RUI MOURÃO, QUE FALTA FARÁS, AMIGO

Rui e o Museu, histórica simbiose de um homem e uma instituição, no tempo e no espaço, indeléveis. Seja dos labores, inquietudes, dos acalantos avassalados dos encontros, eis os contrapontos de algo a resvalar fábulas: as humanas, régias de preciosismos, quando há essa partita absoluta das esteiras incólumes.

Rui, desse calar, são tantos e muitos: o artista, romancista, articulista, o historiador, a calma revoltosa de um ser inquieto, intelectual do prumo e da fantasia, todavia o mestre do rigor, milimétrico e ascético, esse exemplar da retidão que se vê na diária e insana métrica de anos, décadas subindo e descendo ônibus em horas precisas, em estradas imprecisas.

E lá vai ele, insidioso, o mesmo terninho escuro de sempre, indo e vindo, trazendo tormentas de febris personagens surreais, a assentar-se calmo nos pilares da historicidade, recíproca, retilínea: – do seu caráter e isenção, desse modo de ser que é tudo num só instante, belo e mágico, altaneiro de um homem único perante seu próprio destino.

Que falta farás, amigo! Onde estarão os ruis da vida, dessa interposição entre nós e os enlevos, entre nós, os verbos e os silêncios? Não, não mais te veremos, o silente andante das ruas ouro-pretanas, o que vê, contempla, respira, congraça e administra: ora te veremos nas falas equidistantes do solo amplificado de uma não fala, vazios de uma só lágrima, essa que nos pulsa e adormece, de tristezas, de saudades.

Obrigado, Rui, tu nos fazes melhores e nos mostras que a simplicidade incide na vara principal de nossa válida conduta, como entes, em esperança, subsídios e o porvir de nós mesmos. Tu deixas a Praça, para entrar no seio angular das pirâmides desvanecidas, e ser, doravante, cerne e esfera, documento de si, história de uma autopaixão, memória de sua honrada existência, junto às margens excelsas da amada Elza. É tudo tão comovente, a sagração de um homem. Tanto quanto as talhadas pedras do Museu são essas as estrelas que se iluminam à tua eternidade…

Ouro Preto, 5/10/17

Carlos Bracher, ocupante da cadeira nº 32 da Academia Mineira de Letras.