As grandes utopias do século 20 minguaram. O capitalismo triunfou até na China, onde impera o tipo selvagem, primo-irmão do nosso. O ser humano, contudo, é feito de sonhos. Não vive sem eles. No século 18, diante do sucesso da Revolução Industrial, pretendeu nada menos que aperfeiçoar a natureza. Julgou que ela carecia de seu gênio para ficar civilizada. Buscou-se um mundo livre de pestes, cobras, aranhas, árvores, mato. Até os índios entraram no rol do extermínio. O progresso exigia desmatamento, dizimação, geometria e a instalação de enormes gramados para a contemplação do horizonte. O conceito de verde era bem rasteiro. Vinte centímetros, no máximo.
Bons exemplos dessa filosofia são os parques públicos ingleses. Alojam plantas e animais na camisa de força do projeto paisagístico. São, sem dúvida, bonitos, porém não conseguiram o intento. Logo, uma vez mais, se redescobriu que a melhor mestra da beleza é a própria natureza, sem a intervenção humana. Os ingleses passaram a preservar suas áreas ainda intactas, mantiveram as serras e os machados longe delas, e os norte-americanos criaram os primeiros parques nacionais.
Essa redescoberta, entretanto, custou a chegar ao Brasil. Aliás, até agora não chegou. Aqui o capitalismo ainda não considera a natureza. Milhões de árvores são sacrificadas em projetos mal estudados. Vivemos o drama das queimadas, das quais somos campeões mundiais. Pastagem e agricultura parecem melhores opções que árvores. Não são. Florestas poucas nações possuem. A Amazônia só nós temos.
Precisamos de utopias. Defender a natureza é uma, talvez a mais fundamental no momento. A maioria dos brasileiros ainda não dá importância para a preservação. Desdenha sua defesa como coisa de radical, de retrógrado ou de chato. Que seja. A médio prazo, a preservação virará questão de vida ou morte. A utopia de hoje será a salvação do amanhã. Ainda há tempo para escolher de que lado ficar. E agir.

 

Por Luís Ângelo da Silva Giffoni, ocupante da cadeira nº 33  da Academia Mineira de Letras.