Minas Gerais sempre acolheu prazerosamente “e deu boa sombra” a todos que a buscaram e a quiseram. Aqui chegaram os irmãos pátrios, desde os primeiros conquistadores. Ela os recebeu com carinho, mostrando-lhes a magnificência de sua alma gentil, a fertilidade das terras dadivosas e as salutares águas correntes de sua geografia; facultou-lhes, desse modo, as riquezas diversificadas do seio farto. Quem a amou, nela firmou a âncora de seu destino.
Os homens do poder lançaram longe a vista, a procura acirrada de um personagem certo que iria demarcar traços e fazr erguer-se a cidade capital, isto é, que faria pulsar o coração daquelas plagas altaneiras. Veio, do Norte do País, o engenheiro Aarão Reis. E assim tem acontecido a quantos procuram a terra das Minas Gerais, pela sua beleza física ou pelos dotes de excelência na prática adotiva, incluindo-se aí os irmãos estrangeiros, que muito ajudaram a edificá-la.
Aquele menino morava “em uma casa de fachada ampla, coberta com palha de babaçu e com paredes de taipa, em área de 46 hectares”, em Angical do Piauí, onde nasceu, além dos sete irmãos. Depois daquela cavalgada de quatro léguas, no cavalo castanho preferido, até Amarante, para completar seus estudos à luz de lamparina… ele percebeu que este era um “Mundo, vasto Mundo”, como titulou um seu livro, parafraseando Drummond no seu famoso poema.
Homem feito, demandou terras de aconchego, decantadas pelas gentes viajantes, e por causa da “primeira e mais duradoura visão de Minas Gerais: um livro de Geografia que continha na capa a imagem do palácio e da Praça da Liberdade, que lhe pareceu fascinante, com a imagem das imponentes palmeiras imperiais; “o palácio de linhas sinuosas, com a leveza quase feminina”, como em suas palavras escritas. A caminhada foi árdua: “De balsa, de Amarante a Teresina pelo rio Parnaíba. De ônibus, de Teresina a Fortaleza. De trem, até Crato. De caminhão, até Petrolina. De Petrolina a Pirapora, pelas águas revoltas do Rio São Francisco e, de Pirapora, a Belo Horizonte, pelo trem de ferro da Central do Brasil”. Veio, era 1943. Firmou os pés e endereçou o destino nos caminhos de Borba Gato, no desenho edificado de Aarão Reis. Constituiu família ao casar-se com dona Latife Haddad Pereira Santos, na Igreja da Boa Viagem, no dia 15 de abril de 1950, dama que ressaltou na esfera social, com excelente atuação filantrópica. Nasceram-lhe os filhos: Luiz Márcio, Maria Eugênia e Paulo França.
Francelino Pereira tornou-se pessoa estimada e reconhecida pelo povo mineiro. No Senado, defendeu a revitalização do rio São Francisco, e chegou a escrever um livro, em 2001, inspirado nos 500 anos da descoberta do rio “da Unidade Nacional”, por Américo Vespúcio.
Hoje, Minas Gerais é grata ao estado nortista que lhe facultou a presença de um dos mais importantes homens públicos que habitam as páginas políticas de sua História; junto a mestres consagrados, com quem se relacionou, como Milton Campos, Pedro Aleixo, Virgílio de Melo Franco, João Franzen de Lima, Jonas Barcelos Correa e Alberto Deodato – figuras que tiveram o privilégio de assinar o Manifesto aos mineiros, em 1943.
Francelino Pereira iniciou o governo das Minas Gerais em épocas difíceis, quando se vivia a crise mundial de energia, e havia pouco, caíra, no Brasil, o AI5; o País sofria com as mudanças negativas da economia, e em Minas, o estado passava por horas amargas, em meio a crescentes ondas de greves de professores, de trabalhadores da construção civil, e além de tudo, com as chuvas torrenciais que caíram fragorosamente sobre o estado. Mas seu dirigente saiu vitorioso. A energia e o bom tirocínio de Francelino superaram as barreiras e conseguiram que sua administração trouxesse frutos de valor à terra que sempre fora de ideais e realizações. Estendeu ele o olhar para além dos limites da capital, fazendo valer seu salutar comando de administrador, ao criar e desenvolver programas de fortalecimento para 16 cidades de porte médio, a que se chamaram “cidades diques”, para conter a explosão populacional de Belo Horizonte. Lançou ainda sua melhor atenção sobre a região do Vale do Jequitinhonha, cuidando ali da eletrificação; programou a transferência de atividades no conjunto da Praça da Liberdade (e que veio, posteriormente. a nomear-se Circuito Cultural). Foi eleito em várias legislaturas, sendo disto responsável a aceitação popular à sua atuação como Governador do Estado.
Francelino Pereira dos Santos, acima destas qualidades, é homem de cultura. Tomou posse na Academia Mineira de Letras, em 28 de novembro de 2003, merecidamente, par droit de conquête, na qual firma valiosa atuação.
Carmen Schneider Guimarães – Escritora. Presidente-emérita da AFEMIL. Acadêmica da AML, cadeira n.5.