UM LIVRO ÚNICO

Pedro Rogério Couto Moreira, jornalista e escritor, membro de tradicional família mineira ligada às coisas da cultura, acaba de publicar um livro que me parece único em seu gênero. Trata-se de “Sob o céu de Belo Horizonte” (Thesaurus Editora de Brasília – 2020) que me foi oferecido pela editora.

É um livro único pela maneira com que foi concebido e realizado da qual não tenho lembrança de ter encontrado igual. O autor reconstituiu a história da capital mineira, desde a transferência de Ouro Preto para o Curral Del Rey (1897) e a vivência do seu povo com base em livros de memorialistas e romancistas cujas obras foram ambientadas na cidade. Trabalho de intensas leituras, pesquisas e observações, revelando um observador minucioso, dotado de ampla cultura e conhecedor da cidade como poucos. O resultado é um livro aliciante e que se lê como um romance. Um romance da capital mineira, entremeado com páginas autobiográficas do próprio autor.

Para reconstituir o passado da cidade o autor se valeu de livros lidos e relidos pelos quais tem um sentimento afetivo. É que são numerosas as obras que têm como cenário a capital mineira. Começando pelos mais antigos, como Avelino Fóscolo, o pioneiro, Eduardo Frieiro, Moacyr Andrade, passou por Cyro dos Anjos, Aníbal Machado, Odin Andrade, Euryalo Canabrava, Afonso Arinos, Ricardo Gontijo até Pedro Nava, Roberto Drummond e Fernando Sabino, além de muitos outros que também comparecem. O depoimento de Fóscolo revela uma cidade marasmática, parada e silenciosa, enquanto outros já a descrevem buliçosa e cheia de vida.

Assim passo a passo, a cidade vai crescendo até se tornar a metrópole ativa dos dias atuais. Muitas personalidades marcantes, em cada época, e episódios curiosos são lembrados pelo autor e descritos de maneira saborosa. Logo no início ele registra um grupo de estudantes, funcionários e transeuntes aglomerado na amurada do Serpentário da Praça da Liberdade, admirando as cobras que se movimentam lá embaixo. Passatempo dos mais esquisitos, mas tudo indica que foi comum na década de 1930. Outra recordação das mais curiosas é do belíssimo prédio da estação ferroviária General Carneiro, da Central do Brasil, mais tarde demolida porque a reforma seria por demais custosa. Outros episódios, costumes, histórias e figuras recheiam as páginas do livro. Muito ricas são as recordações do autor do período em que, muito jovem, foi caixeira da célebre Livraria Itatiaia, pertencente aos tios. Ali ele conheceu numerosas figuras do mundo literário e político, com as quais conversou e conviveu, guardando na memória as características de cada uma.

O livro de Pedro Rogério é um retrato em movimento da capital mineira, mostrando as poses que assumiu em cada época histórica e o modus vivendi de seus moradores. A leitura ensina muito sobre a cidade e constitui também uma lição de Brasil.