Então ela veio visitar-me
trazendo consigo seu olhar tristonho, docemente embargado.
Como no sonho sem saber que não é sonho.
Voltem, dias de ventura, e tragam-me o meu sorriso,
voltem, meus amigos, e façam-me feliz
tragam para mim as ondas amadas,
ceifem esta dor tão desapropriada
que em nada combina
na visão emoldurada da bela donzela
que canta, dança,
encanta nas janelas de minha alma.

Vento, sopre até ela e leve saudades…
Em devaneios sucumbo, em miragens
como no sonho, sem saber que não é sonho.
Examino à minha volta e dou meia-volta.
Na bagagem só a saudade me acompanha.
Leve-me daqui, que já não é o meu lugar.
Vou para junto de ti, ó donzela,
porque a felicidade me abandonou.
Como pudeste deixar-me aqui
em sofreguidão a lamentar por ti?

Tanto amor que prometeste …
Leve-me agora a escuridão em ondas de escuma,
leve-me embora, anjo da noite,
não posso mais ficar. O destino me traiu,
levou o meu amor
sem um último adeus, sem um último beijo.
Deixou-me esta dor…
Não suporto mais viver.
Como Romeu, quero um gole
do veneno que te levou.

Como no sonho sem saber que não é sonho,
encontrar meus amigos
que me façam feliz.
Amor meu, amor meu,
Mais um pouco e já sou teu.
(Após ler um pouco de Álvares de Azevedo)

por Sharon Penha da Silva
Poetisa, reside em Belo Horizonte | Texto publicado na Revista da Academia Mineira de Letras | ANO 92º – Volume LXX – 2014

Ilustração: João Cabral de Melo Neto