No término de ano, hora do balanço nos estoques dos estabelecimentos comerciais, trabalhoso esforço físico nas antigas lojas do interior, mas imprescindível. Na alta administração pública[/TXT_COL], levantamento do que ficou para trás e orçamento do que se terá à frente.
Embora os numerosos votos de felicidade, pairava dúvida sobre o futuro a curto, médio e longo prazos. O brasileiro se cansa em aguardar o melhor e desiludir-se. Regra geral. Assim, quem leu o noticiário encontrará números dolorosos. Em 2016, o Brasil tinha 24,8 milhões de brasileiros com renda inferior a 1/4 do salário mínimo, ou seja, houve 53% de aumento em comparação com 2014, segundo o IBGE. Significa: 12,1% da população vive na miséria. Consoante o Ipea, famílias com 1/4 do salário mínimo per capita estão em “pobreza extrema”. Os que vivem com até meio salário mínimo estão em pobreza absoluta”.
Ampliemos o raciocínio. O Banco Mundial estabelece como situação de pobreza extrema a linha de US$ 5,5/dia para consumo individual. Em 2016, esse valor correspondia, no Brasil, ao rendimento de R$ 387,15 por pessoa. Com base nesta classificação, havia por aqui 52,3 milhões de patrícios em pobreza extrema. E quem está efetivamente nesta condição vive ou sobrevive? Fica a pergunta.
Outra estatística, também do IBGE, de meados de dezembro: o número de jovens de 16 a 29 anos, que não estudam ou trabalham, chegara a 41,25 milhões em 2016 – isto é 25,8% do total de brasileiros nesta faixa etária. O grupo de “nem-nem”, como apelidados, evoluiu para 28,5% em quatro anos. Evidentemente, a culpa não é só do governo Temer.
Também no último mês do ano soubemos que, com base em estudo de consultoria, o consumidor residencial brasileiro teria de lidar com dois anos de reajustes na energia, bem acima da inflação. Causas: regime de chuvas insuficiente e crescimento dos encargos sociais. Neste final de janeiro, São Pedro reduziu as perspectivas de tarifas mais elevadas. Houve chuvas. Resta agradecer mais.
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor divulgou, neste ínterim, pesquisa mostrando que tarifas cobradas pelos cinco maiores bancos do país subiram bem acima da inflação no período novembro 2016–outubro 2017.
Mas o consumidor não está nem aí, ao que parece. A razão está, suponho, no fato de o Brasil ser o segundo país do mundo em que as pessoas mais têm percepção equivocada sobre a realidade, segundo o Instituto Ipsos Mori. Em primeiro lugar, a África do Sul. Depois de Brasil vêm Filipinas, Peru e Índia. Próximas da realidade: Suécia, Noruega, Dinamarca, Espanha e Montenegro.
Confesso que descobri só recentemente o vocábulo “furdunço”, como classificaria a partida de futebol entre Flamengo e Independiente, na Argentina, no final da Copa Sul-Americana. Houve uma sucessão de brigas em derredor do Maracanã, centenas de torcedores invadiram o estádio sem ingressos, houve pancadaria por todo lado; feridos, balas de borracha e gás lacrimogêneo contra os baderneiros. E somos, ou éramos, considerados os reis do futebol, mas o espetáculo que todo o mundo viu envergonhou a nação e feriu nossos foros de civilização. Belo exemplo, não é?
Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23