Em circulação mais um número da revista “Memória Cult”, dirigida por Eugênio Ferraz, a quem tão belas iniciativas no campo das letras, da arte e da história se devem. Em todos os altos cargos pelos quais passou, demonstrou ele interesse pela cultura, contribuindo para divulgação do que há de mais precioso entre nós. A nova publicação, em dezembro último, é um bom exemplo.  Em país no qual há carência desse gênero de edições, “Memória Cult” ajuda a suprir a lacuna, como enfatizou Rogério Faria Tavares, meu confrade na Academia Mineira de Letras e de Ferraz no IHGMG, que dirige o BDMG Cultural.

O número 23 da Cult, que saiu quando 2017 dava adeus ao calendário, mostra fielmente os altos ideais que levaram à sua criação e manutenção. Tem grande significação para Minas; para que os mineiros conheçam mais e melhor a velha província e para que os brasileiros dos demais rincões possam ver, sentir e aprofundar-se no conhecimento de um território e de uma gente única.

No número em questão, aparecem colaborações valiosas de Bruno Terra Dias, de Nise Mendes Duarte e de Auro Aparecido Maria de Andrade, sobre cidades, regiões e acontecimentos que colocaram Minas Gerais em posição privilegiada em seu respectivo tempo. Além de outras matérias, há o artigo do magistrado mencionado, ex-presidente da AMAGIS e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.

O meritíssimo faz uma verdadeira ode ao nosso homem do campo, que vai deixando seu rincão em busca de vida mais consentânea com o progresso, que deve ser para todos, confiantes ou esperançosos de natural beneficiário das transformações sociais por todos almejada. Daí, as observações: “Das poucas vilas e cidades iniciais ao êxodo rural determinado pelas apostas do século XX, nunca deixou de ser protagonista, embora quase calado e frequentemente ignorado, aquele que da miscigenação se fez o homem da terra, um nobre sem título. Matuto, para o vulgo como para muitos letrados, é aquele não afeito às cidades e seus equipamentos, necessidades e deslumbres, que se intimida diante das aglomerações, desprovido do que se chama de traquejo social, espírito rude, oposto às sutilezas da e civilização.

Conceito ou preconceito, distinção repressiva de seu modo de ser, chamado de roceiro, jeca e outros qualificativos diminutivos de prestígio social, não se importa tanto com isso, desde que esteja em seu ambiente. O ambiente do matuto é o sertão, o amplo despovoado do sertão, quanto mais se distancia do litoral e fica imerso em terras que o desafiam e realizam.  Matuto é o sertanejo, o catrumano, o homem que vive do que produz a partir do solo, onde estiver”.

Na pauta, um extenso texto sobre Espinosa e excelente matéria de Nise Mendes Duarte, historiadora, integrante do Ministério Público, sobre o Cemitério dos Escravos de Santa Luzia. Ainda o necessário noticiário sobre o relançamento de “Princípios do Direito Internacional”, de autoria de Lafayette Rodrigues Pereira, publicação original de 1902. O registro marcou o centenário do Conselheiro, renomado jornalista, diplomata e político. O secretário de Estado da Cultura, Ângelo Oswaldo, prestigiou a iniciativa do deputado Lafaiete Andrada, apoiada pelo presidente Adalclever Lopes.

Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23