E ainda se diria que não há razão para pessimismo. Refiro-me ao Brasil e à minha cidade natal, que não poderia esquecer. Na principal cidade norte-mineira, o prefeito Humberto Souto declarou situação de calamidade pública, diante da longa estiagem e da redução no abastecimento de água potável. O calor continua.
A meteorologia prevê os termômetros se aproximando dos 40 graus. As altas temperaturas não desanimam os bandidos. Numa avenida central, em plena tarde, movimentado o trânsito e intensa a circulação de pedestres, dois assaltantes – evidentemente de moto – arrebanharam de seu portador um malote com cerca de 1,5 milhão em cheques e dinheiro para depósito bancário. Os revólveres são convincentes.
Nos jornais, lê-se que o Brasil tem 13 milhões de analfabetos, não reduzido o número há três anos, segundo a Unesco. Os demais dados do relatório são constrangedores.
O reservatório de hidrelétricas do país se mostram mais vazios do que em 2001, quando houve racionamento de energia. Um caminho: importar eletricidade da Argentina e Uruguai. Ainda: antecipar o início de operação da polêmica usina de Belo Monte, no distante norte brasileiro. Por que não se pensou isto antes? Confiava-se em São Pedro, que tem, todavia mais problemas a resolver. Fixar prioridades, eis a questão. O Sistema Nacional Elétrico afirma inexistir risco de desabastecimento no Brasil, mas a previsão é de que neste novembro o nível nas represas do Sudeste deve chegar a apenas 15%.
A médica Mara Narciso comenta: “soube que o leito do rio São Lamberto está seco e poeirento feito uma estrada. Lamentável! Que as novas gerações tenham interesse, dinheiro e competência para fazê-lo correr de novo. Para nossa sobrevivência. Vou publicar minha visão poética do rio da minha infância. Quem sabe sensibiliza as autoridades?”.
Mas as autoridades não se encontram. Há interesses múltiplos e díspares, os puros e os escusos. A nação se transformou em imenso salão de julgamentos, onde todos falam, argumentam e não se chega a uma conclusão digna e que interesse a sociedade.
O cidadão comum, pagador ou não de tributos, contudo, sabe que há algo de podre no reino, não o do príncipe dinamarquês Hamlet, cujo pai, o soberano, foi afastado pelo tio, que desejava o trono e a viúva.
Ele, o cidadão, sabe o que acontece, por mais que se tente tapar o sol com a peneira, como dizia Aureliano Chaves. Todos sabem, enfim, que ovo de galinha não é caroço de abacate. Quase impossível, porém, é provar.
De longe, o papa Francisco vê os acontecimentos daqui bem de perto. No último dia 21, ele advertiu sobre a necessidade da união do clero do Brasil diante da “escandalosa corrupção”. “Nesse momento difícil de sua história nacional, quando tantas pessoas parecem ter perdido a esperança em um futuro pelos enormes problemas sociais e por uma escandalosa corrupção, o Brasil precisa que haja sinais de esperança”, disse o papa.
Para Francisco, os brasileiros necessitam de um “clero unido, fraterno e solidário” diante da situação do país. “Os sacerdotes precisam enfrentar lado a lado os obstáculos, sem cair nas tentações do protagonismo ou de fazer carreira”, afirmou o pontífice. “Tenho certeza de que o Brasil superará sua crise e confio que vocês atuarão nisso como protagonista”, disse o pontífice.
Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23.