A produção de Pedro Rogério, jornalista escolado, há muitos anos radicado em Brasília (DF), se tinge do memorialismo de melhor extração, gênero que, aliás, também consagrou, a par do ensaísmo, seu inesquecível pai, Vivaldi Moreira, presidente perpétuo da Academia Mineira de Letras.

Em Amor a Roma, amor em Roma (Brasília, Editora Thesaurus, 2013, 184 págs.), Pedro Rogério glosa suas andanças e paranças em Roma, tendo como interlocutor o clássico O Amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos, e encarando a “Cidade Eterna” pelos óculos de Afonso Arinos de Melo Franco Sobrinho, a partir do seu indispensável ensaio histórico-cultural Amor a Roma (em que Arinos nos extasia com suas preleções sobre imperadores romanos, pontificados, famílias nobres, Roma na Idade Média, Renascimento, monumentos históricos, logradouros, potins etc).

Em Roma, testando restaurantes (pinçados ao acaso), ponderando o nível das acomodações de diferentes hotéis, Moreira encontrou as condições psicológicas mais apropriadas para incursionar por esses livros levados na sua bagagem de mão. Trata-se de uma reportagem afetiva e despretensiosa, vazada no estilo ático, terso e diáfano, bebido nas fontes clássicas da expressão, estilo que singulariza a dicção do autor sem se despojar da sobriedade (recordo aqui conselho que sempre tenho à mão de Afonso Pena Jr.: “Azeite demais apaga a candeia”).

No seu diálogo interior, sempre reconcilia tradição e modernidade, como o atestam obras anteriores de Pedro Rogério, como O Almanaque do Pedrim. O autor relaciona os escritores que cantaram Roma “sob os impulsos muito mais do amor do que da arte (p. 109), e não sonega ao leitor a emoção que viveu na cripta da igreja de São Francisco de Assis, compartilha os instantes prazerosos nas caminhadas diárias e nos momentos regados a vinho e grappa. Não esconde sua decepção ao se dar conta da morte do Carvalho de Tasso, a árvore em cuja sombra se refugiava o poeta épico Torquato Tasso (1544-1595). O leitor respira a atmosfera digna de um filme de Ugo Tognazzi.

No Gianicolo (colina do Janículo), Moreira nos conta que fruiu a melhor vista da cidade. E não deixa de resenhar sua romaria por Trastevere, o bairro romano tido por boêmio, sua flânerie pelo casario de Assis, por Nápoles, pelos restos da Roma Imperial (Coliseu, Palatino). Aqui e ali, se identifica com o funcionário público Belmiro e suas filosofanças, Belmiro, bisonho, tímido, sonhador e introvertido, dividido entre a mesmice da sua vida medíocre de burocrata de meia-idade e o amor idealizado por uma moça que mal conhece. Pedro Moreira reserva, ainda, sempre uma palavra delicada à sua expedita guia napolitana, Chiara, que tem uma turbulenta vida amorosa, daí por que o autor improvisa-se como cupido.

O diário de viagem Amor a Roma, amor em Roma coloca o proustiano Pedro Moreira na vanguarda dos nossos escritores.

 

por Gabriel Kwak

Jornalista, escritor, bibliófilo, membro da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) e ex-diretor da União Brasileira de Escritores. Texto publicado na Revista da Academia Mineira de Letras | ANO 93º – VOLUME LXXI – 2015.

 

Foto: Rodrigo Valente