Alina Fernandez, filha de Fidel castro, ao concluir o prefácio de seu livro sobre sua vida, o regime, o pai, deixa a interrogação: “O que será de Cuba?”. Responde: “Essa é a pergunta que me faço diariamente e para a qual ainda não há resposta”.

O historiador inglês Richard Gott é mais extenso. Fidel, morto, é uma figura do passado, com barba encanecida se foi. Mudara o slogan: em vez de “socialismo ou morte”, consoante o violento século XX, passou a “um mundo melhor possível”, adequado aos revolucionários mais pacifistas de uma nova era. Quando morrer, haverá pouca mudança em Cuba. Enquanto pouca gente via, a mudança já ocorreu”.
O sucessor Raúl já entrara em cena, como uma motoniveladora a aplainar caminhos. Aproximações se fizeram, sobretudo com Obama na Casa Branca. Mas entrou em cena Donald Trump. E agora?

Presidente de Portugal, ou ex, Mário Soares fez-se a mesma indagação, há bem anos atrás, e observou: “Pelo que tenho lido, os vários partidos cubanos que atuam no estrangeiro têm plena consciência disso – manifestando-se com grande sentido de responsabilidade e uma enorme paciência. Julgo muito positivo que assim continuem. Qualquer aventura ou falso passado saldar-se-ia por enormes sacrifícios para o povo cubano: a juntar a todos aqueles a que têm estado submetido há mais de três décadas”.

Então? Volto a perguntar. É bem possível que a vida, com sua riqueza e imprevisibilidade, acabe por encontrar uma solução que nenhum dos mais sagazes analistas da realidade cubana foi ainda capaz de prever… Não foi o que sucedeu com as experiências comunistas do Leste europeu, incluindo a Rússia? Tenhamos, pois, confiança. As coisas são o que são e obedecem a uma lógica implacável, que se sobrepõe aos voluntarismos humanos, por mais intransigentes e determinados.

Antônio Rangel Bandeira, cientista político, revolucionário dos anos rebeldes do regime militar brasileiro e ex-exilado, fez uma análise profunda e pessoal sobre Cuba, que pode contribuir para antever os fatos:

“Os anos 80 sepultaram a ideia de Revolução (a cubana), consolidando a via das reformas pacíficas das estruturas sociais. Até mesmo a débâcle do comunismo se fez de forma não-violenta, contrariando todos os prognósticos. É chegada a hora de se desmilitarizar a sociedade cubana e substituir os desmoralizados mitos do marxismo-leninismo, e do fidelismo, por um modelo incorporador, e não excludente. Conciliar o dinamismo do mercado com o papel social do estado é o desafio, sem abdicar da ética da solidariedade, que nos foi legada pela tradição do socialismo humanista. O término da Guerra Fria não trouxe a paz. Ao contrário, fez explodirem conflitos nacionais, étnicos e religiosos de extrema violência. Devemos lutar, em Cuba e em outros países, por uma alternativa nova, baseada no primado da tolerância, antes que as guerras santas incendeiem. Talvez, na confluência da vitalidade do capitalismo com a busca da fraternidade do socialismo, esteja nascendo um novo tipo de sociedade”.

Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23