Na solitária paz de um pedestal suspensa
a estátua de pedra fria
contempla a cidade morta
na longa noite vazia.
Inúteis luzes acesas
lembram fogueiras na selva
(quem sabe espantando as feras?)
Mas a treva é ainda mais densa
e da sombra escorre o medo.
Em cada lugar no escuro
há de emboscada um segredo…
Ah!… quantas mãos se crisparam
na angústia de um beijo vazio…
quantos corpos magoados
sangraram ódio sombrio
e lágrimas – que se perderam
na areia de peitos desertos…
Incertos passos ressoam
sem nunca vencer o espaço.
Os braços ficam inertes
covardes, fogem, esquivos.
Os vivos parecem mortos
assim parados, cativos…
No seu pedestal suspensa
a estátua de pedra fria
em vigília permanece
olhando a cidade escura
que se mata, se devora…
se esquece então que é de pedra
e se apieda – e chora.