Quinze de novembro, Proclamação da República, todo mundo sabe, principalmente porque é feriado em meio de semana, propício para feriazinha, antes do Natal. No Brasil, são imperdíveis as interrupções mais longas no trabalho diário. Quem tiver oportunidade, porém, de encontrar e recorrer aos jornais de 1889, encontrará notícias muito especiais.
Sabe-se que, logo após as primeiras horas da manhã, no velho Rio de Janeiro, os empregados que se dirigiram para a jornada não deixaram de estranhar o tropel dos soldados de cavalaria. Devidamente armados, cruzavam as ruas do centro, enquanto se ouvia o som de clarins, o rufar dos tambores e o rodar das carretas do Batalhão Naval, que – por ordem do governo – havia desembarcado.
Ninguém sabia exatamente do que se tratava, mas os transeuntes se mostravam espantados e temerosos. O que acontecia? Perguntas por todos os lados, respostas imprecisas, não muito confiáveis. O Exército se revoltou? Por quê? Os militares querem depor o governo. Os caixeiros espalhavam a notícia de que o comércio fechava as portas, com receio de quebradeira.
Mas haveria também um 14 de novembro, em 1921. Telegrama enviado de Paris pelo Conde D’Eu informava à baronesa de Loreto, no Rio, que a princesa Isabel morrera aos 75 anos, com fraqueza cardíaca agravada por congestão pulmonar. No Brasil, pouco se comentou a respeito e assim continua.
A princesa Isabel, herdeira do imperador Pedro II, ficara conhecida como a Redentora, por ter assinado a Lei Áurea, que pôs fim a três séculos de escravidão. Ela sabia que, ao sancionar a lei, corria o risco de perder o trono, já que os republicanos planejavam um golpe, apoiados pelos escravocratas. Ela, contudo, não se intimidou, inclusive comparecendo a todas as festas pela libertação dos servos realizadas pelo povo. O centro carioca foi enfeitado com flores e a população saiu às ruas para comemorar.
A princesa, é bom lembrar, foi a primeira chefe de Estado das Américas e uma das nove mulheres a governar uma nação na região durante boa parte do século 19. Isabel substituiu o pai, o imperador, nas três vezes em que se ausentou do país. A primeira de 1871 a 1872; a segunda, de 1876 a 1877; e a última, de 1887 a 1888.
Em 1871, em 28 de setembro, ela exarou a Lei do Ventre Livre, estabelecendo que todos os filhos de escravos que nascessem a partir de então estariam libertos. Em 1888, foi a Lei Áurea, que liquidou com a escravidão, embora tardiamente, e também com a monarquia.
Registremos: em 1889, com a deposição do imperador e o banimento da família real, ela partiu ara exílio na França, montando ali uma espécie de embaixada informal, no castelo em que morava, na Normandia. De lá, procurava ajudar os patrícios e, lá também, recebeu Santos Dumont.
Foi ainda a primeira senadora do Brasil, cargo a que tinha direito como herdeira do trono a partir dos 25 anos de idade nos termos da Constituição do Império, de 1824. Por ter acabado com a escravidão, (a palavra tem surgido no noticiário político recentemente), libertando 12 milhões de escravos, o papa Leão XIII lhe ofereceu a comenda da Rosa de Ouro – título que parece servir agora a uma escola de samba.
Afora isso, quem dela se recordará no 14 de novembro?
Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23.