O grave – gravíssimo – acidente na manhã de 13 de janeiro, foi mais – muito mais – do que mero desastre rodoviário no Norte de Minas. O número de mortos e feridos equivaleria ao de vítimas dos atentados perpetrados no Oriente Médio pelos fanáticos religiosos que anualmente deixam saldos de dolorosas memórias.

O tópico inicial da imprensa escrita, o lead, dava a síntese da tragédia: caminhão desgovernado invade a contramão, provoca batida entre cinco veículos e causa pelo menos 13 mortos e 29 feridos. Local: BR-251, Norte de Minas, próximo à histórica Grão Mogol, rodovia das mais intensas em tráfego de carga pesada.

A Delegacia Regional da Polícia Rodoviária Federal expediu, na época, nota confirmando os dados e a dinâmica do acidente, que começou quando carreta, com outro veículo na carroceria, viajando Salinas a Montes Claros, perto do KM 413, invadiu a faixa contrária, em uma reta, e desencadeou a sucessão fatal.

De quem é a culpa? A pergunta surge naturalmente, mas a resposta exige cuidados especiais. No trecho extenso de estrada que liga à rede rodoviária nacional, a muitas vezes fatídica Rio-Bahia, BR-116, dezenas e dezenas de pessoas ficaram mutiladas para sempre. Ou simplesmente perderam a vida.
Poderia a tragédia ser evitada?

Evidentemente, sim. Já há sinalização e o perigo era ali mesmo, não morava ao lado. É uma região enorme, percorrida por cargas transportadas para o Nordeste ou passageiros que descem o mapa para o Sul e Sudeste, ou por nordestinos que vão matar saudades na terra natal.

Quem acompanha os fatos, através de qualquer meio de comunicação, sabe perfeitamente que não é o primeiro, nem será o último acidente com muitas vítimas naqueles rincões. A máquina de produzir defuntos funciona sistematicamente e é frequente a falta de consciência dos que dirigem veículos por aqueles pedaços do Brasil. O Estado, como poder público, aparentemente fizera o que devia, para evitar acidentes, ao que se depreende da descrição.

O atendimento às vítimas é demorado, sobretudo pelas longas distâncias. A rede hospitalar não está preparada à suficiência para tragédias dessa grandeza e consequências. A sucessão de choques, o capotamento, o tombamento e o incêndio dos veículos, de mais de um Estado, demonstraram que toda precaução é pequena em tais lugares e circunstâncias.

Os hospitais locais, com ênfase a Santa Casa de Montes Claros, a cidade de maior importância do Norte, fizeram o possível, com os meios disponíveis, no sábado quente já pela manhã. O Samu foi chamado à emergência e um helicóptero da Polícia Militar participou do trabalho, em local remoto, esforçando-se ao máximo em benefício do próximo. No entanto, o resgate da vida não está disponível muito perto. Tudo se transforma, enfim, num doloroso e imprevisível episódio.

A tragédia também relembra os mortos no já histórico rompimento da Barragem do Fundão, a partir do distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, há mais de dois anos. As estatísticas são insaciáveis. E o Brasil ostenta o nono lugar no cômputo mundial de acidentes de acidentes de trânsito.

Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23