Quando se lê ou se escreve sobre a Rússia, tem-se de armar de todo cuidado quanto às datas, que podem parecer confusas. Até 1918, lá se usava o velho calendário Juliano. No século 19, estava com doze dias a menos em relação ao calendário Gregoriano, adotado praticamente em quase todos os outros países. No século 20, a folhinha russa revelava treze dias de atraso.
Quem poderia esclarecer esse problema é J.P.Lozar, mas não posso me omitir. Outro aspecto a ser lembrado: “O russo, o cidadão, tem três nomes: o primeiro é o de batismo; depois, vem o nome do pai acrescentado de vich ou vitch, ou seja, filho de; e, finalmente, o nome da família. Assim, o último czar era Nicolau Alexandrovitch Romanov. No caso de mulheres, o segundo nome é o do pai com Evna ou Ovna, no finalzinho da palavra, que quer dizer filha de”.
Tudo para contar que a Revolução de Outubro, que levou ao poder os sovietes se deu em 7 de novembro de 1917. No prefácio de “Dez dias que abalaram o mundo”, Crupscaia, mulher de Lênin, indica outubro para situar a revolução. Conta que o autor da obra, John Reed, norte-americano, “está ligado indissoluvelmente à “Revolução Russa”, e seu corpo “repousa na base do Muro Vermelho do Kremlin”. No entanto, o próprio Reed, no prefácio, adverte que “é preciso ter-se em conta que foi, não em 25 de outubro, mas em 7 de novembro de 1917, que o império dos tzares ruiu”. Em todo caso, o jornalista de Oregon, EUA, foi prudente – usou as duas datas para registrar esta observação no posfácio da edição soviética.
Realmente, a revolução de 1917 não seria factivamente de outubro ou novembro, porque começou em fevereiro–março, a partir de quando ganhou terreno e adeptos. Constituía a explosão dos sentimentos populares represados ao longo de séculos, aguçados pela ininterrupta propaganda e ação de grupos que ansiavam o poder. “Assim, muito tempo antes do socialismo marxista ter sido sequer sonhado”, escreveu Bertran Wolfe, em ‘Three Who Made a Revolution’, “o Estado russo tornara-se o maior proprietário de terras, o maior industrial, o maior empregador de mão de obra, o maior comerciante, o maior proprietário de capital, na Rússia ou no mundo… Sendo isso transformado no maior aparelhamento burocrático do mundo”.
É tema fascinante para todos os que pretendem saber sobre a história, e a história da Rússia, com proposto por Falcionelli, catedrático argentino da Universidade de Mendoza.
O mundo estava atrasado. O avô do último soberano, Nicolau II, Alexandre II, percebeu a situação e, em 1861, contra monumental oposição, libertou os escravos, mas surgiu um sistema de servidão de outra espécie, até em condições piores em vários aspectos. Allan Moorehead alerta: O que o rei soberano achava importante era apenas um princípio de coisa. Mas a escravidão não era peculiar à Rússia, pois também produziria a guerra civil nos Estados Unidos.
Sob Alexandre, começou-se a definir um plano para uma Constituição. Em 31 de março de 1881, contudo, o tzar foi vitimado por uma bomba, que o deixou mutilado e levado ao Palácio de Inverno para morrer.
Em outubro–novembro de 1917, o órgão oficial dos socialistas moderados escreveu: “O drama da revolução tem dois atos: no primeiro, destrói-se o velho regime; no segundo, cria-se o novo. O primeiro ato já durou muito tempo. Chegou o momento de passarmos, quanto antes, ao segundo”.
Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23.