Jamais, o Brasil passou por uma série tão extensa de julgamentos nos altos escalões como presentemente. As atenções se voltam para os veículos de comunicação, também tampouco tão incessantemente consultados como agora.
Pois “Julgamento Político” é de um dos títulos de “O livro de curiosidades da Bíblia”, do escritor e jornalista Pedro Rogério Moreira, ainda a ser lançado, mas que certamente interessará a gregos, troianos, judeus e palestinos, que tenham um mínimo de vontade de conhecer assuntos com os quais convivemos por toda a vida.
Julgamento político ou técnico? É a indagação que se repete a cada dia, diante da sucessão interminável de nomes que surgem no rol dos já investigados ou sob investigação, e a serem levados a juízo. Para Pedro Rogério, nosso confrade na Academia Mineira de Letras, filho do presidente perpétuo do sodalício, Vivaldi Moreira, o julgamento de Jesus Cristo foi eminentemente político.
Explica: “O Sinédrio, misto de tribunal religioso e civil composto da nobreza da nação judaica, condenou Jesus à morte. Mas não tinha poder de executar a sentença, porque o Império Romano lhe havia retirado a autoridade de matar”, isto é, de executar.
Deste modo, “o Sinédrio encaminhou o condenado ao representante de Roma em Jerusalém, Pôncio Pilatos”, que seguia rigorosamente as regras das comissões de controle de infecção hospitalar em todo o mundo: “lavou as mãos”.
Deu-se, então, a segunda fase do processo, diante do tribunal romano, o Pretório. Pilatos não se convenceu da culpa de Jesus e o enviou à presença de Herodes Antipas, o tetrarca da Galileia, a mais alta autoridade civil e judicial”, que tampouco via razão na condenação máxima, ele que antes mandara executar João Batista. In dubito. O caso foi reencaminhado a Pilatos, que “sem convicção jurídica e moral, acabou fraquejando, por medo político, e referendou a sentença imoral reclamada aos berros pelo populacho arregimentado pelo Sinédrio” (João 18.1-13 e “Vida de Cristo, de Recciotti).
No entanto, em outro tópico, o autor chama a atenção para o detalhe: “Herodes ficou alegre… diante de Jesus”. É que Lucas, o evangelista, o único a historiar o fato, relatara que o tetrarca, rei da Galileia e de outra província da Palestina, a Pereia, “se alegrou muito em ver Jesus, pois de há muito desejava conhecê-lo, por ter ouvido falar dele muitas coisas e esperava algum milagre”.
Os fatos se encaixavam. Herodes estava em Jerusalém para a Páscoa quando se deu a prisão do nazareno. Como o governador considerasse o acusado inocente, queria livrar-se de julgá-lo e mandou o caso para quem mais podia. Jesus procedeu, como muitos investigados pela Lava Jato hoje: ficou em silêncio diante das perguntas de Herodes.
A solução sofria procrastinação, como no Brasil de hoje. Herodes Antipas tratou o réu com “desprezo e zombaria” e, sem definição, determinou seu retorno a Pilatos, sem exarar sentença. Repetia-se o fato envolvendo Herodes Magno, avô do tetrarca, que mandara eliminar décadas antes, as crianças nascidas em Belém, à época de Jesus, bebê.
Resumindo: Jesus, antes da condenação fatal, passou por quatro juízes, mas em poucas horas, na Páscoa. Aqui, ainda Quaresma somos.
Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23