As notícias percorreram o mundo, depois de causar temor entre populações das pequenas cidades do país. Repete-se a morte coletiva de crianças e adolescentes no Brasil, a maior nação católica do planeta. A tradição de cordialidade brasileira vai-se perdendo, a cada hora e minuto, com informações de crimes bárbaros, agora os coletivos contra os de tenra idade.
Houve o episódio num bairro carioca. Um adolescente, ex-aluno do educandário, armou-se, de regresso à casa de ensino eliminou a tiros e feriu vários estudantes. Mais recentemente, um indivíduo, vigia em creche no interiorzão mineiro, ateia-se fogo e causa a morte de mais de dez pessoas, entre as quais nove crianças. No fim de semana, na mesma localidade, nova ameaça, felizmente frustrada.
Enquanto as reportagens põem a nu os maus-tratos, agressões, até a morte de crianças, em Goiânia, um menino de 14 anos, filho de policiais militares, usando suas armas tirou a vida de dois colegas e feriu quatro outros. O cenário, tornado lúgubre, foi em uma sala do oitavo ano de ensino fundamental particular.
A explicação: o matador sofria troça de colegas e se preparou cuidadosamente para a vingança cruel, inspirada possivelmente no massacre de Columbine, nos Estados Unidos, e na de Realengo, no Rio de Janeiro, que fez uma dúzia de vítimas fatais.
Agora, fazer o quê? O mais triste é a convicção de que a sucessão de tragédias entre aqueles que se preparam para ingressar na vida poderá não estar no fim. Estamos cercados pela incompreensão e por toda espécie de armas, disponíveis entre os que enfrentam os primeiros tempos de existência?
O governo goiano decretou luto oficial de três dias, em solidariedade aos envolvidos no “lamentável acontecimento”. No entanto, o âmbito do fenômeno, pelo que se constata, não é restrito, e – paradoxalmente – o episódio tenebroso de Goiânia se deu exatamente no Dia Mundial de Combate ao Bullying.
Segundo a Unicef, Fundo das Nações Unidas para a Infância, um em cada três adolescentes de 13 a 15 anos é vítima de tratamento indevido nos colégios. Os registros valem como uma advertência à consciência dos povos, dos governos, das famílias, dos religiosos, dos educadores, pais e filhos. Enfim, somos todos um tanto responsáveis pela dor que se amplia.
Aliás, a megaoperação contra a pedofilia da última sexta-feira, em 24 estados do país, e no Distrito Federal, revela – de modo inequívoco – que há também uma rede supranacional, envolvida em abusos de crianças e adolescentes, alimentada pela divulgação fácil de imagens dos crimes pela internet.
Prova-se que crianças e famílias são ou serão vítimas. Há muitos jeitos e maneiras de fazer o mal aos que recém-ingressaram na vida ou dão passos na infância e adolescência. Os criminosos presos agora foram 108, mas centenas permanecem soltos certamente, neste país grande até em crueldade.
Em Nazaré, a que voltara, há muitíssimos anos, Jesus recomendou: “Deixai vir a mim as crianças e não as impeçais, porque delas é o Reino de Deus. Em verdade, vos digo que qualquer que não receber o Reino de Deus como criança, de maneira nenhuma, nele entrará”.
Por Manoel Hygino dos Santos, 1° tesoureiro da Academia Mineira de Letras, ocupa a cadeira nº 23.