Dois de novembro, Dia de Finados, que a Igreja Católica destina à oração pelas almas dos mortos. Nem tudo é absolutamente triste e São Francisco de Assis chamava o desenlace último de “irmão”, como ao fogo e ao lobo.

Em dia de ir aos cemitérios e levar flores aos túmulos dos que nos precederam, nasceu Abílio Machado Filho, homem de bem, um cavalheiro, culto e dedicado às melhores causas e merece toda homenagem. Um dos mais próximos colaboradores de Milton Campos no Palácio da Liberdade, desempenhou papel semelhante ao do pai, esteio do presidente Antônio Carlos.

Ivan Lins, da Academia Brasileira de Letras, autor de obras fundamentais às letras e história, filho do ministro Edmundo Lins, presidente do Supremo Tribunal Federal na ditadura Vargas, registra que, em vez do preto ou escuro, como entre os romanos e os modernos, o luto na Idade Média era branco, símbolo da pureza, segundo São Clemente de Alexandria. Só a partir do século XIV, começou o preto nos trajos para as manifestações de dó, palavra masculina comumente em bons autores antigos.

Acrescenta na lição: “Almáfega”, ensina Viterbo, era o burel branco e grosseiro de que os nossos maiores faziam o seu dó. Não só os parentes e amigos do finado vestiam dele por todo o tempo que durava o luto, mas ainda outros quaisquer que o queriam vestir por honra do defunto, o podiam fazer. Acabado o tempo da tristeza, os testamenteiros lhes recompensavam a fineza com um estilo de Valenciana (estilo de moda francesa), ou com outro pano alegre e festival”.

Para este tempo de oração e veneração, guardei um texto de Andreia Donadon Leal. A autora, nascida em Itabira e residente em Mariana, juntou sua força poética num opúsculo, ilustrado por Bruno Grossi Begê.

“Eu e meus pais vivíamos numa casa aqui embaixo. O primeiro quarto era meu, o segundo de papai e mamãe. A casa tinha um banheiro, uma sala comprida, outro cômodo que servia de copa e cozinha, um quintal com vasos, flores coloridas e dois pés de pitanga. Mamãe me levava para a escola todas as manhãs, enquanto o sol espalhava luzes no céu. Um dia, mamãe foi levada à noite por um carro branco grandão com letras vermelhas e uma sirene que apitava sem parar. A casa ficou grande e triste. Os vasos murcharam, a grama do quintal virou mato, os pés de pitanga pararam de florescer. As duas únicas pitangas vermelhas eram os olhos do meu pai: os meus se encheram de lágrimas e no meu coração só batia saudades… Vovó, mãe do papai, veio morar aqui em casa. Agora é ela que me veste para a escola, que me dá banho, que me ensina a lição. Papai chega em casa depois do trabalho, me coloca para dormir contando estórias sobre o sol, a lua e as estrelas que precisam iluminar todos os dias aqui embaixo! Um dia papai me disse que mamãe foi morar na casa lá de cima para acender e apagar as luzes do céu e que lá em cima é tão grande, que eles precisam mais da mamãe lá do que a gente aqui embaixo… A casa lá de cima vai funcionar muito bem com a ajuda da mamãe, que sabe fazer de tudo! Então eu comecei a ajudar a vovó a cuidar da casa, do jardim, das árvores, dos vasos e dos pés de pitanga, que começaram a brotar de novo! Os olhos de papai ficaram claros, os meus pararam de chorar… Vovó me contou um dia desses que toda vez que a gente sentir saudade é para olhar para o céu, que mamãe sempre estará em casa lá de cima soprando o sol pela manhã e acendendo as estrelas à noite…

 

Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23.