Aconteceu o que se esperava. A intervenção militar no Estado do Rio de Janeiro se tornara imperativa pelas próprias razões que determinaram a medida presidencial extrema, embora não a última. Apesar do interventor general Braga Neto não aceitar a ideia de tanta gravidade, considerando a existência de “muita mídia” em torno do assunto, o Brasil inteiro admite e reconhece a situação a que chegou aquele Estado, como julgou o governo federal.

O fato, aliás, é percebido pelo comandante do Exército, general Villas Boas, ao advertir que os problemas enfrentados pelo Estado vão além da segurança pública e exigem ações mais efetivas. “Os desafios enfrentados pelo Rio de Janeiro ultrapassam o escopo de segurança pública, alcançando aspectos financeiros, psicossociais, de gestão e comportamentais”; impõem a “necessidade de uma honesta e efetiva ação integrada dos poderes federais, estaduais e municipais”.

As primeiras providências são para atender ao ritual legal para fazer funcionar o que se pretende, começando pela aprovação da Câmara e do Senado. O planejamento se iniciou imediatamente, para que se tenha realmente sucesso no que se propõe empreender em área tão complexa e abrangente até final de dezembro.

A situação a que chegou o Estado do Rio não é a única e primeira, sequer restrita ao território em que se encontra encravada a imagem da cidade considerada cartão-postal nacional. O que se fará ali poderá ser extensivo a todas as regiões do país, estigmatizado por crime e corrupção, propagados a todas as unidades da Federação. Não se trata de um desafio localizado em suas causas e efeitos, pois dolorosamente sentidos em todos os rincões.

Vive a nação uma fase dificílima e não há como negar. A medida drástica adotada com relação ao estado litorâneo atinge, em última análise, toda a nação, exposta a organizações criminosas de alto poder e inteiramente contrárias aos interesses nacionais. Combatê-las em todas suas fortalezas e seus escalões é uma imposição, nesta hora já abalada por outras situações não menos embaraçosas à vida nacional e ao exercício pleno da democracia.

Dispenso-me de enunciá-las. A opinião pública, o cidadão, sabem.

Mutatis mutandis, evoco aqui o que se disse, em 1870, quando se publicou o manifesto do Partido Republicano, em 3 de dezembro: “A imprevidência, as contradições, os erros das usurpações governamentais, influindo sobre os negócios internos e externos da nossa pátria, vão criando esta situação deplorável, em que as inteligências e os caracteres políticos parecem fatalmente obliterados por um funesto eclipse”.

Poderia soar estranho, mas se permitiria repetir, aqui e agora, que a sociedade brasileira, após tão extenso tempo de existência como coletividade nacional independente, encontra-se, em face do problema de sua organização e funcionamento políticos, como se surgisse do caos colonial.

É triste a constatação, mas pelo menos aponta para a necessidade de todos os brasileiros se incorporarem a uma obra de regeneração nacional, em clima tão plúmbeo e confuso.

Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23