineira de Letras (AML) foi fundada por Avelino  Fóscolo, autor de “A capital”, de 1903, o primeiro  romance ambientado em Belo Horizonte. Seu sucessor foi Eduardo Frieiro, que escreveu os clássicos “Feijão, angu e couve” e “O diabo na livraria do cônego”e deu aulas na Universidade Federal de Minas Gerais (a monumental biblioteca de Frieiro foi doada à AML e será integralmente aberta à consulta pública em breve). Depois de Frieiro, vieram Austen Amaro, importante poeta, Wilson de Lima Bastos, fundador da Academia de Letras de Juiz de Fora, e João Bosco Murta Lages, deputado e presidente do Tribunal de Contas do Estado. Seu último ocupante foi Ricardo Arnaldo Malheiros Fiúza, doutor em Direito Constitucional e o jurista que ajudou o Timor Leste a escrever a sua Constituição, depois que se formou como estado livre e independente. Responsável por vasta e qualificada obra jurídica, Fiuza também escreveu muito sobre a cultura portuguesa, uma de suas grandes paixões. Era personalidade de trato ameno, suave e elegante, como pede o espírito acadêmico. Deixou imensa saudade e sempre fará muita falta.

Agora, para suceder Fiuza, a Academia Mineira de Letras elegeu Wander Melo Miranda, professor titular e emérito da UFMG, instituição em que lecionou Teoria da Literatura e Literatura Comparada por mais de quatro décadas. De reputação internacional, o novo acadêmico igualmente deu aulas nos Estados Unidos, na Itália, na Argentina e no Uruguai, como professor visitante. Como tradutor, sua produção é intensa, sendo de Wander as versões em português de “Noturno Indiano’, de Antonio Tabucchi, “Angelo”, de Luchino Visconti, “Antiafrodisíaco para o amor platônico”, de Ippolito Nievo, e “Bios, biopolítica e filosofia”, de Roberto Esposito.

Durante quinze anos, Wander Melo Miranda dirigiu a editora da Universidade Federal, conferindo a ela grande parte do prestígio de que desfruta hoje. Mais uma de suas importantes realizações foi a fundação, ao lado de Eneida Maria de Souza e de outros colegas, do Acervo dos Escritores Mineiros, que guarda a memória de autores como Autran Dourado, Sábato Magaldi, Afonso Ávila e Lúcia Machado de Almeida, entre tantos outros. Agora, junto com Reinaldo Martiniano Marques, e com base em pesquisa feita no Acervo, está prestes a lançar as obras completas de Henriqueta Lisboa, em edição crítica e comentada. Wander não pára. Na próxima semana, lança, em Belo Horizonte, “Os olhos de Diadorim e outros ensaios.” Para o ano que vem, prepara a biografia de Graciliano Ramos, encomendada pela Companhia das Letras.

A chegada de Wander Melo Miranda é motivo de alegria e honra para a Academia, que respeita, reconhece e valoriza o papel que os professores desempenham na sociedade. Não há possibilidade de progresso sem o investimento forte e constante na educação. O desenvolvimento econômico e social só se viabiliza se, para operá-lo, houver um povo educado, consciente de sua força e sujeito de seu destino. Filho e sobrinho de mulheres e de homens que dedicaram sua existência à sala de aula, sei o quanto o ensino de qualidade é capaz de mudar e de melhorar a vida das pessoas, ampliando seus horizontes e o seu poder de interferir no mundo. Por tudo isso, seja bem-vindo à Casa de Alphonsus de Guimaraens, professor Wander!