No dia 16 de dezembro último, em frente ao monumento a João Pinheiro, na Praça Afonso Arinos, em Belo Horizonte, prestou-se homenagem ao grande mineiro, na data de seu nascimento. Ali discursou o advogado Aristoteles Atheniense, que dispensa apresentação, valendo lembrar que pertence ao IHGMG (fundado por Pinheiro) e preside a Academia Mineira de Letras Jurídicas.
O orador lembrou momentos da vida de João Pinheiro, sublinhando que faleceu em 25 de outubro de 1908, às vésperas de completar 48 anos, após exercer cargos importantes no Estado e na República, mas “nenhum recurso pessoal amealho”. Filho de imigrante italiano, com a morte do pai, viu-se na obrigação de trabalhar para ajudar a família.
Pelas dificuldades para fazer universidade em Minas, mudou-se para São Paulo, onde dava aulas de física e química para ajudar na permanência e no custeio na celebrada Faculdade do Largo de São Francisco, celeiro de figuras exponenciais das ciências jurídicas e da política brasileira. Ele seguiu as pegadas, com lucidez e espírito público. Em 2005, senador, lançou o Manifesto do Eleitorado Mineiro, que merece leitura mais de um século depois.
Em Ouro Preto, para onde voltara a fim de exercer a advocacia, elegeu-se para representar Minas na Constituinte da Primeira Carta de República, mas se retirou da atividade partidária. Em menos de cinquenta anos, construiu uma rica biografia, já que fugia a suas perspectivas construir uma biografia de riqueza.
Na hora triste de escândalos que atravessa a nação, o exemplo do oleiro de Caeté exige atenção pelo que fez por Minas em termos do progresso e de correção administrativa. Partia do princípio de que “as formas de governo são um meio de realizar a felicidade pública”, pois “só a virtude é o fundamento da República”.
Eleito presidente de Minas, João Pinheiro realizou um intenso programa de desenvolvimento econômico, sobretudo na agricultura e pecuária, atividades possíveis à época. No entanto, também deu especial atenção à instrução pública, ampliando a rede escolar, certo de que a velha província tinha de erguer-se do marasmo e madorna, a que fora lançada com a exaustão dos filões auríferos. Afirmou: “Minas é um povo que se levanta”, que – se gerou pilhéria – advertiu para os novos caminhos a serem percorridos.
Candidato ao Palácio da Liberdade em 1906, no dia 7 de fevereiro apresentou um manifesto corajoso, válido na hora presente. Dizia: “Partidos de políticos feitos por políticos e para políticos, a nação os tem visto com indiferença, alheada de suas formas vãs, sem divisar nelas os seus grandes interesses vitais – de sorte que as tentativas se têm confundido com a política parasitária que as origina. E o povo, através das vãs promessas e das puras questões constitucionais, só vê, de real, a percepção crescente dos impostos e a má aplicação dos mesmos, a empobrecê-lo cada vez mais”.
E mais: “Triste herança da monarquia, o partidarismo, que se transformara em agremiações para a posse do poder, mesmo com o repúdio das próprias ideias, substituídas pela divisão dos proventos e lugares; semelhante partidarismo, que fez a monarquia tombar ante a indiferença nacional, deve ser banido da República, que precisa sanar o grande mal que nos aflige”.
Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23