Vivemos um tempo de mudanças rápidas, efêmeras, alavancadas pelo desenvolvimento tecnológico muitas vezes desenfreado. Durante 2020, no entanto, o cenário mostrou modificações diversas, muito mais profundas, que nos atingiram de forma global e indiscriminada, ocasionada pela pandemia do Covid 19. No entanto, mesmo em momentos tão complexos pudemos vivenciar, de forma não convencional, experiências belas – inclusive as proporcionadas pela tecnologia, aproveitando um pouco desse caráter utópico do acesso à informação – e aprender mais, mesmo sob novas formas.

No âmbito da Academia Mineira de Letras não foi diferente. Houve a necessidade de muitas adaptações para lidar com as dificuldades e percalços, buscando trilhar os novos caminhos com leveza e um alcance que o tempo real muitas vezes não era capaz de atingir. Este ano foi definitivo para uma atuação acentuadamente virtual e percebemos que esta era uma escolha acertada, pois ampliamos de modo significativo nossa capacidade de levar  conteúdos relevantes para mais pessoas. Uma programação em sua maioria gratuita incluiu desde palestras disponibilizadas no canal do Youtube da Academia à nossa novíssima plataforma AML Cursos, na qual ocorreram as Ações de Formação.  Esse Programa também se expandiu e levou a professores, em especial da rede pública, conteúdos do universo das letras, de forma didática e acessível.

As Ações Formativas de 2020 aconteceram no âmbito do Plano Anual de Manutenção AML 2020- PRONAC 193019, realizado mediante a Lei Federal de Incentivo à Cultura, com patrocínio do Instituto Unimed-BH e da CEMIG. A parceria com a SMED, órgão da secretaria de educação da Prefeitura de Belo Horizonte, também merece destaque para as realizações deste ano, pois proporcionou o mais importante para um programa educativo – atingir amplo público – constituído por professores, educadores, bibliotecários e coordenadores de escolas públicas, além de estudantes de cursos de Letras e até mesmo estudantes de pós-graduação.

Foram disponibilizadas as oficinas “Ensinando Poesia com Tipografia”, com Ana Paula Dacota; “Utopias e Distopias”, com Sabrina Gomes; e “Como Criar um Podcast utilizando softwares gratuitos”, com Thomaz Maioline. Os 334 participantes distribuídos nestas oficinas acompanharam todas as atividades disponibilizadas no hotsite, compartilhando ativamente os conhecimentos e técnicas apresentadas – como atestou nosso controle de acessos à plataforma, disponibilizados entre 20.10 e 21.11.2020, com acesso contínuo.

Eram objetivos das oficinas discutir conceitos, além de apresentar metodologias e conteúdos aos educadores, de modo que estes pudessem aplicar os conhecimentos em sala de aula ou, no caso, em ambiente remoto. A interação desses participantes até o dia 20/11 se deu por meio de Fóruns de discussões, criados para cada uma das Oficinas e por meio de um Chat, na plataforma, de onde foram coletados excelentes retornos, tanto a respeito do ambiente virtual de aprendizagem quanto sobre os conteúdos das oficinas, das orientações e atividades sugeridas  – como pôde ser visto em vários dos relatos dos participantes pelo chat, fórum de nosso encontro síncrono.

O encerramento das Oficinas Formativas ocorreu no sábado 21/11, em uma live, momento interativo com os participantes, onde os três ministrantes se encontraram presentes em uma sala do Zoom. Foram oferecidos dois encontros, um às 15h e outro às 17h, de modo a ampliar os acessos. Houve uma complementação do ministrante Thomaz Maioline sobre o conteúdo, um novo aplicativo surgido recentemente em meio à pandemia para realização de Podcasts, oferecendo, assim, uma atualização em relação ao curso na plataforma. Os participantes que comparecerem ao encontro virtual tiraram dúvidas, fizeram comentários a respeito das oficinas e houve uma interessante troca de informações.

Oficina de Podcast

A oficina de podcast trouxe a perspectiva do que as novas tecnologias podem oferecer e como os professores podem passar um conteúdo de qualidade de forma mais próxima àquela que os alunos já consomem. Além disso, o fato de o podcast poder ser consumido como um programa de rádio, enquanto o ouvinte faz outras atividades, viabiliza a professores e alunos processarem informações enquanto se ocupam de afazeres domésticos, especialmente em tempos de pandemia. O podcast vem, assim, como uma alternativa de fonte de informação conciliada com a possibilidade de multitarefas.

Os professores puderam aprender, por meio dessa oficina, como fazer uso de um recurso gratuito de mídia e poder transmitir conhecimentos de forma mais efetiva. Ilustra esse resultado o relato da professora Jéssica Rodrigues Romualdo, articuladora de leitura da escola onde trabalha com 29 turmas (E.M. Maria de Rezende Costa)  O podcast permitiu-lhe incrementar o dia a dia da escola e dos alunos, gravando episódios de temas que foram desde o livro favorito de um dos professores a poemas autorais dos alunos. Como vemos na imagem abaixo, a professora usou os recursos e extrapolou criando um canal com vários episódios de podcast (https://anchor.fm/clube-da-leitura-emmrc) e um padlet  (https://padlet.com/clubedaleituraemmrc/rlv2aexm0bo5ulnp). A professora Jéssica mostrou  que é possível oferecer informações de qualidade para os alunos sem o custo de recursos tecnológicos caros.

Outros relatos registraram que embora o contexto da pandemia tenha dificultado a aplicação dos conhecimentos adquiridos em atividades docentes, alguns professores conseguiram desenvolver experiências satisfatórias, embora sem adesão dos alunos, em grande parte pelas limitações de interação remota. Foi este o depoimento da professora Jacqueline Peres Vieira de Souza, da EM Geraldo Teixeira da Costa, que chegou a fazer uma proposta  a alunos do 1º e 2º ciclos, mas não obteve adesão. Foi também o caso do professor Ailton Alves Guimaraes, da EM. Monsenhor Artur de Oliveira: “Estamos caminhando. Os estudantes compraram a ideia, mas em função do distanciamento estamos tendo muita dificuldade, principalmente de nos encontrarmos. Por ora, foi ensinado aos estudantes como se faz o podcast, os softwares gratuitos e o que se agrega de conhecimento ao estar participando ou fazendo um podcast. Os estudantes estão meio reticentes em usar o audacity; preferem o anchor por ser direto; ainda estamos trabalhado os 2 softwares.”

O professor Alex Costa Nunes, da Diretoria Regional de Educação Norte – SMED/PBH, com atuação na Educação Infantil de 3 a 5 anos, sugeriu aos pais a gravação de histórias e relatos, mas também não conseguiu avançar no processo.

A professora Janete Rocha Leite Reis, da E.M. Padre Flávio Giammetta, no Barreiro, relatou: “Infelizmente, nesse momento de teletrabalho, a escola, diante do acesso dos alunos em pesquisa realizada com as famílias, optou por oferecer atividades em material imagético. Nesse aspecto, a aplicação das atividades não foi possível.

Diante da atual situação de teletrabalho e as orientações estabelecidas pela escola diante da Pandemia, não foi possível utilizar com os alunos o material.

Porém, com minha pouca experiência com o material Podcast, percebi que é um recurso que incita uma gama de possibilidades. Os canais de aprendizagem são diversos e ouvir sobre um determinado assunto, com a dinâmica de parar, continuar e voltar a ouvir ampliando o aprendizado.

Por ser um canal que era pouco explorado e com a nova situação atual que foi fomentada pela pandemia, percebo que é um meio de grande potencial que vai além da comunicação por si.

O material facilita a aquisição, pois tem várias linhas de acesso e de forma gratuita. Diante dos vários materiais oferecidos pelas mídias, o “poder da escolha”, desponta como um indicador de novas fontes de conhecimento com qualidade, propondo reflexões sobre os assuntos abordados.

Como cursista que busca outras formas de apresentar assuntos aos alunos utilizando os recursos disponíveis atualmente, minhas expectativas foram em grande parte supridas.

Contudo, só conseguirei mensurar a dimensão do alcance do material de Podcast quando, efetivamente, utilizar em atividades com meus alunos.

Perspectiva semelhante foi apontada pela participante Juliane Alessandra Gama, graduanda em Letras/Português, na UFMG: “A aplicação foi relevante e demonstrou que no ensino devem ser exploradas novas possibilidades, como o PODCAST, podendo esse recurso ser utilizado para interação com temas diversos, otimizando o tempo do ouvinte do PODCAST”.

Já a professora Olga Lúcia Alves Netto, da E.E. Tomás Brandão, que atua no Ensino Fundamental 3 – no 8ª ano justificou a ausência de relato em relação a essa oficina, pela impossibilidade de interação devido à pandemia.

Para a professora Tatiane Nunes de Souza, da Escola Municipal Mário Mourão Filho, que ministra aulas para crianças de 6 e 7 anos do 2º ano fundamental, a oficina facilitou seguir as orientações da escola – de manter contato mesmo remoto com os alunos. A professora criou um blog com roteiro de atividades adequadas à idade dos estudantes. Disse ela: “Como são crianças que ainda estão no processo de alfabetização e ainda não possuem autonomia para ler e escrever, busquei mesclar diversas linguagens que não fossem prioritariamente a verbal, escrita. Assim sendo optei por explorar imagens, vídeos e áudios, a fim de dar continuidade ao Projeto iniciado antes da pandemia: ‘Brinquedos e brincadeiras das três etnias que formaram o povo brasileiro: Minas 300 anos’.  A maioria das famílias retornaram, indicando pelo WhtasApp, canal de contato,  que o acesso às atividades foi tranquilo e que o fato de utilizar o áudio e o vídeo, facilitou a compreensão e a realização das tarefas propostas pelos estudantes, uma vez que a realização das tarefas não era obrigatória, tampouco avaliativa. A gravação dos podcasts foi feita pelo telefone celular mesmo, em casa e hospedado no “soundcloud”, pois é uma plataforma gratuita, embora limitada.” Quanto aos resultados alcançados, a professora esclareceu que foram positivos porque os objetivos foram alcançados, uma vez que o uso dos recursos: ampliou o acesso das crianças; ampliou o acesso às diversas linguagens e facilitou a compreensão das tarefas. Embora as atividades, no site, concentrassem propostas verbais escritas, as outras linguagens e os áudios também se fizeram presentes. O uso de áudios dentro dessa proposta e com as crianças, se tornaram importante e interessante ferramenta de compreensão, acesso a conteúdos, participação e interação, especialmente para as crianças que ainda não completaram o ciclo de alfabetização.  Como informação adicional a professora acrescentou: Os links para os arquivos foram disponibilizados na página do Blog: https://sala10emmmf.blogspot.com. Com as novas orientações da Secretaria Municipal de Educação, essa iniciativa individual foi ampliada para toda a escola. Assim a Direção pedagógica com apoio técnico de outros funcionários, criaram um site com o objetivo de armazenar e publicizar atividades organizadas pelos professores e disponibilizadas para as crianças. https://www.portaldomario.com.br/

A professora Geralda Aparecida Gomes Silva, da Escola Municipal de Educação Infantil Silva Lobo, considerou as informações repassadas “muito úteis para apoio ao teletrabalho”. A participante demonstrou ter apreendido bem as orientações, especialmente quanto às etapas da criação de um Podcast. “Para criar um Podcast é necessário um planejamento e um tema definido, roteiros e software para gravação e edição.”

O professor Igor Alves Noberto Soares, que atua na Faculdade Santo Agostinho de Sete Lagoas, no 7º período, com 30 alunos, relatou excelente experiência com a aplicação dos conhecimentos adquiridos: “Leciono a disciplina Argumentação e Lógica no Curso de Direito da Faculdade Santo Agostinho de Sete Lagoas. A disciplina, em seu aspecto filosófico, desperta bastante curiosidade dos estudantes, mas o nível de interlocução para além da seara jurídica é de difícil compreensão por grande parte dos discentes. Nesse sentido, a partir da elaboração de um pequeno “projeto” na primeira etapa, os estudantes elaboraram um podcast, entregue no dia 30 de novembro, no valor de 20 pontos. Na primeira etapa de notas, demonstrei como elaborar um pequeno projeto de pesquisa, com a indicação de problema e hipóteses. Na segunda etapa, elaborei um roteiro com dicas de  gravar o podcast, inclusive me portando a partir do material disponível no curso oferecido pela Academia Mineira de Letras”. Os resultados alcançados foram animadores: “Após a apresentação dos padrões de elaboração dos trabalhos, os estudantes expuseram, cada um, os temas dedicados ao podcast. A ideia apresentada tinha como fundamento a indicação de um problema  e suas hipóteses. Como estamos em um Curso de Direito, solicitei que utilizassem os prováveis temas do  Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia Jurídica), com a necessidade de apresentar o problema, uma tese e uma antítese (hipóteses), que deviam ser oralmente expostas com fundamento nos conteúdos discutidos em sala. De trinta estudantes, vinte e seis cumpriram a atividade, utilizando o software AUDACITY. Considerando  a realidade imposta pela pandemia, facultei aos estudantes com dificuldades que elaborassem o podcast  com o uso dos gravadores dos celulares. Os temas apresentados foram os mais variados, permeando todas as áreas do Direito (Direito Civil,  Direito Constitucional, Direito Penal, Direito do Trabalho, Direito Tributário, entre outros), todos com a  discussão proposta de fundamentar criticamente os institutos jurídicos.  Como docente, apresentei sistematicamente os pontos do podcast, desde a vinheta inicial até a conclusão, a partir das possibilidades do próprio AUDACITY. Como a Instituição de Ensino exige a postagem das atividades na Plataforma CANVAS, solicitei aos que não conseguiram postar nas  plataformas o upload dos arquivos .MP3. Alguns estudantes fizeram a postagem dos áudios em  plataformas livres, o que atingiu grandiosamente as expectativas.  Todos os trabalhos possuíam enorme diversidade teórica e profundidade argumentativa. Os critérios de  avaliação foram: observância à estrutura do podcast (5 pontos), exposição argumentativa (10 pontos) e cumprimento da atividade no prazo estabelecido (5 pontos)”. O professor acrescentou: “Na minha percepção, os resultados alcançados correspondem às expectativas. É difícil usar de metodologias ativas no Curso de Direito, justamente pelas bases dogmáticas que permeiam toda a  caminhada acadêmica.”

O professor e comunicador Thomaz Maioline também relata  “Para mim foi uma experiência muito recompensadora oferecer uma oficina para a Academia Mineira de Letras. Existem dois motivos que se destacam: o peso da Instituição e o meu interesse em contribuir com novas tecnologias de ensino para professores. Cada dúvida que surgia de um professor, cada agradecimento recebido, para mim é tudo estímulo genuíno para continuar a pesquisa e o trabalho em prol dos professores e do ensino. Fica o meu agradecimento à AML e os responsáveis por essa oportunidade.”

 

Oficina ensinando poesia com tipografia

A oficina ensinando poesia com tipografia apresentou a obra de Guilherme Mansur, poeta e tipógrafo mineiro. Esta aliou a poesia visual à didática e facilitou o acesso ao pensar poético, em conjunto com o caráter artístico da tipografia, o que significou uma nova experiência para os alunos, em especial os mais novos. A iniciativa de trazer gosto pelo poético, pelas artes plásticas e pela tipografia para as crianças, através do lúdico vem ao encontro do desejo de tantos professores –  trabalhar a poesia em sala de aula.

A poesia é entendida por muitos alunos e professores como um gênero textual hermético e essa oficina, ao trazer o ato de brincar para os poemas, faz com que essa hermeticidade se dilua na brincadeira. A obra de Mansur usada na oficina chama os alunos e professores a pensar além do verso e da rima. Usando a tipografia – que é um recurso por muitos considerado obsoleto, devido à ascensão dos formatos digitais -, traz a voz da tradição, pois os poemas dos bichos tipográficos mostram que a tipografia não está morta, está viva e é de uma potência imensa. Como vimos no relato da professora Mirian de Souza Andrade Ferreira, da E.M. Fernando Dias Costa, no Taquaril, as atividades levaram sua turma a mergulhar de cabeça no mundo mágico das brincadeiras com palavras e formas. A professora mostrou que as crianças, ao experimentarem as formas, os animais e as tipografias, puderam ter uma experiência poética literária e artística.

Segundo a professora:

A proposta foi apresentada de forma clara e linear. Os textos foram apresentados de forma a criar um interesse especial pela PALAVRA, em si. Houve a condução de uma espécie de “busca” pelo que pode estar por detrás da criação de um texto poético. A exploração visual do texto, antes mesmo do processo de leitura. Uma forma de absorvê-lo de jeitos diferentes dos convencionais. Brilhante!

Ela também ressalta sobre como usará esse material:

Estamos trabalhando com a confecção de materiais impressos para entrega aos alunos. Um processo alternativo em tempos de isolamento. Para o próximo bloco de atividades já inclui algumas das sugestões apresentadas.

 

Primeiramente, ao participar da oficina fiz, eu mesma, as atividades propostas e foi muito interessante porque percebi que exige muita concentração e criatividade, em busca da habilidade de imprimir movimentos novos, formas inéditas ou desconstruir as palavras. Tive que mastigá-las e devolvê-las de um outro jeito.

Depois pedi que minhas filhas (16 anos) também fizessem alguns exercícios e percebi que elas ficaram motivadas. E, o mais interessante, as produções delas foram bem diferentes das que eu havia feito. Reconheci que, nessas atividades, a interpretação passa para o papel em forma de novos signos.

Atualmente, tenho me dedicado à elaboração de propostas de roteiros de leitura, como parte do material didático a ser entregue aos alunos. Resolvi, então, me lançar à tarefa de “brincar” com as palavras e inserir atividades aprendidas na oficina no material que está sendo produzido por mim e pelo grupo de professores que trabalham com as turmas de 6º e 7º anos.

 

Infelizmente, as atividades propostas no mês de Novembro/2020 serão entregues aos alunos em Dezembro/2020 e, portanto, só serão devolvidas para avaliação das produções e interações, em Janeiro ou Fevereiro de 2021. Acredito plenamente que haverá uma participação significativa dos alunos e espero pelos resultados atendam às expectativas.

Ainda assim, gostaria de aproveitar a oportunidade para agradecer pela “maravilhosa” oficina, pelos conhecimentos compartilhados e pela visão de novas formas de ensinar e aprender…

 

A professora Jaqueline Peres Vieira de Souza, da EM Geraldo Teixeira da Costa, chegou a elaborar uma proposta, mas apesar de todo esforço da professora ela não conseguiu realizar as atividades satisfatoriamente durante a pandemia:

 

“Consegui elaborar uma proposta, mas infelizmente não houve adesão da turma. Estamos trabalhando remotamente e meus alunos não têm acesso à internet ou celular em bom estado. Pretendo realizar esse trabalho presencialmente, acredito que surtirá grandes frutos. Eu adorei brincar com as palavras.

Percebi que a proposta foi muito interessante para as crianças. Inicialmente fiz as atividades propostas e me deliciei brincando com as palavras, cores e formas. Depois tentei incentivar as crianças a realizarem as atividades. Como estamos remotamente e as crianças não conseguem ter acesso a vídeos longos, não consegui explicar como fazer, somente coloquei os exemplos no grupo do telegrama. Infelizmente não tive retorno. Trabalho com crianças de 8 anos e os familiares ficam fora o dia todo o que impossibilita a assistência para realização das atividades.

Esperava que as crianças se aventurassem sozinhas para realização das atividades.”

 

A graduanda Juliane Alessandra Gama (UFMG) vê diversas possibilidades na aplicação dos recursos da tipografia em atividades de literatura e poesia.

A professora Alessandra Angélica Custódio, da UMEI Silva Lobo, vinculada à E. M. Magalhães Drumond, na Nova Granada, relata que “A aplicação ocorreu de maneira satisfatória e bem lúdica, onde busquei brincar com as palavras da vivência das crianças (4 anos) e com palavras que podem ser encontradas em livros manuseados e trabalhados por elas, livros que fazem parte de seu universo de leitura”. Como resultados, a professora apresenta: “A criança se divertiu muito ao ver como as palavras podem ser transformadas e, à medida que eu ia escrevendo, ela ia sugerindo outras possibilidades. Foi uma forma lúdica e muito divertida de escrever as palavras”.

A professora Olga Lúcia Alves Neto, da E.E. Tomás Brandão, relatou que “no momento é obrigatório o uso do material da Secretaria de Educação”.

A professora Gisele Moreira, da Escola Municipal Doutor Júlio Soares, disponibilizou a atividade a seus alunos com uso de whatsapp. “Tendo em vista o fechamento das escolas devido à pandemia, a atividade foi executada por parte dos alunos (6º ano), que a fizeram no caderno, porque foram orientados a fazer todas as atividades no caderno, às quais não tive acesso, porque fomos orientados a deixar o material em quarentena por pelo menos 20 dias. Apenas um aluno enviou-me pelo whatsapp seu trabalho”. Quanto aos resultados, a professora acredita que foram satisfatórios “pois mesmo diante do distanciamento pude observar a interação dos estudantes em executar a tarefa, mesmo utilizando apenas o whatsapp. A grande maioria aderiu ao projeto.”

Ana Paula Dacota, poeta, pesquisadora que ministrou a oficina relata como,. para ela, essa foi uma oportunidade ímpar e mostrou o potencial do compartilhamento da arte das palavras que em sua essência são poéticas. “Foi uma experiência muito rica de conseguir passar um pouco do que aprendi no meu mestrado sobre o Guilherme Mansur, poder utilizar uma parte da obra dele numa oficina, gerando um efeito multiplicador que alcançou mais de uma centena de professores da rede pública, onde eles puderam elaborar ou incrementar suas práticas em sala de aula. A poesia não é algo inacessível e acredito que a oficina ofereceu uma visão criativa e lúdica de trabalho, foi uma experiência muito recompensadora.”

 

Oficina as utopias e distopias

Nessa oficina o exercício de pensar as utopias e distopias dialogou com a potência dos textos em prosa – de fazer com que o leitor pense diferente seu mundo e os outros. Incluiu o ato de buscar os conceitos teóricos do que vêm a ser o utópico  e o distópico e de como esses futuros possíveis, desejáveis ou não, nos chamam a pensar sobre como construir nosso futuro. A literatura, em especial a prosa, por meio das narrativas fantásticas, nos faz emergir nos mundos que não são nossos, mas podem ser. Ao questionar e contrastar as diferenças e semelhanças entre esse mundo possíveis e impossíveis os leitores constroem o pensamento crítico.

O pensamento crítico, que nos planos de ensino didático é conhecido como o letramento critico, é uma das habilidades mais desejadas de se despertar nos alunos. As metáforas suaves presentes nessas literaturas da imaginação mostram como podemos sensibilizar as pessoas por meio da arte das palavras e fazer com o que questionemos a nossa realidade, em busca de uma melhor. Vimos no relato da professora Anna Cecília Cambraia, professora de língua estrangeira inglesa da escola Catarina Jorge Gonçalves, ao adaptar o conteúdo da oficina ao trabalho que vinha desenvolvendo sobre gêneros textuais, aliando os aspectos formais da língua ao letramento crítico. O relato dela nos mostra possibilidades de como instigar nos alunos o pensamento crítico e a leitura, aliados a outros aspectos linguísticos, em especial fonéticos, podendo ser trabalhados nessas leituras de fruição:

“Inicialmente elaborei e postei slides sobre o gênero Conto (Short story) no Google Classroom, nas turmas de 3° anos. Em seguida criei e postei slides que exploravam Utopia e Distopia (baseados no material da ministrante da oficina). Posteriormente criei uma atividade em PDF e postei no Classroom. Em tal atividade havia um link para se fazer a leitura do conto no site da Editora Morro Branco, havia também um anexo em PDF do conto em inglês (já que é a disciplina que leciono) e a proposta em que continha alguns dados biográficos da autora em questão e a proposta de retextualização do conto (conforme foto anexa ao final deste relatório).

Postei a proposta de atividade no Google Classroom, mas infelizmente nenhum aluno se dispôs a executá-la. No início do ensino remoto alguns poucos faziam o que lhes era proposto. Mas atualmente nenhum tem realizado as tarefas. Não só em minha disciplina, mas em todas as outras, conforme relato dos meus colegas. Além da proposta no Classroom, agendei uma videoconferência (conforme print nos anexos) com os alunos do 3°ano, via Google Meet, a fim de ler trechos do conto, abordar sobre os conceitos de Utopia/ Distopia. Porém nenhum aluno compareceu. Desse modo, me esmoreci, pois preparei tudo com zelo, porém o retorno foi nulo.”

Já a professora Olga Lúcia Alves Netto nos relata que ela não conseguiu aplicar, mas o curso foi de grande valia para ela em nível pessoal e a reflexão a ajudou a pensar de forma diferente certos conceitos”. “Não houve uma aplicação direta, porque estamos em ensino remoto, com trabalhos excessivos da secretaria de educação,. O que fiz foi sugerir leitura, entretanto os meninos não estão lendo, porque gastam muito com a internet nas aulas. Gostei muito de conhecer as autoras, embora considere as classificações muito complicadas. Mas gostei da abordagem e da seleção de contos. Pretendo ainda conseguir pelo menos uma contação para eles…. o que já tenho feito com contos menores…. Portanto uma aplicação mais incisiva dependerá de nossa volta às aulas presenciais”.

 

O professor Ailton Alves Guimarães, da E.M. Monsenhor Artur de Oliveira, no Caiçara, que trabalha com o 8º ano do Ensino Fundamental, declarou que “os alunos apresentam relativa dificuldade nesta reescrita”

 

A professora Janete Rocha Leite Reis (E.M. Padre Flávio Giammetta, no Barreiro), que atua no 5º ano, teve dificuldade com a aplicação imediata dessa abordagem, mas relatou: “Mesmo não realizando a atividade com os alunos, é possível perceber a importância do trabalho com Utopias e Distopias, abordando a literatura da imaginação na finalidade de letramento crítico. A atividade abriga em si e instiga o pensamento sobre uma realidade que não é a dos alunos, mas muitas vezes se aproxima. Possibilitar o acesso a textos que busca a capacidade de entendimento de metáforas de forma a fomentar o pensamento crítico no mundo das idéias e desmistificar que o desenvolvimento de tais habilidades podem permear desde tenra idade”.

A professora Sabrina Gomes, que ministrou a oficina, também relatou como foi gratificante a troca ocorrida em todo o processo. “Sou professora de carreira e na minha trajetória profissional sempre busquei focar o meu olhar na potência da educação de mudar o mundo, de nos fazer pensar criticamente e em especial de transmitir o que temos de melhor. Como professora de linguagens com foco em línguas estrangeiras busco ir além dos aspectos fonéticos, fonológicos, morfológicos e sintáticos da língua, pois acredito no poder das palavras e em como elas abrem um mundo de possibilidades. Ministrar essa oficina acerca de um tema que amo como leitora e poder compartilhar com outros professores esses novos mundos utópicos e distópicos me trouxe uma alegria imensa. Afinal ver suas paixões compartilhadas, e usadas a fim de promover o letramento crítico é o melhor presente que pude receber. Obrigada  à AML e obrigada aos professores por se abrirem para as propostas da oficina”.

Lá e de volta outra vez

Agradecemos a todos os professores que participaram e estiveram conosco nessa jornada. Muitos deles nos apontaram suas dores e angústias, da falta de acesso, dificuldade da não presença. Ressaltaram, em especial, a falta de suporte nesses tempos pandêmicos, e como isso os forçou a viver situações inimagináveis, como muitos professores colocaram: distópicas.  É muito importante considerar que todos os educadores estão dando o melhor de si e buscando se aperfeiçoar, usar melhor os recursos e dominar muitas vezes tecnologias que não lhes são familiares. Durante 2020 muitos desses professores se encontraram pela primeira vez sozinhos, sem a voz dos alunos como resposta. No entanto, não desanimaram, fizeram as oficinas, participaram dos fóruns, se engajaram de forma a pensar junto conosco como poderiam aplicar todo esse conhecimento que lhes foi oferecido. Alguns conseguiram ter uma voz do outro lado pois tinham suporte e acesso aos alunos, os outros aproveitaram desse tempo para criar, montar e projetar os próprios conteúdos com base no que aprenderam conosco, como nos relataram os professores Alex Nunes, Janete Rocha Leite Reis, Jessica Rotelli, dentre outros. Destacamos ainda a participação de Juliane Alessandra Gama que realizou as oficinas para montar plano de aula para seu estágio futuro, pois ainda é graduanda em Letras.

Recebemos vários outros relatórios a respeito da aplicação das atividades, o que também demonstra a eficácia das propostas das oficinas: levar um conhecimento prático e acessível para incrementar as aulas nos campos já citados.  Esperamos que no próximo ano possamos continuar a oferecendo conteúdos com o padrão de qualidade que este público das Oficinas Formativas experimentou e evoluir cada vez mais, tanto no presencial, como já vínhamos fazendo, quanto num novo ambiente de aprendizagem, capaz de alcançar um público enorme neste grande mar virtual.

A experiência das oficinas online trouxe uma nova perspectiva de amplo alcance para a Academia Mineira de Letras, ampliando o acesso aos interessados. As dificuldades de locomoção, deslocamento e horário, enfrentados em um curso presencial, não existiram na modalidade virtual. Professores que antes não poderiam ter acesso ao conteúdo oferecido pela AML, por esses motivos ou por estarem fora de Belo Horizonte, puderam, agora, usufruir desses conteúdos, podendo acessá-los quantas vezes necessárias.

Para a AML foi  importante proporcionar aos professores experiências inovadoras e o acesso a recursos tecnológicos gratuitos,  que facultam aos docentes e alunos compartilhar informações relevantes em âmbito global. Além disso, divulgar essas novas tecnologias e formas de usá-las faz parte de um processo inovador para a Instituição:  acessibilizar conteúdos, disponibilizá-los e replicá-los, de modo que o maior número possível de pessoas possa usufruir deles  gratuitamente, no formato virtual.

A história da AML remete à tradição da cultura e da literatura. A criação de sua plataforma virtual permite levar essa tradição a muito mais pessoas e ampliar  de modo exponencial seu espaço de atuação.