A intervenção militar federal no estado do Rio de Janeiro não pode nem deve ser encarada como simples tomada de posição em face de problema em uma unidade federativa. Tampouco pode ser vista como providência meramente política, considerados os graves aspectos envolvendo a segurança, numa área de notável significação histórica, intelectual e artística. De fato, o estado do Rio ocupa posição estratégica singular para o país e para a nação.

Há de se convir que a violência não se restringe unicamente àquela região. De fato, todos os estados, em seus rincões ou nas capitais, passam por um momento de gravidade, que se medirá pelo fragor das estatísticas, que não se deve ignorar ou menosprezar. O Brasil vive sob o signo da criminalidade disseminada em todos os setores e atividades.

A propósito, o general Braga Neto declarou, com consciência de difícil missão que lhe foi atribuída: “Não haverá território em que a polícia não entre. Se houver mandado e a polícia desejar entrar, ela pode fazê-lo com maior ou menor dificuldade. Quando ela pede nosso apoio, nós entramos em qualquer lugar do estado”.

O que está em risco não são as UPPs pacificadoras que, por sinal, nada pacificaram ou encontraram condições somente para amenizar situações extremamente conflitivas. Mas a violência no Brasil não reside mais aqui e ali. O crime está distribuído e organizado sistematicamente, nele atuando centenas e centenas de agentes do mal. O Rio de Janeiro é ponto de referência, mas não caso isolado.

O Brasil precisa mais do que novos e mais modernos armamentos, mais do que viaturas e blindados, para servir a todas as unidades da federação. Tem-se de compenetrar de que há uma guerra, em que devem se empenhar todos os segmentos da sociedade, além dos que servem às forças armadas e às polícias. As quadrilhas já identificadas, seus comandantes, têm de ser tratados como tal, formadas por seres humanos que perderam o itinerário do bem e de superiores interesses.

Se assiste, a cada dia e hora, a ação de baderneiros e bandoleiros, seguros de serem os donos inexpugnáveis de negócios, evidentemente escusos. Mas, o Brasil não está à venda nem o futuro das gerações que ora se formam. A maneira insistente, sem medo e pudor dos criminosos nas áreas sob alerta das autoridades, demonstra que eles se julgam capazes de resistir à lei, à ordem, danificando o patrimônio público e privado, sacrificando a vida de milhões já atormentados pela força de outros desvios do interesse nacional.

Os direitos humanos têm de ser respeitados. Não simplesmente pelos que lutam pela paz, palavra de três letras que contém um desígnio especial e humano inabalável e da maior grandeza. A luta pelo bem e pelo futuro reclama coesão e consciência. Como tal deve ser encarada, se reconhecendo de antemão que serão embates duros, com repercussão ampla e profunda.

Os inúmeros erros de sucessivos e muitos anos de enganos e desenganos, poderão se repetir em refregas com aqueles que não sonham com o Brasil abençoado por Deus, que desejamos transferir às novas gerações. Não é mais hora de tergiversíveis, adiamentos e procrastinação. Cumpre seguir com prudência, mas agir.

 

 

Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23