Acabo de reler o livro de Zuenir Ventura, que dá titulo a esse texto, com gentil dedicatória do autor e faço o habitual balanço de vida de virada de ano…. não da minha, mas da vida desse país, desse mundo, desse mundaréu de gente. Se em 2017 relemos muito sobre os 100 anos da Revolução Russa, que mudou o mundo, é hora de relembrar os 50 anos daquele Ano notável, revolucionário, imaginário e real e acima de tudo universal. Das ruas convulsionadas de Paris, sob o governo de um dos franceses mais ilustres de todos os tempos, o general De Gaulle, passamos aos EUA, abalados e entristecidos com os assassinatos de Bob Kennedy e Luther King e chegamos ao famigerado AI – 5, promulgado pelo General-Presidente Costa e Silva em nosso país.
No leste europeu a Primavera de Praga sacudia o mundo soviético e os tanques russos esmagavam o sopro de liberdade que queria nascer na Checoslovaquia. Foi um ano em que FOTOS falaram mais alto que mil palavras e elas ainda estão vivas em nossa memoria profunda. O tanque soviético, o jovem líder Daniel Cohn Bendit levado por policiais ou soldados desmantelando o congresso da UNE em Ibiuna e prendendo dezenas de estudantes.
Afinal, 1968 acabou ou não ??? se está vivo, pulsando nos corações e mentes, que lições retirar desse ano mágico, Mirabilis e horribilis para mudar o presente e moldar um novo futuro ? Cohn Bendit declara que acabou…. mas renomados historiadores declaram que aquele combate ao conservadorismo se apoiava muito em realidades idealizadas pelos jovens e que não coincidiam com os fatos reais. Eram gritos pela liberdade, pela vitória do novo sobre o velho, ecoando pelos quatro continentes. Pouco antes de Paris, as ruas de Berlin fervilhavam com manifestações dessa mesma juventude rebelde . O líder Rudi Dutshke levava a massa ao delírio, com o Viva à revolução mundial. !! Caetano Veloso era vaiado e os extremos ideológicos se chocavam em eventos e lugares públicos das nossas capitais. Para o historiador inglês Tony Judt sobrou só nostalgia, pois a revolução não aconteceu… Proibido proibir, foi o titulo dado por Caetano Veloso a uma música que fez sucesso à época. A frase exprime, resume e define as manifestações de 1968. Ficaram lembranças do III Festival da Canção e dos shows do Maracanazinho e do teatro Tuca em SP. A vaia monumental que Tom Jobim recebeu no palco, após o anuncio de SABIÁ, como musica vencedora foi injusta, interminável e ensurdecedora, nas palavras de Zuenir Ventura. Mas CAMINHANDO se torna logo a canção-senha para o chamamento às novas manifestações,quase um novo Hino Nacional do momento.
Vivemos o clima de um novo 1968, com a deterioração do tecido social. Quando Executivo e legislativo e parte do Judiciário perdem a confiança e o respeito do povo brasileiro, faltam jovens nas ruas, assumindo a indignação dos adultos e trazendo esperança. Viva 1968.
Aloísio Teixeira Garcia, professor, ocupa a cadeira nº 36 da AML.