Para premiar seus leitores neste ano em que chega aos 70, Edgard Pereira concluiu e fez publicar, no final de 2017, “Dias portugueses e outros”. Algo para comemorar, somando o novo livro a “Violeta trindade”, “O lobo do cerrado” e “Outono atordoado”, premiado pela Xerox do Brasil, em 2001. Não só: professor aposentado de literatura portuguesa pela UFMG, doutor em Letras pela UFRJ, se lhe devem ainda, por sua produção como crítico literário e ensaísta, os títulos “Portugal, poetas do fim do século”, “Mosaico insólito” e “Arquivo e rota dos sonhos,” com edição portuguesa em 2014.
Lançado pelas Edições Suspiros Poéticos, de Belo Horizonte, o volume que se editou agora constitui uma homenagem ao livro “Suspiros poéticos e saudades”, de Domingos Gonçalves de Magalhães. Mas estas são apenas referências, porque nele se encontra muito mais do que o previsto no singelo título. É mais ainda do que um simples “diário” como sugerido.
Vale a pena a leitura, porque – através de Edgard Pereira – nos aproximamos dos modernos autores de além Atlântico, em África e Europa, embora nos atualizemos sobre o que há de novo nas letras do lado de lá e, ainda, do obituário de nomes expressivos.
O escritor, contudo, não se restringe a Portugal, porque se atém às efemérides, produção de obras, eventos e prêmios, o cotidiano em torno do que se chama “vida literária”, como o fez Eduardo Pitta, de Moçambique. Muito agradável a viagem com o professor mineiro que, ao desembarcar em Lisboa, lembra que Camões, no canto três de “Os Lusíadas”, enaltece as canções de fado e a histórica, nobre e calorosa cidade.
Observa: “o fanatismo pelo futebol lá também existe, talvez em escalas mais civilizadas, se tais sentimentos podem ser graduados”. Comenta que, “por mais que os portugueses reclamem das medidas de austeridade adotadas pelo governo, nada pode ser dito que lhe desmereça a competência e determinação na gestão do patrimônio público. Percebe-se a atuação de pessoas que trabalham de forma séria e compromissada, “detalhe que sinto nas mensagens que de lá me enviam os escritores Ronaldo Cagiano, de Cataguases, e Eltane, que decidiram trocar a residência da terra descoberta por Cabral pela de seu nascimento.
Mesmo de longe, Edgard acompanha o Brasil. Quando da Copa do Mundo, em 2014, aqui realizada. Cláudia Leite cantou o hino da competição, usando um maiô escuro e se tornou piada nas redes sociais lusas com o apelido de “galinha pintadinha”.
Na sequência das lembranças, a de Lúcia Machado de Almeida, falecida em 2005, a quem visitara no apartamento na Praça da Liberdade, onde sabia receber bem ao lado do esposo, o idealizador do Museu do Ouro, em Sabará, Antônio Joaquim de Almeida. Recorda-se, ainda, Pedro Rogério Couto Moreira, nosso confrade na Academia Mineira de Letras, filho de Vivaldi, presidente perpétuo do sodalício e culpado de meu ingresso ali, com cumplicidade de Murilo Badaró, seu sucessor.
Pedro Rogério encaminhara a Pereira o opúsculo “Geografia Sentimental de Miguel Torga em Minas Gerais”, separata da Revista da Academia, de que sou por ora editor. Também evocado o acadêmico Benito Barreto, o homem da “A Saga do Caminho Novo”, quando de sua concorrida posse. Enfim, um belo encontro com o excelente professor-escritor.
Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23