Com o intuito de se envolver mais ativamente com a produção artística e cultural da cidade, a Academia Mineira de Letras recebe, em iniciativa inédita, o grupo MADAME TEATRO durante dois meses em imersão artística na sede da Instituição. Abrindo espaço para a investigação e pesquisa do grupo, a AML contribui para o processo de construção e desenvolvimento do espetáculo que terá William Shakespeare como tema. O texto “Shakespeare – Livros para sobreviver”, do dramaturgo português Mickael de Oliveira, servirá de base para o solo de Diego Bagagal. Para esta criação, o grupo fará um diálogo interdisciplinar entre literatura, teatro e artes visuais. Para isso, contará com uma equipe de colaboradores que inclui fotógrafa Inês Rabelo, o pintor Martim Dinis, e os video-artistas Débora de Oliveira e Ralph Antunes.

Confira o que Diego Bagagal diz sobre a residência artística no blog da MADAME TEATRO.

“Neste momento o MADAME TEATRO está em residência na “Academia Mineira de Letras” para a construção do próximo trabalho, “Shakespeare: Livros para Sobreviver”, escrito por Mickael de Oliveira, e será meu primeiro solo.

Solo, pois teoricamente estarei sozinho no palco, sem outro ator.

A “Academia Mineira de Letras” tem sua sede no Palacete Borges da Costa, uma casa com muito cômodos e muitos livros. A residência acontece diariamente no período solar. É uma casa grande, calma e silenciosa. Uma casa que te desconecta dos fazeres do dia-a-dia, do trivial, do banal.

O que muito tem a ver com esse novo trabalho que, mais do que uma peça, tentará ser uma lição para a sobrevivência neste país, neste mundo, neste momento.

Mas esse processo começou em uma outra residência artística, em outro palacete, há três meses atrás, na cidade de Coimbra, em Portugal, na Associação Casa da Esquina, espaço artístico do encenador português Ricardo Correia. A Casa da Esquina fica em frente ao convento onde a Irmã Lúcia, a pastorinha que viu Nossa Senhora na cidade de Fátima, viveu em exílio até aos últimos dias de sua vida.

Esse fato me inspirou, me provocou e comecei uma corrida em busca de um silêncio profundo. Mas só achei o silêncio possível pra hoje, no aqui e agora.

A residência começou com respiração e vivências da Máscara Neutra guiadas por Martim Dinis.

Sentia que existia algo mais harmônico que deveria encontrar para se conseguir construir um solo, para que conseguisse estar sozinho no palco mas com muitos ao mesmo tempo.

No princípio do processo tinha receio das crises que poderiam vir já que agora, mais do que nunca, em palco teria que resolvê-las de forma “solo”.

São muitos experimentos, dúvidas, um bom texto pronto, uma dramaturgia em processo, angústias, e uma, apenas uma, certeza pra esse trabalho. A certeza de que não existe “solo”.

Para se fazer um solo precisa-se de tantos outros solos, dos artistas co-criadores, das plataformas de apresentação e do público. E eu tenho precisado de tantas pessoas, tantos co-criadores longe ou perto, imersos ou desconectados.

O texto, protagonista deste trabalho, é de Mickael de Oliveira, os portraits serão pintados por Martim Dinis, os vídeos serão criados por Débora de Oliveira e Ralph Antunes, as fotografias por Inês Rabelo e o desenho de luz será do Allan Calisto.

Será que essa certeza é passageira?

Será que existe solo? Como se existe no solo? Alguém já solou? Você já viu um solo? Já solou? Ou sou eu que ainda não consigo fazer um solo?

Essa imersão continua. Em outubro abriremos o festival BHinSolos e também em outubro faremos uma temporada no Palacete Borges da Costa.”.

O post foi publicado originalmente aqui.

Foto: Inês Rabelo