No próximo ano, registra-se o sexagésimo aniversário de morte de Rondon, militar e sertanista brasileiro, nascido em 1865, em Mimoso, nas proximidades de Cuiabá, Mato Grosso. O pai era de origem luso-espanhola, com mistura de índios guanás, enquanto a mãe, indígena, descendia de terenos e bororos.

Órfão dos pais aos 2 anos, foi educado por um tio, estudou no Liceu Cuiabano, de que seria professor, mas sonhava com o Exército. Sentou praça no Regimento de Cavalaria, logo se transferindo para a Escola Militar do Rio de Janeiro e incluindo-se entre os cadetes abolicionistas e republicanos.

Nomeado para a Comissão Construtora de Linhas Telegráficas, começou a exploração dos sertões mato-grossenses, assumindo o compromisso de não hostilizar os índios. Ligou por telégrafo imensas regiões do Brasil, penetrou o Paraguai e a Bolívia. Depois, o presidente Afonso Pena quis estender as linhas, ao Amazonas e Acre e Rondon estava à frente. 

Além da integração geográfica realizava trabalhos linguísticos, etnográficos, botânicos e sociológicos. Sem se afastar da Comissão de Linhas Telegráficas, foi o primeiro presidente do Serviço de Proteção aos Índios. No Congresso das Raças, em Londres em 1913, foi aplaudido por sua atuação “para honra da civilização universal”. Em 1914, foi lhe atribuído o Prêmio Livingstone, pela Sociedade de Geografia de Nova York, após a Expedição Científica Rossendet-Rondon. 

Sob Vargas, 1934, Rondon viu-se nomeado para presidir a Comissão Mista Internacional Peru-Colômbia, visando à pacificação dos países em dissídio pela posse da região de Letícia. Por quatro anos, de 1967 a 1972, sofrendo grave doença na vista, lá esteve até a confraternização.

Mas, quero focalizar outro aspecto de Rondon. Na presidência de Hermes da Fonseca, um ministro se empenhou por extinguir a Comissão Rondon, por o país estar em crise financeira. Sabedor da proposta, Rondon estabeleceu que as gratificações aos membros do grupo fossem reduzidas: dos soldados em 25%, dos oficiais em 50% e do chefe, que era ele, em 100%. Em expedição de grande repercussão, comunicou aos seus superiores que não aceitaria as gratificações, ficando com os salários do posto. 

Quando chefiou o 16º Distrito Telegráfico de Mato Grosso, foi rebaixado do posto de major para capitão de engenheiros. Aceitou a condição. E não só: ao voltar da missão em Letícia, foi informado que por trata-se de estado de guerra, que lhe corresponderia a quatro vezes o soldo. Questionou o Ministério, que confirmou a vantagem, por função oficial no estrangeiro. Negou-se a receber a subvenção e determinou que os proventos ficassem para construção de uma escola em Mimoso, sua cidade natal. 

Sua maneira de ser virou anedota. Na expedição ao rio São Miguel, inventou-se o conselho: “preparem o rancho para as praças… e um chá para o Estado Maior”. Um bom exemplo para os atuais, não é?

 

Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23.