O brasileiro está desencantado, a não ser aquele que se perde (ou se encontra) à margem da lei. Não há pessimismo, são os fatos que o demonstram. Recorro ao noticiário de apenas um dia e vejo: tantas pessoas morreram por febre amarela; cidade baiana tem 23 casos de malária; em uma semana, registros de dengue quase triplicam. Como se sentiriam os cientistas patrícios do princípio do século passado, a começar por Oswaldo Cruz?

Em outro dia, informação nova e preocupante. Dados do Ministério da Saúde revelaram que, em cinco anos, o número de episódios de sífilis aumentou 5.000%, tornando-se a doença epidemia. Esta é séria, podendo causar leões na pele, nos ossos, nas articulações, além de aneurismas, meningite, paralisia geral e demência.

Se pouco, a Sociedade Brasileira de Primatologia adverte que o Brasil está à beira de um desastre ambiental, mais grave a situação em Minas, Espírito Santo e São Paulo. É que, embora não transmitam febre amarela, os macacos continuam atacados e mortos pela população. “Sem macacos, contudo, não se poderá saber se há vírus na região”, dizem os técnicos.

Não se tente desvendar o infinito novelo de causas que produziram a presente crise, perversa e sem previsão de fim. A hora do relógio tem 60 minutos, mas a das dificuldades e desafios atuais não tem duração prevista. A “Folha de S. Paulo” explica que uma serie de erros explica o avanço da febre amarela”; o “Estado de S. Paulo” observa “Fundo público eleitoral dá mais dinheiro a 21 partidos”. Há ligação entre os fatos!

A Reforma da Previdência, quase unanimemente aceita pelas lideranças, inclusive dos economistas, se mantém no balança, mas não cai de interesses subalternos. É quase incrível: as facções e seus privilégios acima de razões maiores da nação, uma chantagem fantástica, em torno do futuro nacional. É o caso da batalha jurídica da posse da ministra do Trabalho, um bafafá de baixo nível, a despeito da relevância do ato central.

O rebaixamento da nota de crédito soberano do Brasil pela agência internacional de risco Standard & Poor’s não surpreendeu. Enfim, as dificuldades em se aprovarem reformas com efeitos de longo prazo têm repercussão. Ninguém abre mão do que é ou supõe direito adquirido.

E descambamos para a barafunda em que nos debatemos. Não é como a bola de fogo que cruzou os céus do Norte do Peru e do Acre, há poucos dias. Ela deixou apenas um rastro branco no espaço e desapareceu. Aqui é diferente e inquieta profundamente. As causas do mal-estar são difusas, algumas identificadas, como a seguinte: a Avaliação de Alfabetização mostra que crianças com 8 anos não conseguem ler um texto, escrevem muito mal e na matemática têm a pior avaliação. A prova foi feita no ano passado com mais de 2 milhões de alunos do 3º ano do ensino fundamental – a idade em que termina o ciclo de alfabetização nas escolas. Na leitura, 56% estão no pior nível e não entendem o que leem nem mesmo histórias em quadrinhos.

Quase um terço dos alunos não aprendeu a escrever de forma satisfatória, não sabe escrever palavras de forma correta e os textos são incompreensíveis. A maioria que consegue escrever um texto comete muitos erros ortográficos e de concordância. Na matemática, 57% estão no pior nível. Quase seis em cada dez alunos não conseguem resolver problemas simples.

Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23