O assunto não foi explorado como pareceria legítimo. Um alemão naturalizado brasileiro, responsável pelas aberturas de novelas da TV Globo, apresentou um projeto para modificar a Bandeira do Brasil. Hans Donner propõe, além do uso de tons de verde e amarelo em degradê, a modificação da faixa, que hoje forma um arco com pontas direcionadas para baixo e cuja direção seria invertida.
Mais do que isso: antes do lema, “Ordem e Progresso”, do positivismo, se acrescentaria a palavra “amor”, um sentimento não praticado em plenitude nos dias de hoje, nos costumes do país.
O proponente se explica e se justifica: “quando comecei a fazer design em Viena, uma das primeiras coisas que aprendi foi que uma frase que sobe para o alto (aliás, só poderia subir para cima, digo-o eu) tem poder. Queremos sinalizar esse poder, essa mudança que é necessária. Como está, a frase indica inferioridade, e isso acaba passando para o povo”.
O assunto vem a propósito. O Dia da Bandeira é comemorado em 19 de novembro, quando foi adotada como símbolo, atualizado mais recentemente em 11 de maio de 1992 com as atuais 27 estrelas representativas das unidades da federação.
Significa dizer que a bandeira não corresponderia mais à conveniência nacional, por não estar em consonância com as ideias do filósofo e matemático que a inspirou Raimundo Teixeira Mendes (1855–1927) e Miguel Lemos (1854–1917), com orientação do astrônomo do Imperial Observatório do Rio de Janeiro, Manuel Pereira Reis (1837–1922).
O positivismo foi forte no Brasil e não está esquecido. No entanto, o lema no auriverde pendão “Ordem e Progresso” não seria tão importante, ou pelo menos não conteria o essencial, como discutido na época da confecção. Críticas não faltaram e muitas mudanças foram sugeridas, sem êxito. A mais significativa foi a do senador Carlos Rodrigues, em 1896, quando a República já fazia seus sete aninhos e ele pretendia o dístico “lei e liberdade”.
Naqueles ermos dias, o lema positivista refletia a inclinação política de que a ciência era a única forma de conhecimento verdadeiro. O tempo flui, transformaram-se as cabeças e os anseios. Não mais os ramos de café e tabaco, colocados como suporte da bandeira, que representavam as duas culturas que se destacavam na produção brasileira. Hoje, tabaco desperta o cuidado contra os riscos do fumo na vida das pessoas, causador de milhões de mortes anualmente.
Li, nas folhas, que a proposta apresentada no Fórum do Amanhã, em Tiradentes no último dia 9, tem inspirado memes (aprendi que a palavra, não encontrada nos dicionários, significa chiste, anedota, piada), mas o assunto é de relevância. Não se brinca com a história e com os símbolos.
A inclusão de “amor” é algo a se considerar nesta época em que o número de homicídios no Brasil supera o dos mortos na guerra civil da Síria.
Pretende-se amor e paz para viver, meditar, trabalhar, ajudar o Brasil a alcançar ordem visando o progresso. Admito, contudo, que se faça um plebiscito, com outras propostas: chega de corrupção, segurança e educação, menos promessa e mais ação.
Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23.