Viajamos longo tempo. Entardecia, (ou amanhecia?). O céu preparava-se para um descontrole de tons. – Quem poderia decifrá-lo?
Os campos perderam o aspecto comum de terra e relva. As folhas clarearam, as flores pareceram ser de pedra.
Ainda não havia neve, mas uma neblina rala e fria deslocava-se em volta. Nem vimos árvores, nem aves, não cruzamos com ninguém.
Viajamos mais, distanciamo-nos dentro da própria distância. Dormimos, acordamos. A conversa foi morrendo, o riso esquivou-se. Apenas um rádio fazia música, música em surdina.
Podia ser uma rapsódia, porém, no grupo, ninguém diferenciaria, sem dificuldade, uma rapsódia de uma sinfonia.
Os relógios pararam e o ar ficou tão fino e leve que supúnhamos flutuar. O horizonte era assombroso, quase tão solene como a ausência das palavras.
De repente, disseram ao nosso lado:
— É tarde de aço no começo do mundo. Dilataram as pupilas verticais das horas desse dia.
Vamos logo à viagem nos balões sacudidos pelo átomo. Já estamos vigiados pelo caminhar disfarçado de estrelas recortadas – sangrando sol ou lua.
Não sei se todos acreditaram, mas a voz continuou – agora mais rápida e firme:
— É tempo de conquista para as mãos florescidas e os pés elásticos. Façam projetos fantásticos sobre o rumo dos espaços. Tracem planos, meçam as distâncias.
Há um sabor de impaciência nas esperas.
Nesse ponto, até a música – rapsódia ou sinfonia – parou.
Só a voz prosseguiu:
— Sob o céu de aço, baço intocável, desperta o primeiro guia da peregrinação – ao âmago ou ao infinito – traçando rotas sigilosas.
— O tempo, agora pode revelar-nos a história de outros mundos. Falou assim a voz, depois riu.
Estranho riso aquele!
Por Célia Laborne
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