É quaresma. Espaço de quarenta dias de jejum, desde a quarta-feira de cinzas, inclusive, até domingo de Páscoa, exclusive. A paisagem natural, como o roxo das plantas demonstram, que chegado é o tempo, já não mais respeitado do jejum que marcou o passado.
Na Quaresma, ao findar a última semana de fevereiro, uma tempestade desabou sobre Belo Horizonte, deixando um rastro de destruição e uma morte. O tempo fechado, plúmbeo, parecia prenunciar o desastre sobre a montanha. Aconteceu.
Terminado o horário de verão, que incomodou grande parte dos brasileiros, reencorpadas as represas hidrelétricas, afastou-se temporariamente a inquietude com o provável alongamento do racionamento de água e energia em determinadas regiões, porém permanecem ou surgiram novas preocupações. Este é um ano de eleição e, se a economia dá sinais de melhoria, muitas outras perspectivas são sombrias.
Anuncia-se que os partidos políticos terão mais de R$ 888 milhões de fundo público para o pleito, sendo muitos os candidatos a candidatos à presidência da República e aos demais cargos em disputa. Indaga-se o brasileiro sobre alguém, que, honesto e patrioticamente, poderá exercer tão excelsas funções. Dúvidas cruéis.
O Carnaval de 2018 ficou para trás, com euforia belo-horizontina de quem aprecia Momo e seus folguedos, ignorando as frustrantes filas à rede pública de saúde. A febre amarela ameaça. Pelas rádios e TVs, há a notícia de que o gás de cozinha triplica o preço desde que sai da refinaria até chegar ao consumidor. Como?
Em Jacarepaguá, estado do Rio, um subcomandante de Unidade Pacificadora foi executado após entregar a arma. Trata-se do terceiro militar morto desde a nomeação do general Braga Neto para interventor federal de segurança pública. Tinha 26 anos e apanhava um lanche no comércio para alimentar-se.
Ainda naquele estado, um juiz federal, foi flagrado dirigindo o Porsche apreendido do notório empresário Eike Batista. O magistrado se viu condenado pela própria Justiça Federal a 52 anos de prisão. Que exemplo!
Minas, Espírito Santo e São Paulo temem a fuga em massa dos criminosos do Rio para seus territórios. Há natural medo de que os delinquentes, perigosos e poderosos, se escondam além dos limites fluminenses. É melhor prevenir, se é que ainda há tempo.
Vinte milhões de casas no Brasil já são abastecidas pela energia gerada pelo vento, o que significa 11%. O país descoberto por Cabral ultrapassa o Canadá e Itália no uso dessa fonte. Não se informou, contudo, como o vento fornecerá alimentos às residências. Há jeito?
Depois das notícias e considerações, pergunto-me com relação à Constituição, tão citada em discursos e sentenças. A Carta Magna, quando falou do júri, usou o termo “soberania”. Quer dizer: o último poder, sobre o qual outro não existe. Sem embargo, a jurisprudência mudou o espírito da Constituição e se permitiram recursos a tribunais superiores. As decisões são soberanas? Com tais inquirições, perde-se o sono.
Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23