Releitura da personagem Macabéa do famoso romance A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, é o ponto de partida do livro-conto escrito, em 2012, pela poeta e acadêmica, para a série de personagens reescritos organizada pela Editora Oficina Raquel. A palestra será seguida de Lançamento da obra, no auditório da AML, com entrada gratuita.
No dia 27 de junho, quinta-feira, a partir das 19h30, a Academia Mineira de Letras recebe, dentro do projeto Livro do mês, a poeta, professora e acadêmica Conceição Evaristo, com a obra Macabéa, Flor de Mulungu – livro-conto que propõe um outro olhar para Macabéa, personagem central do romance A Hora da Estrela, um dos mais consagrados trabalhos escritos por Clarice Lispector. A palestra conta com participações do presidente Jacyntho Lins Brandão e de Constância Lima Duarte, e será seguida de lançamento, no auditório da AML.
Com entrada franca e interpretação em Libras, a palestra acontece no âmbito do Plano Anual Academia Mineira de Letras – AML (PRONAC 235925), realizado mediante a Lei Federal de Incentivo à Cultura, com patrocínio do Instituto Unimed-BH – por meio do incentivo fiscal de mais de cinco mil e seiscentos médicos cooperados e colaboradores.
O conto Macabéa, Flor de Mulungu tem início na cena em que Macabéa é atropelada. A metáfora da flor de mulungu se inicia com o texto justamente pela imagem da nordestina acidentada, ali agonizante. A narrativa conduz o leitor a conhecer “uma outra Macabéa”, “em estado de floração”, recém-nascida naquele conto com direito a história, memória e futuro.
Em artigo escrito a quatro mãos, as autoras Aline Arruda e Cristiane Côrtes mostram que Conceição Evaristo, ao criar outra Macabéa, revela uma personagem sincronizada com seu projeto literário: “dar visibilidade às mulheres negras e capturá-las do estereótipo ou do silenciamento recorrentes no campo literário legitimado. A narrativa faz uma referência explícita ao autor do realismo francês, Gustave Flaubert, para demarcar o seu ponto de vista e o contexto em que sua obra é publicada”, afirmam.
A “Béa” criada por Evaristo traz, assim, a história da Macabéa de Lispector, mas, para além dela, carrega o projeto de Evaristo, reforçando sua escrita socialmente comprometida com o coletivo. “Há, durante o conto, um esforço para tirar de Macabéa o estigma do ser autômato criado por Rodrigo como um gesto de resgate da sua identidade”, destacam.
Ainda sobre o título do livro-conto, as autoras contextualizam que a metáfora é crucial para a compreensão da reversão dos estereótipos reproduzidos pelo narrador de A hora da estrela. “Flor de Mulungu reúne a memória da dor e da tradição ancestral como se tivesse passado por um processo de renascimento, mas não de apagamento da bagagem adquirida. O nome escolhido para o conto já carrega a alegoria da resistência, uma vez que a árvore de Mulungu apresenta um aspecto seco e sem vida antes da floração, que é de um laranja ou vermelho vigoroso e que passa longos meses antes de germinar”, afirmam.
Sobre Conceição Evaristo
Conceição Evaristo é escritora. Ficcionista e ensaísta, é graduada em Letras pela UFRJ, Mestra em Literatura Brasileira pela PUC/Rio, Doutora em Literatura Comparada pela UFF. Sua primeira publicação (1990) foi na série Cadernos Negros, do grupo Quilombhoje. Tem sete livros publicados, entre eles o vencedor do Jabuti, Olhos D’água (2015), cinco deles traduzidos para o inglês, o francês, o espanhol, o árabe e o eslovaco. Dentre outras láureas, recebeu o Prêmio do Governo de Minas Gerais pelo conjunto de sua obra; Prêmio Nicolás Guillén de Literatura pela Caribbean Philosophical Association; Prêmio Mestra das Periferias pelo Instituto Maria e João Aleixo. Recebeu uma homenagem do Itaú Cultural com a Ocupação Conceição. Em 2019, foi a escritora homenageada da Olimpíada de Língua Portuguesa pelo Itaú Social e também a personalidade literária do Prêmio Jabuti. Em 2022, tomou posse da Cátedra Olavo Setúbal de Arte, Cultura e Ciência, na USP. Em 2023, recebeu o Prêmio Juca Pato e inaugurou a Casa Escrevivência, na Pequena África, no Centro do Rio de Janeiro. É mãe de Ainá, sua especial menina.
Instituto Unimed-BH
O Instituto Unimed-BH completou 20 anos em 2023. A associação sem fins lucrativos foi criada em 2003 e, desde então, desenvolve projetos socioculturais e socioambientais visando à formação da cidadania, estimulando o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas, fomentando a economia criativa, valorizando espaços públicos e o meio ambiente. Ao longo de sua história, o Instituto destinou cerca de R$ 190 milhões por meio das leis de incentivo municipal e federal, fundos do idoso e da criança e do adolescente, com o apoio de mais de 5,6 mil médicos cooperados e colaboradores da Unimed-BH. Em 2023, mais de 20 mil postos de trabalho foram gerados e 2 milhões de pessoas foram alcançadas por meio de projetos em cinco linhas de atuação: Comunidade, Voluntariado, Meio Ambiente, Adoção de Espaços Públicos e Cultura, que estão alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030.
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