O ininterrupto noticiário dos meios de comunicação em todo o mundo leva a uma indesviável pergunta: a Venezuela está em pé de guerra? As sucessivas manifestações, de que informa em cores e até ao vivo a televisão, oferecem um panorama do drama que se vive mais ao Norte.
Detentora da quinta maior reserva petrolífera do planeta, nos últimos tempos, a Venezuela vive sob ameaça de ruptura institucional, embora se possa afirmar que é já neste clima que se passaram os anos mais recentes. Desde 2017, militares e grupos paramilitares tentam conter protestos.
Apesar de tudo, a oposição se dividiu e o governo de Nicolás Maduro, que sucedeu a Hugo Chávez, depois de sua morte por câncer, em Cuba, persiste. Com as garantias constitucionais interrompidas, com multidões nas ruas em protesto pelo que lhe foi subtraído, desde a liberdade de imprensa ao papel higiênico, o presidente procura saída: agora quer a reeleição, aos 55 anos. Pretende uma nova Carta Magna, mas o cidadão pretende algo mais prático, viável e urgente, a começar pela alimentação que escasseia. Pesquisas demonstram que cada homem e mulher do país perdeu oito quilos de peso pelas dificuldades experimentadas.
Sem respaldo da maioria dos países democráticos, com imensas dívidas acumuladas, sem apoio do Mercosul, Caracas verdadeiramente está em um beco sem saída. O chanceler uruguaio, Rodolfo Novoa, enfatizou que o Mercosul pressiona o governo venezuelano a que mude os rumos, considerados não democráticos. O Palácio de Miraflores não conta mais com apoio continental, restrito apenas a Cuba e Guatemala, a que oferece petróleo em condições especialíssimas.
Sem apoio legislativo, contando com um arsenal poderosíssimo comparado à Rússia, em época de vacas gordas, e com a disposição governamental de contrapor-se às oposições e aos reclamos ao povo, Caracas reconhece que milhares de cidadãos escapam pelas fronteiras para sobreviver. As perspectivas são sombrias.
Nós estamos na proximidade do fogo. O brasileiro Oliver Stuenkel, professor da Fundação Getúlio Vargas, dá um conselho: “O Brasil precisa se preparar para a chegada de um número cada vez maior de refugiados”, embora também tenhamos nossos problemas.
Maduro, contudo, não se entregou. Convocou eleições presidenciais para 30 de abril. E pode ganhar, porque não há, antes e acima de tudo, livre campanha. Saiu à frente, o que já é um grande trunfo, no meio de uma sociedade sacrificada e temerosa. “Não vou falhar com vocês. Assumo a candidatura presidencial para o período 2019-2025 (…). Serei o candidato de toda a classe operária venezuelana e continuarei sendo o presidente dos humildes”, afirmou aos trabalhadores. Alguém acredita?
Por via de dúvida, Maduro anuncia aumento de 40% do salário mínimo, das pensões e do salário do funcionalismo. É o sétimo reajuste, em um ano. Trata-se de uma tentativa para neutralizar a explosão de preços em uma economia com hiperinflação.
Também tiveram elevação quase ao dobro os bônus de alimentação concedidos como “cestaticket”. Somando tudo, o venezuelano vai receber pelo menos 797.550 bolívares. No câmbio oficial, isto é em torno de R$ 787. Dá para uma família viver bem?
Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23